Contas Públicas

"Ciclo de boas surpresas orçamentais pode ter chegado ao fim", avisa CFP

Nazaré Costa Cabral, presidente do Conselho das Finanças Públicas
Nazaré Costa Cabral, presidente do Conselho das Finanças Públicas

O exercício orçamental do próximo ano “vai ser mais difícil”, avisa Nazaré Costa Cabral, presidente do CFP, que está a ser ouvida esta quinta-feira no Parlamento sobre a proposta do Orçamento do Estado para 2024

Os resultados orçamentais alcançados por Portugal têm surpreendido pela positiva, com o saldo das contas públicas apurado em cada ano a ser melhor do que o previsto no respetivo Orçamento do Estado. Mas, “o ciclo de boas surpresas orçamentais pode ter chegado ao fim”.

O aviso é de Nazaré Costa Cabral, presidente do Conselho das Finanças Públicas (CFP), que está a ser ouvida esta quinta-feira na Comissão de Orçamento e Finanças do Parlamento, no âmbito da discussão da proposta do Orçamento do Estado para 2024 (OE 2024).

Isto porque “as folgas que notávamos noutros exercícios parecem estar a esgotar-se”, vincou Nazaré Costa Cabral, alertando que o exercício orçamental para o próximo ano, previsto na proposta do OE 2024, “vai ser mais difícil".

A explicação está em terem sido “criadas restrições associadas à alterações no IRS e à despesa com pessoal", que significam um ”espartilho", tornando “mais condicionada a execução do orçamento”, salientou a presidente do CFP.

Nazaré Costa Cabral reforçou que “a execução orçamental vai ser mais difícil”, notando que ”a margem de manobra no orçamento é pequena".

Falando sobre as alterações fiscais previstas na proposta do OE 2024, a presidente do CFP considerou que a “veleidade de querer reduzir certos impostos, sem alterações no lado da despesa, e tendo o objetivo de manter um excedente orçamental, obriga a que sejam sacrificados os impostos indiretos”.

Na sua intervenção, Nazaré Costa Cabral já tinha notado um “agravamento da carga fiscal” para 2024. Recusou-se, contudo, a comentar a polémica em torno do agravamento do Imposto Único de Circulação, considerando serem “opções políticas”.

O Orçamento do Estado para 2024 prevê um excedente das contas públicas de 0,2% do PIB. Mas, o exercício realizado pelo CFP, com base nas medidas incluídas no documento, aponta para um resultado orçamental mais modesto, “nas franjas do saldo nulo”, disse a presidente do CFP.

Recorde-se que nos últimos anos, os resultados orçamentais têm sido melhores do que o previsto nos orçamentos. O OE 2023, por exemplo, apontava para um défice de 0,9% do Produto Interno Bruto (PIB). Mas, na proposta do OE 2024, o Governo reviu esse valor para um excedente de 0,8% do PIB. E o CFP aponta para um superavit ainda mais robusto, de 1% do PIB.

A discussão da proposta do OE 2024 prossegue no Parlamento, na especialidade, apesar da demissão já anunciada do primeiro-ministro, António Costa. Caberá ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, esclarecer se a discussão do documento seguirá ao seu caminho até ao fim, estando a votação final global agendada para o final deste mês de novembro.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: slourenco@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate