"Positivo". Foi assim que o comissário Paolo Gentiloni classificou o cenário traçado pela Comissão Europeia para a economia portuguesa este ano. Questionado pelos jornalistas, na conferência de imprensa de apresentação das projeções económicas de primavera da Comissão Europeia (CE), Gentiloni salientou que "o crescimento de 2,4% [projetado por Bruxelas para Portugal] é o dobro da média da União Europeia".
Outro destaque foi para as finanças públicas nacionais. O comissário com a pasta da Economia frisou que “o saldo orçamental é melhor do que o de outros Estados-membros”, apesar das medidas “com impacto orçamental significativo" tomadas para mitigar a subida dos preços da energia. O italiano lembra que este ano “14 Estados-membros deverão ter um um défice superior à famosa fasquia dos 3% do PIB”, mas contrapõe que "não é o caso de Portugal".
Longe disso. Bruxelas prevê que o défice das contas públicas este ano fique pelos 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB), uma previsão melhor do que a do Governo. No Programa de Estabilidade, apresentado em abril, a equipa do ministro das Finanças, Fernando Medina, inscreveu um défice para este ano de 0,4% do PIB, em linha com o défice de 2022.
Mais ainda, segundo as projeções de Bruxelas, só dois países da zona euro terão um saldo orçamental mais favorável do que Portugal este ano: Irlanda e Chipre, com excedentes de 1,7% e de 1,8% do PIB respetivamente.
Na análise a Portugal, Bruxelas nota, contudo, o declínio do poder de compra das famílias nos últimos trimestres, penalizado pela inflação e pela subida das taxas de juro. Uma contradição com o cenário macroeconómico positivo traçado?
Para Gentiloni, “a contradição está na realidade”. Explica que se prevê um crescimento mais forte dos salários em 2024, "mas que este ano esse crescimento não foi suficiente para manter o poder de compra face à inflação".
Neste contexto, o comissário reconhece que há uma dimensão social a ter em conta, mas deixa ao mesmo tempo um aviso à navegação em Portugal: "É preciso evitar um crescimento dos salários que alimente uma espiral inflacionista".
O que fazer, então? Gentiloni lembrou que "vários países, incluindo Portugal, adotaram medidas para apoiar o poder de compra das famílias, como a isenção do IVA em bens essenciais, e o aumento das pensões e dos salários da função pública. E notou que "nalguns sectores onde se verificou forte procura que tinha sido reprimida havia espaço nas margens de lucro para acomodar um aumento dos salários". Mas essa margem, alerta, "pode estar a diminuir".
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