Economia

Governo afastou Ricardo Arroja da AICEP por "falta de adaptação ao cargo"

Governo afastou Ricardo Arroja da AICEP por "falta de adaptação ao cargo"

Saída do economista custou mais de 60 mil euros e abriu debate no Parlamento sobre a gestão da agência e a escolha da nova presidente

O Governo afastou Ricardo Arroja da presidência da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) por “falta de adaptação ao cargo”, afirmou esta terça-feira no Parlamento o ministro da Economia e Coesão Territorial, realçando que nunca estiveram em causa as competências técnicas do economista.

Manuel Castro Almeida explicou que o exercício da presidência exige uma “grande disponibilidade, presença física, proximidade às empresas - em Portugal e no estrangeiro - e capacidade para mobilizar e incentivar as equipas”. E Ricardo Arroja não conseguiu provar uma “adaptação àquele concreto local de trabalho”.

O governante rejeitou que a decisão tivesse motivações político-partidárias e sublinhou que a escolha da nova presidente, Madalena Oliveira e Silva, recaiu sobre uma dirigente “da casa”, com três décadas de experiência, “profundo conhecimento do setor e forte ligação às empresas”: “É uma pessoa muito respeitada internamente e no meio empresarial”, disse, acrescentando que o objetivo do Governo é acelerar o ritmo de trabalho da agência.

A nomeação, porém, não escapou a polémica. Os deputados questionaram a eventual ligação de Madalena Oliveira e Silva à Operação Maestro, investigação que detetou irregularidades na execução de incentivos concedidos pela AICEP. Mas o ministro garantiu que a responsável não tinha funções na verificação da aplicação dos apoios, área onde foram identificadas as falhas, mas apenas na fase de atribuição.

Contudo, a auditoria encomendada pelo Governo à Agência para o Desenvolvimento e Coesão (AD&C),a que o Expresso teve acesso, sugere que ao longo dos anos (2015-23) houve projetos cujos critérios de elegibilidade não foram devidamente avaliados ou projetos que saíram do plano original sem cumprir todos os requisitos. Responsabilidades da Direção de Incentivos e não da Direção de Verificação de Incentivos.

A oposição não deixou de criticar os custos do afastamento de Ricardo Arroja. O PS considerou a sua nomeação inicial “um erro colossal” e destacou que a saída implicou mais de 60 mil euros em indemnizações, valor previsto por lei para gestores públicos afastados após um ano em funções. Já o Chega classificou a decisão como um “desperdício de dinheiro público”, lembrando que a indemnização poderia ter sido evitada se a exoneração tivesse ocorrido algumas semanas antes.

A audição parlamentar também deu palco às críticas sobre os resultados económicos. O PS lembrou que, em julho, as exportações caíram 11,3% e alertou que a instabilidade na liderança da AICEP poderá prejudicar a estratégia de internacionalização das empresas portuguesas. Mas Castro Almeida garantiu que a nova presidência inspira confiança aos investidores e aos empresários e que é prioridade do Governo aumentar as exportações.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mcdias@expresso.impresa.pt

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