Economia

Inflação na zona euro acelera para 2,6% em maio e Portugal regista a terceira taxa mais alta

Inflação na zona euro acelera para 2,6% em maio e Portugal regista a terceira taxa mais alta
Rui Duarte Silva

A inflação no conjunto da área do euro aumentou em maio para 2,6%, segundo a estimativa rápida do Eurostat, o organismo de estatísticas da União Europeia, publicada esta sexta-feira. A aceleração deveu-se, sobretudo, à subida significativa da inflação nos serviços, que registou 4,1%, o nível mais alto desde dezembro de 2023. Bélgica, Grécia e Portugal registaram as taxas de inflação mais elevadas

Os analistas já esperavam alguma aceleração da inflação em maio e o Banco Central Europeu já tinha avisado que a trajetória dos preços no consumidor iria ter ‘solavancos’ em 2024. O Eurostat confirmou, esta sexta-feira, que a inflação em maio na zona euro acelerou para 2,6%, depois de ter registado 2,4% em março e abril, segundo a estimativa rápida publicada pelo organismo de estatísticas da União Europeia.

A maior aceleração registou-se na componente dos serviços, com a inflação a subir de 3,7% em abril para 4,1% em maio, o nível mais alto desde dezembro do ano passado. Também, a inflação subjacente - que exclui as componentes mais voláteis do índice de preços - acompanhou a aceleração, com uma subida de 2,7% em abril para 2,9% em maio.

Estas variações dizem respeito à variação dos preços em termos homólogos, ou seja, em relação ao mesmo mês do ano anterior.

Diversidade da dinâmica inflacionista na zona euro

As trajetórias de inflação na zona euro continuaram em maio a revelar uma enorme heterogeneidade do ciclo inflacionista nos 20 membros do euro. Metade das economias do euro registaram níveis de inflação acima da média de 2,6% para o conjunto da zona euro. Nesse grupo incluem-se Alemanha (2,8%), Áustria (3,3%), Espanha (3,8%) e França (2,7%), entre as maiores economias.

Bélgica aproximou-se de 5% em maio. A Croácia registou uma inflação de 4,3% e Portugal foi a terceira economia do euro com mais alta taxa de inflação, subindo para 3,9%, segundo o Índice Harmonizado de Preços no Consumidor usado pelo Eurostat. Segundo a estimativa do Instituto Nacional de Estatística em Lisboa, a inflação subiu de 2,2% em abril para 3,1% em maio. As taxas mais baixas registaram-se, em maio, na Letónia (0,2%) e Finlândia (0,5%).

BCE deverá cortar juros na próxima quinta-feira

Independentemente dos ‘solavancos’ - como lhe chamou Christine Lagarde - da trajetória da inflação na zona euro em 2024, há um consenso entre os banqueiros do euro para um primeiro corte de juros na reunião de 6 de junho. O Banco Central Europeu (BCE), depois de um ciclo de subida dos juros de julho de 2022 a setembro de 2023, vai decidir, na próxima semana, o primeiro corte das taxas desde março de 2016.

No entanto, o BCE não se vai comprometer com nenhuma estratégia para as quatro reuniões seguintes até final do ano. “O BCE não vai mudar para piloto automático” depois do primeiro corte em junho, sublinhou o governador do Banco da Letónia, Martins Kazaks, o último dos membros do sistema do BCE a proferir declarações antes do período de black out de intervenções públicas antes das reuniões de política monetária.

O BCE tem agendadas as reuniões seguintes de política monetária para 10 de julho, 12 de setembro, 17 de outubro e 12 de dezembro. Klaas Knot, governador do banco central dos Países Baixos, referiu, esta semana, que “o calendário preciso, a velocidade e a dimensão [dos cortes] seguirão uma abordagem reunião a reunião com novas projeções macroeconómicas como ingrediente fundamental”. Depois das novas projeções que vão ser apresentadas na reunião de quinta-feira, o BCE volta a atualizá-las para as reuniões de setembro e dezembro.

Os mercados de futuros apontam para uma taxa de remuneração dos depósitos dos bancos comerciais no final do ano em 3,28%, o que não garante sequer mais dois cortes até final do ano depois da descida a 6 de junho

Segundo o portal Macromicro, os mercados de futuros apontam para uma taxa de remuneração dos depósitos dos bancos comerciais no final do ano em 3,28%, o que não garante sequer mais dois cortes até final do ano depois da descida a 6 de junho. No entanto, os analistas ouvidos pela Bloomberg esta semana apostam em cortes dos juros em junho, setembro e dezembro. Os economistas do Commerzbank projetam que a taxa de remuneração desça dos atuais 4% para 3% em abril de 2025.

Enquanto as taxas do BCE se mantiverem acima da inflação média na zona euro, o BCE não considera que esteja já a “normalizar” a política monetária, mas apenas a reduzir o seu carácter “restritivo” que se manterá ainda por um período mais longo do que o inicialmente previsto.

Recorde-se que os mercados de futuros têm utilizado como taxa de referência no caso do BCE a taxa de remuneração dos depósitos do sector bancário comercial nos cofres do sistema de bancos centrais do euro, em vez da taxa de refinanciamento (que está atualmente em 4,5%). No caso dos outros bancos centrais das economias desenvolvidas, os mercados tomam como referência a taxa de refinanciamento. A taxa de remuneração dos depósitos, no caso do BCE, condiciona os incentivos para um maior ou menor crédito à economia real, consoante é mais baixa ou mais alta. Quanto mais alta - atualmente está no máximo histórico de 4% - mais incentiva ao ‘parqueamento’ da liquidez excedentária dos bancos comerciais nos cofres do sistema do BCE, e mais desincentiva o financiamento da economia real - um dos objetivos da austeridade monetária.

Os mercados de futuros antecipam que a taxa da Euribor a 3 meses - uma referência para o crédito, em particular às famílias para a aquisição de habitação - desça dos atuais 3,8% para 3,4% no final deste ano e se fixe abaixo de 3% em dezembro do próximo ano.

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