“Não vamos fazer um retrato catastrófico do sector agrícola francês”. É esta a frase do presidente Emmanuel Macron em destaque na imprensa francesa depois dos confrontos entre agricultores e polícia que marcaram a abertura do 60º Salão Agrícola, em Paris.
Os confrontos entre algumas dezenas de agricultores que entraram no recinto do parque de exposições sem autorização para mostrar a sua revolta, pedindo a demissão de Macron, e a polícia acabaram por atrasar durante mais de hora e meia a abertura do certame ao público.
No meio da tensão, o presidente francês apelou à calma, desistiu da inauguração oficial do certame e acabou por participar num debate improvisado com representantes dos agricultores, assumindo “preferir sempre o debate ao confronto”.
“A agricultura francesa continua forte”
Macron, que teve de suspender um outro debate, agendado para este sábado, no mesmo local, com agricultores, indústria agroalimentar e retalho depois dos sindicatos do sector agrícola se terem recusado a participar e “colaborar na mascarada”, reconheceu “dificuldades setoriais".
Mas considera errado dizer que o mundo agrícola está “a desmoronar”. Há pessoas que estão em grandes dificuldades”, mas “não devemos pintar um retrato catastrófico da nossa agricultura”, “a agricultura francesa continua forte, produz e exporta”, afirmou o presidente francês, citado pela comunicação social neste debate improvisado.
O presidente francês pediu, também, que seja reconhecido “o direito de errar” para os agricultores que denunciam o excesso de controlos administrativos nas suas explorações agrícolas. “Colocamos tantos controles sobre vocês que perderam o controlo sobre a vossa produção", assumiu, “Tem de haver espaço para erros”, disse Macron ponto a defender, também, a “simplificação administrativa” e uma França “onde os agricultoras possam viver dos seus rendimentos”.
Neste debate que durou cerca de duas horas, Macron ouviu queixas dos agricultores, tirou notas, tentou responder às questões, às vezes com dificuldade, entre protestos, perguntou onde é que na Europa “há um chefe de Estado ou de Governo a dialogar assim com os agricultores e a assumir compromissos?”, conta o Le Monde.
A garantia do preço mínimo
Uma das garantias que deixou foi a fixação de um mínimo para cada fileira. “Haverá um preço mínimo, um preço limite abaixo do qual o transformador não pode comprar e o distribuidor não pode vender”, prometeu Macron depois de recordar os “três grandes objetivos” para responder à crise agrícola: “assumir a responsabilidade de produzir”, “proteção dos solos, das colheitas, dos agricultores e do consumidor” e “enfrentar a transição demográfica e a chegada prevista de 200 mil jpvens nos próximos 5 a 10 anos”.
Do lado dos agricultores, as perguntas e queixas foram muitas, das consequências da guerra na Ucrânia, à simplificação administrativa, à ecologia que muitos consideram “punitiva”, ou à remuneração do sector. E h críticas como as de Dominique, citado pela France 24: “Tenho 68 anos e nunca vi nada assim. Um presidente a conseguir uma unanimidade total contra ele e a ter todos os sindicatos de acordo. É inédito”, diz.
Os protestos dos agricultores a exigir mais rendimentos e menos burocracia, contra a concorrência desleal das importações, têm-se multiplicado por vários países da Europa, Portugal incluído.
O salão agrícola de Partis é um dos grandes eventos do sector em França, onde deve atrair 600 mil visitantes ao longo de 9 dias.
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