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Canais de denúncia nas empresas: a contragosto e a passo de caracol

Canais de denúncia nas empresas: a contragosto e a passo de caracol

Entidades com mais de 50 trabalhadores obrigadas a ter linhas de denúncia, mas poucas as têm e valorizam. Falta fiscalização e culturas de gestão e de participação

Canais de denúncia nas empresas: a contragosto e a passo de caracol

Pedro Lima

Editor-adjunto de Economia

Há quase 15 anos que a Auchan tem uma linha de denúncias onde funcionários e fornecedores podem fazer chegar queixas sobre o funcionamento da empresa de distribuição. “Muito residuais” no início, chegados a 2023 atingem uma média de 2,6 alertas por semana, diz, com ar de triunfo, Bruno Cardoso, diretor jurídico e compliance officer na Auchan Portugal. “As denúncias crescerem é bom, é ótimo”: mostram trabalhadores comprometidos com a organização e dão à empresa capacidade de melhorar os procedimentos internos, garante em conversa com o Expresso. Ouvir um gestor a falar com satisfação do crescimento das denúncias como se de resultados financeiros se tratassem, não sendo caso único, é exemplo raro. Mais de um ano após a entrada em vigor da lei que obriga as entidades com mais de 50 funcionários a promoverem estes canais, são ainda poucas as que cumprem e menos as que o fazem com convicção. A solução é continuar o caminho e, à moda portuguesa, esperar por um escândalo público que deixe todos de sobreaviso, dizem os especialistas.

As linhas de denúncia estão longe de ser uma novidade. Depois das falências de gigantes como a Enron e a WorldCom e, com mais intensidade, após a crise financeira, dos escândalos de lavagem de dinheiro no Danske Bank à espetacular queda de Carlos Ghosn na Nissan, da UBS ao HSBC, generalizaram-se os chamados “sistemas de comunicação de irregularidades”. Trata-se de “linhas de ética” às quais os trabalhadores podem recorrer para denunciar suspeitas de condutas que possam lesar o interesse público ou da empresa. O sector financeiro e entidades sujeitas à prevenção do branqueamento de capitais são obrigados a tê-las há anos. As empresas cotadas em Bolsa, não sendo obrigadas, adotaram-nas, embora em alguns casos apenas formalmente (ver texto à direita). E no ano passado, impulsionado por uma diretiva europeia, o que era sobretudo facultativo passou a ser obrigatório. Em que pé estamos?

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: emiranda@expresso.impresa.pt

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