O presidente do Eurogrupo, Paschal Donohoe, afasta um cenário de recessão em Portugal pela "boa forma" das finanças públicas portuguesas, considerando que a economia do país está "muito bem posicionada" para enfrentar um crescimento mais baixo após "progressos notáveis".
"Apesar de termos tido uma guerra na Europa [na Ucrânia], apesar de termos estado na linha da frente da forte subida dos preços, o que se verificou em muitas economias, incluindo a economia de Portugal, foi um crescimento mais baixo [...], mas porque as vossas finanças públicas estão em boa forma e porque a vossa dívida pública tem sido muito bem gerida, acredito que a economia portuguesa está muito bem posicionada para evitar uma recessão", afirmou Paschal Donohoe, em entrevista à agência Lusa em Bruxelas.
"De facto, estou razoavelmente confiante de que as perspetivas para a zona euro e para Portugal continuam a ser de crescimento", insistiu o líder do grupo informal da moeda única, quando confrontado com recentes dados como a queda de 0,2% no Produto Interno Bruto (PIB) português no terceiro trimestre deste ano em relação aos três meses anteriores.
Ressalvando que "ninguém pode dar garantias" de que não haverá uma recessão, dado o contexto geopolítico, Paschal Donohoe disse ainda assim "reconhecer que as finanças públicas e a economia [de Portugal], em geral, estão em boa forma e têm a capacidade de ultrapassar estes desafios".
"Penso que a economia portuguesa fez progressos notáveis nos últimos anos. Se olharmos para os desafios com que os portugueses se confrontaram há alguns anos, com as finanças públicas em dificuldades, com uma economia que não estava a crescer tão rapidamente como desejavam e, se olharmos para a situação atual [...], temos um excedente orçamental e temos uma economia que está a crescer bem", comentou o responsável.
Nas previsões económicas de outono da Comissão Europeia, publicadas em meados de novembro, foi previsto um crescimento do PIB português de 2,2% em 2023, de 1,3% em 2024 e de 1,8% em 2025.
As previsões do executivo comunitário comparam com as do Ministério das Finanças, que apontam para um crescimento de 2,2% este ano e de 1,5% em 2024.
PRR: Portugal “empenhado” apesar da crise política
Na mesma entrevista, o presidente do Eurogrupo sublinha que Portugal "está muito empenhado" na execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que trará "enormes oportunidades à economia portuguesa", não comentando eventuais impactos da crise política no país.
"O que eu sei é que o atual Governo está muito empenhado na execução do PRR e a razão pela qual esse plano é tão importante é porque pode ajudar economias como a portuguesa, que precisam de avançar em direção a um futuro mais verde", declarou Paschal Donohoe, em entrevista à agência Lusa em Bruxelas.
Vincando que "há enormes oportunidades à espera da economia portuguesa para fazer ainda mudanças para uma energia com menos carbono", o responsável classificou o Mecanismo de Recuperação e Resiliência, que financia os PRR, como "uma iniciativa importante, não só para Portugal, mas também para a Europa".
Confrontado com a situação de crise política em Portugal, Paschal Donohoe escusou-se a comentá-la, optando antes por "reconhecer o progresso que a economia de Portugal tem feito" e dizer que, "se esse progresso continuar no futuro, [...] isso poderá ter um impacto muito positivo no nível de vida, no investimento e no crescimento futuro".
Com a recente alteração para ter em conta a elevada inflação e o impacto da guerra, o PRR português ascende agora a 22,2 mil milhões de euros em subvenções e empréstimos e abrange 44 reformas e 117 investimentos.
Donohoe confiante num acordo sobre regras do défice e dívida
Donohoe diz confiar num acordo ainda este ano sobre as regras orçamentais, com tetos para a dívida pública e défice, esperando "um equilíbrio adequado" entre os países que exigem prudência e os que querem flexibilidade.
"As regras orçamentais terão, naturalmente, um impacto em Portugal e em quase todas as outras economias, mas acredito que a direção que estamos a seguir vai permitir um equilíbrio adequado entre reduzir os empréstimos que podem ser desnecessários, mas também dar aos países a capacidade de investir no seu futuro", afirmou Paschal Donohoe, em entrevista à agência Lusa, em Bruxelas.
Após várias horas de discussão esta semana sobre a reforma do quadro da governação económica, num debate que se arrasta há vários meses, o líder do grupo informal dos países da moeda única insistiu estar "confiante de que se chegará a um acordo".
"Penso que nos falta mais uma reunião para chegarmos a esse acordo, em mais alguns dias de discussão, mas acredito que o conseguiremos", acrescentou.