A subida dos juros pela Reserva Federal norte-americana (Fed) desde março do ano passado já cumpriu uma parte da sua missão. “Os juros reais estão agora em território positivo”, chamou a atenção esta quarta-feira Jerome Powell, o presidente da Fed. Em suma, a taxa diretora do banco central já é claramente restritiva em relação à economia.
Em conferência de imprensa após a divulgação da decisão unânime de aumentar esta quarta-feira os juros em 25 pontos-base (um quarto percentual), o responsável pelo banco central dos Estados Unidos destacou que os juros da Fed - atualmente no intervalo entre 5,25% e 5,5% - já são superiores à inflação registada (em junho desceu para 3%). Os juros reais são calculados deduzindo a inflação à taxa diretora. A inflação média anual prevista para 2023 pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para os EUA situa-se em 4,4%, inferior à prevista para a zona euro (5,2%). Com a taxa diretora, no seu limite superior, já em 5,5%, o diferencial com a inflação é já significativo.
Para a economia em geral, e para as famílias e as empresas que necessitam de recorrer ao crédito, a taxa do banco central já tem claramente um impacto restritivo. O que ainda não acontece na zona euro, onde a taxa diretora do Banco Central Europeu (BCE) poderá subir para 4,25% na reunião de quinta-feira. O FMI prevê uma inflação média anual na zona euro em 2023 de 5,2%. Os juros do BCE ainda não estão em território restritivo.
A economia tem de arrefecer ainda mais, mas sem recessão
A economia norte-americana está melhor do que previam os banqueiros da Fed na reunião de junho, quando optaram por uma pausa na subida dos juros. O comunicado oficial da reunião desta quarta-feira substitui a classificação do ritmo de crescimento de “modesto” para “moderado”.
Em junho, os economistas da Fed puseram de lado um cenário de recessão nos EUA este ano e o presidente Powell agarrou-se à ideia de que a economia vai ter uma “aterragem suave”, apesar do aperto monetário. Powell manteve esta quarta-feira este prognóstico, mas acrescentou que, no mercado laboral, é preciso mais algum arrefecimento. “O mercado laboral está a abrandar e a arrefecer gradualmente, e isso é uma boa prescrição para onde queremos chegar. Os salários nominais têm vindo a descer gradualmente e é o que queremos ver. Queremos ver mais disso”, frisou o chefe dos banqueiros centrais.
Um cenário de recessão ou mesmo de estagnação nos Estados Unidos não é comtemplado pelo FMI na sua atualização de previsões publicada esta semana. Os economistas do Fundo reviram em alta, em duas décimas, a previsão de crescimento para 2023. O crescimento deverá ser de 1,8%, o dobro do que se prevê para a zona euro, e mais do que a média para as economias desenvolvidas (1,5%).
A fatura poderá vir no próximo ano, segundo as projeções do Fundo. A economia norte-americana deverá desacelerar para 1%, um ritmo inferior ao da zona euro (1,5%). Excluindo os anos de 2001 (a seguir ao rebentar da bolha da dot-com e no ano dos atentados do 11 de setembro), de 2008 (de crise financeira) e de 2020 (grande recessão provocada pela pandemia), o ritmo projetado para 2024 será o mais baixo num quarto de século.
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