Economia

Comissão de Trabalhadores da Meo quer conhecer "culpabilidade" e punições para trabalhadores suspensos de funções após investigações

Patrick Drahi (segundo a contar da esq.) tem-se vindo a afastar do acionista e cofundador da Altice, Armando Pereira (segundo a contar da dir.), que deixou de ser acionista da operadora. Alexandre Fonseca (primeiro à esq.), o braço-direito do investidor português, está com as funções suspensas
Patrick Drahi (segundo a contar da esq.) tem-se vindo a afastar do acionista e cofundador da Altice, Armando Pereira (segundo a contar da dir.), que deixou de ser acionista da operadora. Alexandre Fonseca (primeiro à esq.), o braço-direito do investidor português, está com as funções suspensas
Rui Duarte Silva

Comissão de Trabalhadores pretende ter um papel ativo nas investigações internas aos negócios sob suspeita da Altice Portugal que já levaram à suspensão e licença de alguns quadros de topo como é o caso de Alexandre Fonseca e João Zúquete

A Comissão de Trabalhadores da Meo, empresa da Altice Portugal, quer saber quais as razões e consequências da alegada culpabilidade dos trabalhadores suspensos de funções ou de licença visados na auditoria interna a compras aos fornecedores, caso venha a provar-se que existiu dolo ou negligência, foi anunciado esta segunda-feira, em comunicado.

Em comunicado, a CT refere que deve ser dada a esta estrutura representativa dos trabalhadores "oportunidade para intervir nos detalhes" da auditoria interna "a todas as compras aos fornecedores alegadamente envolvidos num esquema lesivo à Altice Portugal", dona da Meo.

Recorde-se que na sequência das investigações em curso o co-fundador e ex-acionista da Altice, Armando Pereira e Hernâni Vaz Antunes, seu parceiro de negócios, estão em prisão domiciliária. E o ex-presidente executivo, Alexandre Fonseca, assim como o administrador financeiro, João Zúquete, têm as funções suspensas.

"Visados nessa auditoria e/ou consequência da mesma, à CT devem ser indicadas as razões objetivas da alegada culpabilidade dos trabalhadores suspensos de funções (ou de licença)", para que possa medir o "alcance destas ações e quais as direções, departamentos e equipas que estão a ser monitorizados, neste momento", defende a Comissão de Trabalhadores.

Provando-se dolo ou negligência, CT quer que punições sejam públicas


A CT adianta ainda que, caso se verifique responsabilidade dos envolvidos, independentemente do grau de exposição dos mesmos e as funções desempenhadas, pretende "saber que tipo de ações pretende a empresa aplicar a esses e essas trabalhadores/as, provando-se dolo e/ou negligência".

No comunicado, a CT refere que está disponível para colaborar com as investigações do Ministério Público "na medida da limitação do conhecimento dos factos apurados e que interessem à investigação", e sublinha que está igualmente interessada em avaliar quais os 'remédios' que a administração "estará a considerar para o futuro, na medida em que a solvabilidade da empresa e a manutenção dos milhares de postos de trabalho não poderão estar em causa".

"Interessa, portanto, aferir o valor global em que a Altice foi penalizada - e por arrasto, a Meo", lê-se no mesmo comunicado, que adianta também que terá de ser claro se a administração tem "alguma estratégia para reaver o valor alegadamente 'perdido' e qual o reforço dos capitais próprios previstos para a consolidação da empresa".

A CT aproveita também para referir que terá em conta as conclusões da investigação e que não exclui a possibilidade de agir judicialmente contra os alegados autores dos crimes e a Meo ser ressarcida dos prejuízos, caso haja enquadramento legal para tal.

A "operação Picoas", desencadeada em 13 de julho, levou a várias detenções, entre as quais a do cofundador do grupo Altice Armando Pereira, contou com cerca de 90 buscas domiciliárias e não domiciliárias, incluindo a sede da Altice Portugal, em Lisboa, e instalações de empresas e escritórios em vários pontos do país, segundo o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) do Ministério Público (MP). Esta foi uma ação conjunta do MP e da Autoridade Tributária (AT).

Em causa, alegadamente, está uma "viciação do processo decisório do grupo Altice em sede de contratação, com práticas lesivas das próprias empresas daquele grupo e da concorrência", que apontam para corrupção privada na forma ativa e passiva.

As autoridades consideram que a nível fiscal o Estado terá sido defraudado numa verba "superior a 100 milhões de euros".

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