Economia

FMI prevê recessão com inflação alta na Alemanha

Olaf Scholz
Olaf Scholz
Omer Messinger / Getty Images

A economia alemã deverá registar em 2023 uma contração de 0,3% em simultâneo com uma inflação subjacente acima de 6%, segundo as previsões do Fundo Monetário Internacional publicadas esta segunda-feira

As previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a maior economia da zona euro são pessimistas. Em 2023, o PIB da Alemanha deverá cair 0,3% e a inflação subjacente (excluindo as componentes mais voláteis) deverá situar-se em 6,2%, agravando o ritmo inflacionista, segundo a análise anual feita à economia germânica ao abrigo do Artigo IV da organização. O relatório do FMI foi publicado esta segunda-feira em Washington.

Os economistas do Fundo agravaram a previsão de recessão em relação ao que tinham avançado no World Economic Outlook (WEO) em abril, onde a previsão apontava para uma recessão muito ligeira de 0,1%. O contraste é flagrante em relação às previsões do governo de Olaf Scholz apresentadas em final de abril no Plano de Estabilidade 2023-2027 enviado para Bruxelas e da própria Comissão Europeia (Previsões de Primavera). Berlim e Bruxelas previam um crescimento à tangente de 0,2%.

Não é estagflação, é pior

Os economistas criaram a palavra estagflação para caracterizar a situação em que uma economia está com crescimento zero (estagnação) e em simultâneo vive um surto inflacionista. A previsão para a Alemanha em 2023 é pior do que essa conjugação.

Apesar de ter revisto ligeiramente em alta a previsão de crescimento para 2024 - de 1,1% em abril para 1,3% agora -, o FMI avisa que espera que o crescimento anual no médio prazo fique abaixo de 1%, devido ao envelhecimento populacional, à ausência de melhoria significativa na produtividade e no mercado de trabalho e à fragmentação da economia global que é esperada em virtude do agravar das tensões geopolíticas.

Nas projeções do Plano de Estabilidade apresentado a Bruxelas, o governo prevê um crescimento médio em torno de 0,9% entre 2025 e 2027. Para a ‘locomotiva’ da zona euro é um horizonte medíocre.

A previsão para a inflação este ano foi corrigida em baixa, de 6,2% (no WEO de abril) para 5,8% agora, mas a dinâmica da inflação subjacente é preocupante. Não só será superior à inflação global, como acelerará em relação à registada no ano anterior: de 5% em 2022 para 6,2% em 2023.

FMI não prevê défice abaixo de 3%

O ministro das Finanças alemão Christian Lindner prevê conseguir reduzir o défice orçamental já este ano para menos de 3%, apontando, agora, para 2,3%. Os economistas do FMI avançam que o défice será de 3%.

Na dinâmica posterior, o governo germânico quer reduzir drasticamente o défice para 0,4% em 2024. A previsão do FMI aponta para 1,5%. Recorde-se que Portugal aponta para um défice de 0,4% este ano e de 0,2% no próximo ano chegando ao equilíbrio em 2026. As projeções do governo alemão no Plano de Estabilidade apontam para excedente apenas em 2027.

Na proposta de Orçamento para 2024 (que só será votada em dezembro), Lindner aponta para cortes de 146 mil milhões de euros em relação ao orçamento do ano passado nas rúbricas do défice e dos fundos de reconstrução e de estabilização económica. Apenas o fundo militar recebe um adicional de 11 mil milhões de euros. As amortizações de dívida sobem 70 mil milhões em relação ao ano passado e o Banco Central Europeu deixará de reinvestir 60 mil milhões de euros em títulos que tem em carteira e que vão vencer em 2024.

No campo da dívida, o FMI confirma que ela não descerá para 60% do PIB em 2024. Nas projeções do Programa de Estabilidade, o rácio não conseguirá chegar à linha vermelha dos 60% até 2026. Em 2019, tinha descido para 59,6%.

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