Economia

Há 25 economias em risco de recessão, segundo o 'termómetro' dos investidores em dívida pública

Getty Images
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Grandes economias como a Alemanha, Estados Unidos e México, num grupo de 25 países, registam uma anomalia na curva dos juros da dívida pública. Os economistas chamam-lhe ‘curva invertida’ e, em muitos casos no passado, antecipou crises económicas. Portugal está fora deste grupo

Uma anomalia nas curvas de juros da dívida pública assola 25 países no mundo, segundo o levantamento desta semana do portal financeiro World Government Bonds. Os economistas chamam-lhe ‘curva invertida’, porque os investidores exigem remunerações mais elevadas para os títulos de curto prazo do que para os de longas maturidades.

Essa perceção de risco próximo anteciparia uma crise económica num horizonte entre 6 a 18 meses, segundo o balanço histórico à maioria deste tipo de episódios invulgares no passado. Por isso, a curva invertida nos juros é encarada como um ‘termómetro’ de crise por muitos analistas e investidores.

A maioria das anomalias encontra-se na Europa, com a Alemanha à cabeça, e envolvendo 11 economias, das quais sete na União Europeia. Portugal está fora deste grupo. Um dos casos é excecional motivado pela invasão da Ucrânia pela Rússia. Para além da Alemanha, outras três grandes economias integram-se neste grupo da curva invertida: Canadá, Estados Unidos e México.

Algumas economias emergentes com curva invertida juntam uma situação de risco iminente de incumprimento de dívida (default) como nos casos do Egito, Paquistão e Sri Lanka, segundo o Council of Foreign Relations Sovereign Risk Index. No caso dos Estados Unidos, a ameaça de default está pré-anunciada pelo Tesouro para junho, se o Congresso norte-americano não chegar a um acordo sobre a subida do teto da dívida federal.

Inversão muito clara em grandes economias

No grupo de 25 países com a anomalia na curva dos juros da dívida, economias-chave no mundo, como a Alemanha, Canadá, Estados Unidos e México, registam inversões assinaláveis.

No caso da Alemanha, a maior economia europeia, os juros da dívida a 6, 9 e 12 meses situam-se acima de 3%, enquanto as taxas para os prazos a 2, 5, 10 e 20 anos estão abaixo de 3%. Nos EUA, a diferença é ainda maior: os juros a um, dois e 12 meses estão acima de 5%, enquanto as taxas para 5, 10 e 30 anos estão no patamar dos 3%. No Canadá, os juros de dívida a um mês até 2 anos estão acima de 4%, enquanto as taxas para 5, 10 e 30 anos estão no nível de 3%.

Nas maiores economias emergentes, como no caso do México, os juros a 3 meses estão em 12% e os a 10 anos em 9%. Na União Europeia, a Hungria, uma das economias emergentes europeias onde a curva invertida se regista, os juros a 3 meses estão acima de 14% e os a 10 anos estão quase em metade.

Os juros aqui referidos para as curvas dizem respeito às taxas no mercado secundário da dívida, designadas tecnicamente por yields. Neste mercado, os investidores transacionam entre si os títulos. No mercado primário, os Estados emitem dívida que os investidores oficiais (como os bancos centrais) e privados compram.

Curva invertida antecipou recessões na maioria dos casos

A atual anomalia de curva invertida dura já há 13 meses nos Estados Unidos, o país onde estes episódios invulgares estão mais estudados. Iniciou-se em abril do ano passado. No último meio século, o atual episódio é um dos dois mais longos desde 1978 (quando a curva se manteve invertida durante 21 meses, um recorde).

A história destes episódios nos últimos 50 anos nos EUA aponta para o seu papel antecipador de uma recessão subsequente. Segundo o levantamento feito pelo Current Market Evaluation, verificou-se em todos os casos desde 1973. Os mais recentes englobaram a curva invertida em 2000 seguida da crise de 2001 e novo episódio em 2006/2007 com a recessão a iniciar-se em dezembro de 2007 e estendendo-se por 2009. Entre maio de 2019 e fevereiro de 2020 voltou a verificar-se uma situação de anomalia na curva que acabaria por ser seguida por uma grande crise em 2022, ainda que, neste caso, os economistas apontem para o papel decisivo contracionista da pandemia da covid-19.

Um estudo mais longo nos EUA, desde 1900, publicado por Anu Gaggar, estratega da Commonwealth Financial Network, conclui que em 28 episódios de curva invertida acabaram por antecipar 22 crises subsequentes.

O Banco da Reserva Federal de Nova Iorque - um dos bancos do sistema da Reserva Federal norte-americana (Fed) - aponta para uma probabilidade de 68% na ocorrência de uma recessão a partir de abril do próximo ano.

No caso da Alemanha, a curva invertida regista-se desde novembro de 2022 e a Reuters já refere ser a maior desde 1992.

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