TAP: Humberto Pedrosa desconhecia a existência dos fundos Airbus em 2015, mas recusa que tenham existido irregularidades
Antonio Pedro Ferreira
Quando se tornou acionista da TAP, em 2015, Humberto Pedrosa não conhecia as negociações com a Airbus para a troca da frota, porque elas tinham sido conduzidas pelo seu sócio David Neeleman. E garantiu que os 226 milhões de dólares disponibilizados pela fabricante europeia ficaram na companhia quando ele saiu
"Não conhecia [os Fundos Airbus] porque a negociação foi feita pelo Sr. David Neeleman, mas não me parece que tenha havido alguma irregularidade", afirmou Humberto Pedrosa, antigo acionista da TAP e parceiro do acionista norte-americano, através da Atlantic Gateway, ouvido esta terça-feira, na Comissão Parlamentar de Inquérito à transportadora. E voltou a sublinhar, em reposta ao deputado da Iniciativa Liberal, Bernardo Blanco: "Não estava a par... Na altura, não sabia quanto custava um avião".
Pedrosa, que deixou a TAP no final de 2021, sem qualquer contrapartida neste negócio, começou a ser ouvido às 18h37, uma hora a meia depois do horário marcado devido a uma intensa discussão entre os partidos que levou até à possibilidade de demissão do presidente da CPI, Jorge Seguro Sanches. E pediu para o tratarem por Humberto. "Eu não sou Dr... Pode tratar-me por Humberto", disse a Bernardo Blanco.
Alegando que nada viu de "irregular" nas transações, lembrou que havia pareceres a avaliar os aviões e a garantir que a operação se podia fazer, nomeadamente da sociedade de advogados Vieira de Almeida, que considerou que a entrega de 226 milhões de euros em prestações acessórias podia ser considerada como capitalização, porque os fundos iam ficar na companhia por 30 anos.
"Foram feitos pareceres" que disseram que "estava tudo bem", assegurou. E se os aviões estivessem avaliados acima do valor de mercado, como tem sido dito, os lessors "certamente não financiavam os aviões". É um negócio que está sob investigação do Ministério Público.
Esclareceu, em resposta ao deputado do PCP, Bruno Dias, que aquilo que conhece do negócio da troca de frota de 12 A350 por 53 Neo feito com a Airbus é que a construtora "se prestou a ajudar a Atlantic Gateway, na capitalização da TAP, e que deu ao senhor Neeleman 226 milhões de dólares para capitalizar a companhia".
O empresário esclareceu que o que pagou inicialmente na TAP foram cinco milhões de euros, tendo colocado mais tarde em prestações acessórias 12,5 milhões de euros.
Salientou ainda que os 226,75 milhões de dólares que a AG usou para capitalizar a companhia ficaram na TAP. "O sr Neeleman não os levou. Eu não os levei. Ninguém levou o dinheiro", frisou. "Os 226 milhões ficaram na TAP e ainda lá estão hoje", reafirmou.
Neeleman e Pedrosa já não são acionistas da TAP, devido aos efeitos da pandemia de covid-19 e à opção do Estado de intervir na companhia aérea, nacionalizando-a após com a injeção de 3,2 mil milhões de euros em 2020.
Antonio Pedro Ferreira
“Acredito na TAP”: se tivesse mil milhões colocava-os lá
A nacionalização da TAP em 2020 foi a melhor hipótese? "Foi uma opção do Estado português, de o Governo capitalizar a TAP", respondeu. E qual foi a alternativa que o Governo deu aos privados, perguntou ainda a IL? "Não conheço nenhum acionista privado que tivesse capacidade de pôr na TAP mil milhões de euros. Se eu tivesse, teria posto, porque acredito na TAP. A TAP é uma boa companhia. Precisa é de uma boa gestão", afirmou. "Acreditei, acredito e continuo a acreditar", frisou.
Pedrosa, dono do grupo Barraqueiro, assegurou aos deputados que não recebeu nada em troca. "Não recebi nada". E explicou: "Como apostava muito na TAP tentei ficar e fiquei até conseguir estar. Quando já não havia condições para continuar, saí, e saí com prejuízo".
Admitiu ainda que tinha sido “desafiado a permanecer. E acreditando que a Barraqueiro seria um parceiro estratégico, decidimos permanecer".
Antonio Pedro Ferreira
Aliás, sobre essa saída, Humberto Pedrosa admitiu que saiu do capital “com prejuízo”, mas não soube a razão por que o seu antigo parceiro, Neeleman, recebeu 55 milhões de euros para sair.
Questionado por Mariana Mortágua sobre por que razão levou esse dinheiro, o empresário não soube explicar, apenas especulou: “Pois, não sei, as negociações não foram comigo. Foi um acordo entre as partes. Se calhar, foi bastante vontade, da parte do Governo, de afastar o Sr. David Neeleman”.
E explicou a diferença entre si e Neeleman. "Há uma diferença entre um acionista e outro. O sr Neeleman é um investidor, entrou para vender, eu sou um empresário, fico a longo prazo nas empresas".
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