Economia

FMI revê em forte alta projeção de crescimento da economia portuguesa este ano

FMI revê em forte alta projeção de crescimento da economia portuguesa este ano

No espaço de um mês, o Fundo Monetário Internacional melhorou a sua projeção para o crescimento da economia portuguesa este ano de 1% para 2,6%. É um valor muito acima dos 1,8% projetados pelo Governo e pelo Banco de Portugal. Quanto à inflação, espera uma descida, mas que ainda atinja uma média anual de 5,6% em 2023

No espaço de um mês, o Fundo Monetário Internacional (FMI) mais do que duplicou a sua projeção para o crescimento da economia portuguesa este ano.

Na sua análise à economia nacional no âmbito do artigo IV da instituição, o FMI aponta para uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) este ano de 2,6%, número que compara com os 1% inscritos para Portugal no último World Economic Outlook, publicado há pouco tempo, em abril.

Esta previsão do FMI - tradicionalmente conhecido pelos seus cenários conservadores - supera a da Governo e também a do Banco de Portugal (BdP). Recorde-se que no Programa de Estabilidade 2023-2027, publicado em abril, o Ministério das Finanças reviu em alta a sua projeção para o crescimento da economia portuguesa este ano, para os 1,8%, o mesmo valor projetado pelo BdP em março.

Forte arranque do ano puxa pelo crescimento em 2023

Na nota onde divulga as conclusões preliminares da visita oficial a Portugal, no âmbito do artigo IV da instituição, entre o final de abril e o início de maio, os técnicos do fundo destacam o crescimento da economia portuguesa em 2022 e o forte arranque de 2023.

“Portugal sustentou a sua recuperação económica dinâmica da pandemia ao longo de 2022”, lê-se na nota publicada pelo FMI, lembrando que o crescimento de 6,7% foi “marcadamente mais elevado do que o da zona euro (3,5%)”.

Uma evolução puxada pela “retoma do turismo” e pelo “consumo privado”, constatam os técnicos do Fundo. E salientam que a evolução do consumo privado reflete “o apoio das políticas públicas, a força do mercado de trabalho, e a concretização de procura adiada”.

Ora, a dinâmica de crescimento “continuou ao longo do início de 2023, com um crescimento de 2,5% em termos homólogos no primeiro trimestre”, aponta o FMI.

Pressões inflacionistas espalharam-se pela economia

Os técnicos do Fundo deixam, contudo, um aviso: “A elevada inflação e condições financeiras mais apertadas estão a enfraquecer a economia”.

O FMI alerta que as pressões inflacionistas - inicialmente impulsionadas pelos preços da energia e dos bens alimentares, um efeito amplificado pelos impactos da guerra na Ucrânia - “tornaram-se de base alargada”, num contexto de “folga limitada” na economia.

Ao mesmo tempo, constata que o aperto na política monetária “se traduziu em custos de financiamento significativamente mais altos, dada a elevada parcela de empréstimos com taxa de juro variável”. Isto quando o “forte crescimento dos preços das casas penalizou a acessibilidade da habitação”.

Tudo somado, o FMI aponta agora para uma expansão da economia portuguesa este ano de 2,6% em termos reais, com o crescimento do PIB a “abrandar no resto do ano”.

Quanto à inflação, aponta para um recuo este ano, mas, ainda assim, mantendo-se num patamar elevado. A projeção do FMI é, agora, de uma taxa média anual de 5,6% em 2023 (medida pelo Índice Harmonizado de Preços no Consumidor), o que compara com os 5,7% avançados há cerca de um mês, no World Economic Outlook.

No médio prazo, o FMI projeta que o crescimento da economia portuguesa estabilize em torno dos 2%. Ao mesmo tempo, a inflação deve continua a aliviar, com o recuo dos preços da energia. Mas, “é projetado que a inflação subjacente seja persistente, dado o marcado de trabalho apertado [leia-se, com pouca folga] e margens de lucro elevadas” das empresas, vincam os técnicos do Fundo.

FMI recomenda descontinuação de medidas de apoio de largo espectro

Os técnicos do Fundo deixam ainda várias recomendações para a política orçamental portuguesa, destinadas ao ministro das Finanças, Fernando Medina, e ao primeiro-ministro, António Costa.

A começar pela contenção orçamental. “Em 2023, a política orçamental necessita de permanecer não expansionistas, para preservar espaço orçamental e apoiar a política monetária” de controlo da inflação, lê-se na nota publicada pelo FMI. Vinca ainda que a política orçamental deve “ser ágil se os choques se materializarem”.

Os técnicos do Fundo contabilizam em cerca de 2% do PIB o “apoio orçamental adicional para 2023”. Número que abrange aumentos salariais da função pública e das pensões, isenção temporária do IVA em bens essenciais, e medidas de apoio à habitação.

Contudo, o recuo dos preços da energia “fornece uma oportunidade para descontinuar medidas de largo espectro e direcionar os apoios às famílias mais vulneráveis”. Uma mensagem em que Banco Central Europeu e Comissão Europeia também têm insistido. O Governo tem ainda a funcionar os benefícios fiscais na compra de combustíveis, mas tem vindo a reduzi-los progressivamente.

O FMI aponta que “se o crescimento enfraquecer substancialmente, os estabilizadores automáticos devem ser totalmente implementados”. Mas, em caso contrário “o espaço orçamental tem de ser salvo”.

Assim, “apoio orçamental adicional deve ser reservado apenas para cenários adversos severos e desenhado para ser temporário, não distorcer preços, e ser bem direcionado”.

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