“Não estamos a fazer uma pausa [na subida da taxa de juro], isso é muito claro”, afirmou, por diversas vezes, Christine Lagarde na conferência de imprensa desta quinta-feira apresentando as decisões da reunião do conselho do Banco Central Europeu (BCE). A presidente do BCE aproveitou, também, para sublinhar que o facto de o aumento ter sido reduzido para apenas 25 pontos-base - similar ao decidido pela Reserva Federal norte-americana na quarta-feira - isso não significa que os responsáveis do BCE sejam “dependentes da Fed”.
Do outro lado do Atlântico, a Fed, chefiada por Jerome Powell, optou nas últimas três reuniões deste ano por subir a taxa diretora em apenas 25 pontos-base e o comunicado oficial desta quarta-feira foi interpretado pelos mercados como sinal de que os norte-americanos poderão optar por uma pausa prolongada até novembro ou dezembro deste ano, quando se antevê o início de um ciclo de cortes.
Deste lado do Atlântico, Lagarde quer deixar muito claro que a estratégia é outra. A moderação do aumento dos juros, com a decisão de uma subida de apenas 25 pontos-base (um quarto de ponto percentual), pela primeira vez desde o início do ciclo de aperto monetário em julho do ano passado, não é uma antecipação de que o BCE se prepara para fazer uma pausa, como os analistas esperam que aconteça com a Fed do outro lado do Atlântico nas próximas reuniões até ao final do verão.
Lagarde repetiu que a estratégia do BCE é muito clara: “Há ainda mais terreno para cobrir. Ainda não chegámos ao momento de fazer uma pausa”. Sem antecipar o ritmo de subida nas próximas reuniões a 15 de junho e 27 de julho, Lagarde salientou o que está preto no branco no comunicado oficial. O BCE continuará a subir os juros de modo a ficarem em níveis “suficientemente restritivos” para terem um impacto na economia real.
Lagarde diz que nada pode fazer para aliviar as famílias
A presidente do BCE lamentou que nada podia fazer para “aliviar ou atenuar” os efeitos dramáticos da subida dos juros nas famílias “da Finlândia a Portugal e dos Bálticos a Espanha”, respondendo a uma jornalista finlandesa.
O aperto tem de continuar porque o BCE ainda não tem a certeza de que o impacto contracionista da subida dos juros já penetrou suficientemente na atuação do sector bancário em relação à economia real. Segundo o último inquérito a 158 bancos da zona euro (Banking Landing Survey), publicado esta semana, a procura de empréstimos bancários por parte das empresas foi no primeiro trimestre de 2023 a mais baixa desde o final de 2008. E no caso das famílias, caiu também, mas ainda não está no nível mínimo recorde no último trimestre do ano passado. E no crédito ao consumo o aperto ainda é pequeno. O aperto monetário “está a ter efeito, mas ainda não sabemos se é suficiente, não vemos ainda um impacto completo”.
Não houve nenhum ‘negócio’ para satisfazer 'falcões' e ‘pombas’
Na reunião desta quinta-feira houve um consenso para só aumentar os juros em 25 pontos-base, mas, em simultâneo, decidiu-se acelerar o fim dos reinvestimentos no principal programa de compra de títulos, conhecido pela sigla APP (de “Asset Purchase Program”), designação que lhe foi dada em 2014 por Mario Draghi.
A partir de 1 de julho, o BCE espera não reinvestir nem mais um cêntimo do valor dos títulos que cheguem à maturidade na sua carteira de ativos no APP. Apenas no programa PEPP (sigla para "Pandemic Emergency Purchase Program") lançado aquando da pandemia, os reinvestimentos continuarão até final de 2024.
Questionada sobre se o abrandamento na subida dos juros e a aceleração no fim dos reinvestimentos do maior e mais antigo programa de compra de títulos significava um compromisso entre posições contrárias dentro do conselho, compensando as posições em confronto, Lagarde respondeu que “não houve compromisso, não houve um acordo” entre os que queriam manter um aumento de meio ponto percentual e os que se opunham.
No entanto, a francesa acrescentou que houve na reunião posições a favor dos 50 pontos-base e outras a favor dos 25 pontos, mas que não se manifestou nenhuma a favor de uma pausa ("zero de aumento"). O que contrasta com a reunião de março, onde, segundo as atas, teria havido uma minoria a favor de uma pausa logo na altura.
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