A inflação em abril na zona euro subiu para 7%, invertendo a tendência de descida desde o pico em outubro do ano passado, segundo a estimativa avançada esta terça-feira pelo Eurostat, o organismo de estatística da União Europeia.
A pressão para a alta no surto inflacionista veio dos preços da energia, que aumentaram 2,5%, e dos serviços que subiram 5,2%. Em março, os preços da energia tinham-se contraído em 0,9% e os serviços tinham aumentado 5.1%.
Excluindo as componentes mais voláteis, a taxa subjacente desceu ligeiramente para 5,6%, depois de uma trajetória de subida consistente desde abril de 2021. Em março tinha subido para 5,7%.
As variações acima referidas dizem respeito às taxas homólogas, ou seja, em relação a abril de 2022. Se medida em cadeia, ou seja, de um mês para o seguinte, a inflação global abrandou de 0,9% para 0,7% entre março e abril, e a inflação subjacente desacelerou de 1,3% para 1%.
A pressão sobre a política monetária do Banco Central Europeu (BCE) mantém-se, apesar da ligeira descida de uma décima na inflação subjacente homóloga e da desaceleração em cadeia, a que a equipa de economistas chefiada por Philip Lane dá particular atenção.
O BCE reúne-se esta semana, a 4 de maio, não havendo consenso entre os analistas sobre a decisão que vai ser tomada pelo conselho, estando na mesa uma moderação da subida dos juros em 25 pontos-base ou a manutenção dos aumentos de meio ponto percentual (que se verificaram consecutivamente em dezembro de 2022 e fevereiro e março de 2023).
Surto inflacionista leva 22 meses
O surto inflacionista na zona euro iniciou-se no verão de 2021 com a taxa mensal - relativa ao Índice Harmonizado de Preços do Consumidor (IHPC) usado pelo Eurostat - numa trajetória ascendente acima da meta do Banco Central Europeu (2%).
Mesmo a inflação subjacente - excluindo as componentes mais voláteis da energia, alimentação, álcool e tabaco - iniciou uma tendência consistente acima da meta de 2% a partir de novembro de 2021.
As trajetórias referidas são relativas ao mesmo mês do ano anterior, o que os economistas designam por variação homóloga.
Em 2022, a inflação (IHPC) acelerou para níveis acima de 5% atingindo um pico de 10,6% em outubro do ano passado. A aceleração entre março e outubro deveu-se ao impacto da invasão da Ucrânia pela Rússia, em particular na componente da energia e depois nos alimentos. A partir desse pico manteve-se uma trajetória descendente, que foi, agora, invertida em abril.
Atualmente, a componente com o nível de inflação mais elevado é a respeitante à alimentação, álcool e tabaco. Atingiu um pico de 15,5% em março tendo agora abrandado para 13,6%.
A descida de 4,5% nas cotações das matérias-primas desde o início do ano, mais acentuada na energia (quebra de 13%) e no sector agrícola (redução de 3,2%), poderá estar a ter uma influência moderadora nos custos de produção com repercussão, depois, na inflação no consumo. No entanto, o próprio BCE tem chamado a atenção que as tensões geopolíticas crescentes e a pressão dos lucros elevados das empresas poderão impulsionar, de novo, o surto inflacionista. Os dois novos riscos para a inflação são a ‘fragmentação geopolítica’ e a greedflation, um neologismo em inglês para uma inflação alimentada pela ganância empesarial.
Quatro economias registaram subida de inflação
Em abril, segundo as estimativas publicadas pelo Eurostat relativas ao IHPC, França, Itália, Espanha e Áustria registaram subidas da inflação. Nas restantes 16 economias do euro a inflação desceu no mês passado, incluindo no caso de Portugal. onde o IHPC desceu de 8% em março para 6,9% em abril.
Os níveis mais elevados de inflação na zona euro, na ordem de dois dígitos, continuam a situar-se nos três países bálticos e na Eslováquia, com taxas entre 13% e 15%. Com níveis de inflação próximos dos dois dígitos incluem-se a Áustria (9,6%) e a Eslovénia (9,2%).
A inflação portuguesa (6,9%) está ligeiramente abaixo da média da zona euro, mas continua a ser muito mais elevada do que a registada na vizinha Espanha (3,8%) e em outras oito economias da moeda única, incluindo a Grécia (4,5%).
Os níveis de inflação mais baixos em abril registaram-se no Luxemburgo (2,7%) e Bélgica (3,3%).
Na Alemanha, a maior economia do euro, a inflação desceu em abril para 7,6%, mantendo-se muito mais alta do que a média na zona euro e do que a estimada para Portugal.
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