Economia

Comissão de Inquérito da TAP vai pedir levantamento de segredo de justiça, Laginha de Sousa vai voltar ao Parlamento

Comissão de Inquérito da TAP vai pedir levantamento de segredo de justiça, Laginha de Sousa vai voltar ao Parlamento
ANTONIO PEDRO FERREIRA

Deputados querem saber mais sobre o que levou a polícia do mercado de capitais a avançar com uma contraordenação à TAP. Ficou por esclarecer se é apenas a renúncia de Alexandra Reis que levou a CMVM a avançar com o processo ou se há mais casos

Impacientes, frustrados e surpreendidos pela escassez da informação prestada pelo presidente da CMVM ao Parlamento, a comissão de inquérito à TAP vai pedir o levantamento do segredo de justiça no processo de contraordenação à transportadora.

Luís Laginha de Sousa, presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, invocou o dever de sigilo e o segredo de justiça, para não responder aos deputados na Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP sobre os detalhes do processo de contraordenação levantado à companhia por prestação de informação incorreta sobre a saída de Alexandra Reis, em fevereiro de 2022. Posição que levou os parlamentares a discutir durante longos minutos como proceder, acabando por ser dada por concluída a audição ao fim de mais de quatro horas, com a deliberação de que se avançaria com um pedido de levantamento do segredo de justiça.

Ficou por esclarecer, entre outras questões, se o processo contraordenacional aberto pela CMVM contra a TAP, e que pode levar à aplicação de uma coima de dois a cinco milhões de euros, diz respeito apenas à saída da ex-administradora Alexandra Reis, ou se se estende a outros processos de renúncia. Isto porque o processo refere “renúncias de administradores”.

Depois da saída de Alexandra Reis da comissão executiva, em fevereiro de 2022, e no dia da apresentação dos resultados, a 21 de março - onde foram apresentados lucros de 65,6 milhões de euros -, houve também a renúncia da administradora para a área comercial, Sílvia Mosquera. E, durante o mandato de Christine Ourmières-Widener, renunciou também ao cargo, em outubro de 2021, o antigo administrador financeiro, João Weber Gameiro, alegando então "motivos pessoais imprevisíveis".

Cauteloso, Laginha de Sousa não chegou a explicar se a contraordenação estava a ser aplicada por prestação de informação falsa ou informação incompleta. “Estávamos à espera de ter respostas mais conclusivas e mais focadas nas perguntas que foram colocadas. Eu não estava à espera de hoje ter um problema de ter aqui alguém que viesse referir a questão da existência de sigilo” e de "limitações de respostas", afirmou Jorge Seguro Sanches, presidente da Comissão de Inquérito. Lembrando que a CPI tem poderes parajudiciais. E avançando que iria fazer o pedido de imediato.

Laginha de Sousa desculpou-se com o facto de estar pela primeira vez numa CPI, dizendo que não lhe passou pela cabeça que havia estas questões e limitações, e afirmando que queria que ficasse claro que da "parte da CMVM não havia qualquer postura de não colaboração institucional".

Depois das perguntas dos deputados e por insistência do presidente da comissão, Laginha de Sousa respondeu às questões sobre a data em que foi aberto o processo contraordenacional à TAP, explicando que a decisão foi tomada na reunião do Conselho de Administração da CMVM, de 5 de abril, onde não participou por ser detentor de obrigações da companhia.

Explicou, no entanto, que a deliberação inicial do Conselho de Administração, sobre a contraordenação, só se tornou efetiva, depois de ter passado pelo crivo dos serviços jurídicos da CMVM. Só após a confirmada a legalidade da deliberação, ela ficou então pronta para ser comunicada, e isso aconteceu na passada quarta-feira.

A opacidade sobre a privatização

Laginha de Sousa afirmou que a TAP não está obrigada a informar o mercado sobre o processo de privatização, porque é emitente de obrigações e não empresa cotada, salientando que neste momento o processo não interfere no valor dos títulos. “Não há necessidade de dar essa informação ao mercado, na medida em que ela não interfere sobre o que é relevante, e que é o valor da obrigação e a capacidade de receber a obrigação”, defendeu, em resposta ao deputado da Iniciativa Liberal, Bernardo Blanco.

Embora não haja um caderno de encargos, a TAP está neste momento a dar passos no sentido da privatização. Há uma empresa que apesar de não ter um contrato, tem estado desde há nove meses a fazer o contato com os investidores, a norte-americana Evercore. Há demonstrações de interesse, e o Eco revelou esta quinta-feira, que a IAG, grupo de aviação que detém a British Airways e a Ibéria, já contratou o escritório de advogados Vieira de Almeida para a assessorar.


“A intenção de avançar com um processo desses pode manter-se secreta dentro da empresa”, considerou o presidente da CMVM. Sabe-se que o processo estava nas mãos da presidente da TAP e do administrador financeiro, Gonçalo Pires. Mas quer as Finanças, quer as Infraestruturas têm mantido o silêncio sobre o processo.

Mais pedidos de informação

O PS apresentou um requerimento oral para pedir o extrato de submissão do comunicado à CMVM, às 23h29 de 04 de fevereiro de 2022, sobre a saída de Alexandra Reis,com a indicação da pessoa da TAP que o submeteu no sistema de difusão da entidade.

E o Chega anunciou que vai pedir que seja enviado com urgência a cópia da deliberação do Conselho de Administração da TAP que aprovou o acordo de rescisão de Alexandra Reis, que não foi enviado juntamente com os restantes documentos à CMVM, e a cópia dos pareceres do órgão de fiscalização.

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