Economia

1983: Fundo Monetário Internacional aterra novamente em Portugal

26 março 2023 21:37

Mário Soares e o seu ‘czar’ das Finanças, Ernâni Lopes, o inconfundível ministro do cachimbo que sacou 350 milhões de euros ao FMI

rui ochôa

O terceiro Governo de Mário Soares recebe de Washington quase cinco vezes mais do que no conjunto dos dois acordos anteriores, em 1977 e 1978

26 março 2023 21:37

Não há uma sem duas, nem duas sem três, é o ditado popular que se aplica como uma luva à sina de Mário Soares na relação com o Fundo Monetário Internacional (FMI). No verão de 1983, quando regressa a primeiro-ministro pela terceira (e última) vez, o líder socialista vê-se obrigado a bater de novo à porta do Fundo em Washington, precisamente pela terceira vez, depois dos resgates de 1977 e 1978. Conta agora com o economista Ernâni Lopes, o superministro das Finanças, cujo perfil sempre ficou marcado pelo cachimbo que fuma, e que defrontou a “excessiva dureza e maior arrogância” da equipa do Fundo, chefiada pela italiana Teresa Ter-Minassian.

Em aliança com o PSD de Mota Pinto, o Governo de coligação chefiado por Soares desde junho, logo batizado de ‘bloco central’, dispõe do apoio esmagador de 70% dos deputados eleitos nas legislativas antecipadas de 25 de abril, mas tem pela frente uma herança pesada dos dois Governos anteriores da Aliança Democrática (AD), entre PSD e CDS. O buraco das contas externas, na balança corrente e de capital, deixado pela AD atinge em 1982 um recorde de €1,4 mil milhões, na conversão de escudos, a moeda da altura, feita pelo Instituto Nacional de Estatística e pelo Banco de Portugal para as novas Séries Longas para a economia portuguesa, publicadas em 2020. A herança é tanto mais grave quanto a AD herdou um excedente conseguido em 1979, depois dos ajustamentos impostos pelos acordos com o FMI em 1977 e 1978.