Economia

INE revê em alta crescimento da economia portuguesa no quarto trimestre, mas expansão em 2022 mantém-se nos 6,7%

Foto: Getty Images
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Os dados publicados pelo Instituto Nacional de Estatística indicam que o PIB avançou 3,2% em termos homólogos e 0,3% em cadeia no quarto trimestre de 2022, ligeiramente acima dos valores avançados no final de janeiro

O crescimento da economia portuguesa nos últimos três meses do ano passado foi ligeiramente superior ao inicialmente avançado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

Os dados publicados esta terça-feira indicam que, em termos reais, o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 3,2% em termos homólogos, ou seja, em relação ao mesmo período do ano anterior, e 0,3% em cadeia, isto é, na comparação com o trimestre anterior.

Estes números comparam com 3,1% e com 0,2%, respetivamente, os valores avançados pelo INE no final de janeiro, na estimativa rápida sobre as contas nacionais.

Apesar desta ligeira revisão em alta do crescimento no quarto trimestre, a expansão do PIB no conjunto de 2022 manteve-se inalterada, nos 6,7% em termos reais. É o valor “mais elevado desde 1987”, salienta o INE, lembrando que sucede após o aumento de 5,5% em 2021, “que se seguiu à diminuição histórica de 8,3% em 2020, na sequência dos efeitos adversos da pandemia na atividade económica”.

O que explica este forte crescimento da economia portuguesa em 2022?

O INE salienta que “a procura interna apresentou um contributo positivo expressivo para a variação do PIB, embora inferior ao observado no ano anterior”. Isto por causa de "uma aceleração do consumo privado e uma desaceleração do investimento".

Já o contributo da procura externa líquida “passou a positivo em 2022, tendo-se registado uma aceleração das exportações de bens e de serviços mais intensa que a das importações de bens e serviços”. Uma evolução impulsionada pelo forte recuperação do turismo.

Segundo a autoridade estatística nacional, a procura interna cresceu 4,5% em termos reais em 2022, o que compara com um incremento de 5,6% em 2021. Quanto ao contributo da procura interna para a variação anual do PIB, passou de 5,8 pontos percentuais (p.p.) em 2021, para 4,7 p.p. em 2022.

Consumo acelera, investimento abranda “significativamente”

Desagregando a evolução da procura interna, o INE aponta que o consumo privado (que traduz as despesas de consumo final das famílias residentes e das instituições sem fim lucrativo ao serviço das famílias) registou um crescimento de 5,7%, em termos reais, em 2022. Isto significa uma aceleração face ao aumento de 4,7% em 2021.

Neste âmbito, “a despesa em bens não duradouros e serviços passou de um crescimento de 4,9% em 2021 para 5,2%, e a componente de bens duradouros também acelerou, de 3,6% para 11,6% em 2022, destacando-se a recuperação da componente automóvel, após taxas negativas nos três anos anteriores”, aponta o INE.

Quanto ao consumo público (despesas de consumo final das administrações públicas) desacelerou em termos reais, registando uma taxa de variação de 2,4% em 2022 (4,6% em 2021).

Por fim, o investimento aumentou 2,7% em termos reais em 2022, “abrandando significativamente” face a 2021, salienta o INE. De facto, em 2021, tinha registado um crescimento de 10,1%.

A formação bruta de capital fixo (FBCF, a componente-chave para analisar o investimento) registou um aumento menos expressivo em 2022, de 2,7%, o que compara com um incremento de 8,7% em 2021. Já a variação de existências apresentou um contributo nulo para a variação anual do PIB, depois de em 2021 ter tido um contributo positivo de 0,2 pontos percentuais (p.p.).

“Por componentes da FBCF, verificaram-se abrandamentos na FBCF em outras máquinas e equipamentos, com um aumento de 4,3% em 2022 (13,1% no ano anterior), na FBCF em construção, com um crescimento em 2022 de 0,8% (5,5% em 2021) e na FBCF em produtos de propriedade intelectual, com 3,3% (12,9% no ano anterior)”, explicita o INE.

Em sentido inverso, a FBCF em equipamento de transporte acelerou, passando de um crescimento de 7,5% em 2021 para 9,8% em 2022.

Turismo impulsiona exportações

Na frente externa, “a procura externa líquida apresentou um contributo de 2,1 p.p.” para a variação anual do PIB, indica o INE. Recorde-se que, em 2021, esse contributo foi negativo, nos -0,3 p.p..

A explicação está na aceleração das exportações de bens e serviços, que cresceram 16,7% em 2022, em termos reais, depois de terem avançado 13,4% em 2021.

Uma evolução onde a forte recuperação do turismo teve um papel importante. Isto porque o crescimento das exportações de bens até abrandou, avançando 8,7% em termos reais em 2022, o que compara com 11,2% em 2021. Já as exportações de serviços “registaram uma aceleração significativa, passando de um crescimento de 19,6% em 2021 para 37,7%” em 2022, em termos reais, salienta o INE.

A autoridade estatística nacional explica que, no caso dos serviços, este resultado “reflete em parte o aumento expressivo da componente de turismo”, que cresceu 80,9% em 2022, após ter recuado 56,9% em 2020, a que se seguiu um crescimento de 27% em 2021.

Quanto às importações de bens e serviços, desaceleraram em 2022, com um aumento de 11% em termos reais, o que compara com 13,2% em 2021. As importações de bens aumentaram 9,8% (12,9% em 2021) e as de serviços cresceram 17,2% (15,1% em 2021).

O INE chama ainda a atenção de que “no contexto internacional de elevada inflação, a perda dos termos de troca foi mais intensa que no ano anterior". O deflator das importações de bens e serviços aumentou 18,6% (7,4% no ano anterior) e o deflator das exportações de bens e serviços subiu 14,8% (6,1% em 2021). “Esta evolução, traduziu em parte o efeito mais intenso da subida do preço dos bens energéticos no deflator das importações”, explica o INE.

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