Portugal regressou esta quarta-feira ao mercado da dívida obrigacionista para colocar 1000 milhões de euros em dívida pública a vencer em 2032. E fê-lo com um custo de 3,172%, muito acima do juro suportado numa operação similar de abril do ano passado. Com esta operação, em apenas dois meses, o Tesouro completa 20% do financiamento em obrigações previsto para 2023.
A operação realiza-se quase uma semana depois de o Banco Central Europeu (BCE) ter subido as taxas diretoras em meio ponto percentual e anunciado antecipadamente que, em março, repetirá a dose, prosseguindo no aperto monetário iniciado no verão do ano passado.
Para os mercados a postura do BCE é hoje considerada mais dura do que a seguida pela Reserva Federal norte-americana, pelo Banco do Canadá e pelo Banco da Reserva da Austrália, que subiram, em reuniões recentes, as taxas apenas em 25 pontos-base, metade do aumento decidido pela equipa de Christine Lagarde.
O Tesouro português pagou um juro de 3,172% em linha com a yield de mercado, que abriu esta quarta-feira em 3,2% e, naturalmente, muito acima da taxa de 1,694% paga aquando da operação sindicada, em abril do ano passado, que lançou a nova linha de referência a 10 anos, a vencer em julho de 2032. A procura no leilão desta quarta-feira foi 2,34 vezes superior à emissão.
Boa procura no leilão com o prémio de risco mais baixo entre os periféricos
“O leilão correu bem, com bastante procura, a que não será alheia a taxa de juro relativamente atrativa. No entanto, o Tesouro também achou a taxa atrativa dado que colocou a totalidade do montante a que se tinha proposto. Desde setembro passado que as taxas a 10 anos vão oscilando entre cerca de 2,70% e 3,60%, pelo que o momento de mercado acaba por ser coincidente com níveis perto do meio desse intervalo”, refere Filipe Garcia, responsável pela consultora Informação de Mercados Financeiros. O consultor acrescenta: “Apesar de ser um juro acima da taxa média de endividamento da República (cerca de 2%), é importante manter maturidades longas no mix de endividamento, pelo que esta emissão não coloca em causa os objetivos de sustentabilidade da dívida. Por outro lado, já não há hipótese de emitir a taxas abaixo do custo médio da dívida emitida”.
Por seu lado, Filipe Silva, diretor de Investimentos do Banco Carregosa, sublinha que “o Banco Central Europeu, tal como esperado, subiu as taxas diretoras em 50 pontos-base e espera-se que faça o mesmo na próxima reunião, subidas que já estão descontados nos níveis atuais das taxas de juro que Portugal paga para se financiar”. E conclui: “Apesar da conjuntura, o spread da dívida portuguesa tem vindo a reduzir em relação à Alemanha, e encontra-se no nível mais baixo desde abril de 2022, o que reflete a boa dinâmica que a economia nacional tem mostrado”. O prémio de risco da dívida portuguesa encontra-se num nível inferior a 90 pontos-base, abaixo de 1 ponto percentual em relação ao custo de financiamento da dívida alemã. Trata-se de um spread abaixo do registado para oito outros países periféricos do euro (Espanha, Eslovénia, Croácia, Chipre, Grécia, Itália, Letónia e Lituânia).
Na Áustria, num leilão de dívida a 10 anos realizado na terça-feira, o Tesouro austríaco pagou menos: um juro de 2,86% na emissão de 863 milhões de euros. Nos Países Baixos, no mesmo dia, realizou-se uma operação sindicada de lançamento da nova linha a 10 anos, a vencer em 2033, tendo o juro pago ficado em 2,656%, numa emissão de quase 6 mil milhões de euros. Na Alemanha, o Tesouro colocou, esta quarta-feira, 8 mil milhões de euros no prazo a 7 anos tendo pago 2,32%.
O leilão realizado esta quarta-feira pelo IGCP é o primeiro do ano no mercado obrigacionista e é, também, a primeira operação de mercado desta linha de obrigações. Lançada em abril do ano passado, continua a servir de referência para o prazo a 10 anos, pois a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) ainda não realizou uma operação sindicada para colocação de dívida a vencer em 2033, que sirva de novo benchmark naquela maturidade.
Com um plano de colocação de dívida obrigacionista na ordem dos 19,8 mil milhões de euros, o IGCP já colocou, em apenas dois meses, 4 mil milhões de euros, 20% do objetivo para este ano. Logo a 5 de janeiro, o Tesouro colocou 3 mil milhões de euros numa operação sindicada, lançando uma nova linha de dívida a 15 anos, a vencer em 2038.
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