Economia

1976: Soares à espera do miniplano Marshall

5 fevereiro 2023 8:44

Mário Soares governou em minoria em 1976 e quando se coligou em 1978 não escolheu Sá Carneiro

arquivo a capital

Fiasco. O primeiro Governo Constitucional tentou que chegasse um ‘grande empréstimo’. Mas a injeção de milhões só veio nos dois anos seguintes e custou dois acordos com o FMI

5 fevereiro 2023 8:44

A grave crise política de 1975 e a primeira recessão desde 1940 tinham ficado para trás. Com a nova ordem constitucional democrática, havia a esperança de a economia regressar aos carris. Uma expectativa otimista que dominou tanto o VI Governo Provisório com Salgado Zenha como ministro das Finanças, como depois, na segunda metade do ano, com o primeiro Governo Constitucional chefiado por Mário Soares e com Medina Carreira na pasta das Finanças. Havia ainda outra esperança: a de que os amigos americanos e europeus financiassem com muitas centenas de milhões de dólares os buracos externo e orçamental, os dois défices gémeos malditos.

Zenha e Silva Lopes, então governador do Banco de Portugal, ainda captaram mais de 5% do PIB em financiamento dos amigos americanos e europeus e do Fundo Monetário Internacional (FMI) durante a gestão do VI Governo Provisório, o último da transição após o 25 de abril, segundo dados do estudo “A Long IMF intervention: Portugal 1975-1979”, dos professores Luciano Amaral, Álvaro Ferreira da Silva e Duncan Simpson. Mas Soares e Medina viram o prometido “miniplano Marshall para Portugal” borregar. Na segunda metade do ano, o primeiro governo constitucional não chegou a receber 1% do PIB da parte dos amigos da Casa Branca, do Banco Europeu de Investimento (BEI) e do Conselho da Europa. O chamado ‘grande empréstimo’, congeminado em setembro entre Soares e Frank Carlucci, o embaixador norte-americano, viveu várias peripécias e não chegou a aparecer até final do ano.