Economia

BCE abranda aperto monetário e sobe os juros em meio ponto percentual

BCE abranda aperto monetário e sobe os juros em meio ponto percentual
Ralph Orlowski

O Banco Central Europeu, na última reunião de política monetária do ano, decidiu aumentar os juros em 50 pontos-base (meio ponto percentual), segundo o comunicado publicado esta quinta-feira em Frankfurt

O Banco Central Europeu (BCE) decidiu esta quinta-feira “por uma ampla maioria” subir os juros em meio ponto percentual (50 pontos-base). A taxa diretora principal aumentou para 2,5% e a taxa de remuneração dos depósitos dos bancos comerciais no Eurosistema subiu para 2%.

Depois de dois aumentos sucessivos de 75 pontos-base (três quartos de ponto percentual), a equipa de Christine Lagarde optou por um aumento mais moderado, da dimensão do realizado pela Reserva Federal norte-americana (Fed) na quarta-feira e pelo Banco de Inglaterra e pelo Banco Nacional Suíço esta quinta-feira.

Com esta decisão, o BCE acumula, em 2022, um aperto monetário nos juros de 250 pontos-base (2,5 pontos percentuais), similar ao decidido pelo Riksbank da Suécia e muito distante do realizado pela Fed (425 pontos-base).

Para sustentar a decisão, o BCE apresenta novas projeções macroeconómicas, que atualizam as de setembro. As previsões de inflação média anual foram revistas em alta, revelando uma trajetória muito mais agravada do que nos Estados Unidos. A inflação para este ano atingirá 8,4% (face a 5,6% nos EUA), e descerá para 6,3% no próximo ano (mais do dobro da prevista para os EUA) e ainda se situará acima de 2% em 2025.

O BCE admite que a zona euro atravessará um período de recessão “curta e pouco profunda” no quarto trimestre de 2022 e no primeiro trimestre de 2023, o que é considerado como recessão técnica por muitos economistas. A previsão para o crescimento no próximo ano aponta para 0,5%, similar à dos EUA.

Em virtude deste contexto, o conselho do BCE considera que os juros “ainda terão de aumentar de forma significativa a um ritmo constante”. Contudo, a decisão será, sempre, tomada reunião a reunião. Mas o conselho do BCE deixa o aviso: a subida terá de ser significativa até se atingirem níveis de juros “substancialmente restritivos”.

A subida terá de ser significativa até se atingirem níveis de juros substancialmente restritivos

O BCE decidiu, ainda, anunciar os princípios que vão guiar em 2023 a redução do valor do balanço do banco. O “aperto quantitativo” (QT, no acrónimo em inglês) começa em março de 2023 no âmbito do programa de aquisição de dívida mais antigo, conhecido pela sigla APP, e lançado por Mario Draghi em 2014 e 2015. Mas o conselho do BCE considera-o “comedido”. A redução nos reinvestimentos no âmbito do APP será de 60 mil milhões de euros entre março e junho (15 mil milhões em média por mês), sendo, depois, reanalisado o ritmo para o resto do ano. Em fevereiro, na próxima reunião, o BCE divulgará os “parâmetros detalhados” daquela redução da carteira de títulos.

Fed lidera subida dos juros em 2022

A liderança no ciclo de aumento dos juros pelos bancos centrais cabe à Reserva Federal norte-americana, com uma subida acumulada de 425 pontos-base (4,25 pontos percentuais) durante o ano. Um aperto superior ao realizado pelo Banco da Reserva da Nova Zelândia que aumentou as taxas em 4 pontos percentuais, de 2% no final do ano passado para 6% na última reunião de 2022.

O BCE, apesar da subida de 0% para 2,5% na taxa diretora, fica na oitava posição na lista de aumentos em 2022 pelos bancos centrais das economias desenvolvidas.

Esta quinta-feira também decidiram aumentos das taxas diretoras os bancos centrais de Taiwan (12,5 pontos-base), Noruega (25 pontos-base), Suíça (50 pontos-base) e Reino Unido (50 pontos-base).

Aperto a sério do balanço do BCE começa em 2023

Com a decisão esta quinta-feira de anunciar os “princípios” para o emagrecimento “comedido” do balanço do BCE, a dinâmica de emagrecimento dos ativos do banco central vai sofrer um impulso decisivo em 2023.

Os especialistas designam esse processo de “aperto quantitativo” (QT, no acrónimo em inglês), distinto do aperto monetário através da subida das taxas diretoras que se iniciou em julho e que teve o seu auge em setembro e outubro com duas subidas seguidas com uma magnitude histórica de 75 pontos-base (três quartos de ponto percentual).

Até agora, o valor do balanço tem diminuído em relação ao pico em finais de junho, mas devido a um aperto quantitativo ‘sombra’ através da redução nos ativos do valor dos empréstimos concedidos pelo BCE aos bancos comerciais.

Em novembro e dezembro, o valor das linhas de refinanciamento de prazo alargado direcionado (TLTRO, no acrónimo em inglês) reduziu-se em 743,8 mil milhões de euros, uma quebra de 34% em relação ao pico de 2,2 biliões de euros em junho passado. A redução deveu-se aos reembolsos voluntários antecipados realizados pelos bancos comerciais.

O objetivo do QT é reduzir a carteira de títulos de dívida pública e privada acumulada ao longo da vigência dos programas de aquisição desde 2014 e 2015. Essa carteira, em relação ao pico de quase 5 biliões de euros em final de junho, emagreceu marginalmente em 8 mil milhões de euros.

A razão para esta fraca redução é o facto de o BCE reinvestir a 100% os valores dos títulos após as amortizações. Para o período de janeiro a novembro de 2023, o BCE previa reinvestir 323,3 mil milhões de vencimentos no programa APP (o mais antigo), dos quais 262 mil milhões em obrigações do Tesouro (dívida pública). O reajustamento do “princípio" anterior de reinvestimentos a 100%, instituído por Mario Draghi, é a peça basilar do novo QT para 2023. De março a junho, já está decidido que aquele plano levará um corte de 60 mil milhões.

Em relação aos reinvestimentos do programa especial de resposta à pandemia - conhecido pela sigla PEPP -, não há ainda nenhuma decisão, continuando até final de 2024.

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