Economia

"Todos querem custos baixos de energia, mas ninguém quer uma infraestrutura no seu quintal", critica gestor da REN

"Todos querem custos baixos de energia, mas ninguém quer uma infraestrutura no seu quintal", critica gestor da REN
Foto: Getty Images

João Conceição, administrador da REN, diz estar preocupado com as dificuldades no licenciamento de infraestruturas de energia em Portugal e reconhece que também a REN tem tido problemas na cadeia de fornecimentos

O licenciamento de novos projetos de energias renováveis e das infraestruturas da rede elétrica que lhes estão associadas está a ficar cada vez mais difícil, alertou esta quinta-feira João Conceição, administrador da REN - Redes Energéticas Nacionais.

“É extremamente complexo conseguir um licenciamento de uma infraestrutura de muito alta tensão. Temos de respeitar as regras ambientais, mas vamos enfrentando cada vez mais o efeito do not in my backyard”, declarou o gestor durante a conferência Portugal Renewable Energy, promovida em Lisboa pela Apren - Associação Portuguesa de Energias Renováveis.

“Toda a gente quer ter custos baixos [de energia] mas ninguém quer ter uma infraestrutura no seu quintal. Se todos nós pensarmos assim não vamos ter rede em lado nenhum”, lamentou João Conceição, notando que no licenciamento de novos projetos e infraestruturas de energia “há sempre alguém que está em desacordo”.

O administrador da REN mostrou-se mais preocupado com os próximos três a quatro anos do que com o horizonte de 2030.

No curto e médio prazo a gestora da rede elétrica terá de construir mais 1500 quilómetros de linhas. “Estamos a falar em acrescentar 15% à rede existente”, notou João Conceição.

Na opinião do gestor, “o planeamento da rede vai ter que ser cada vez mais dinâmico” e incluir uma gestão dos pontos de injeção de eletricidade mais flexível, em vez do tradicional modelo em que um produtor de eletricidade reserva para si o direito a um ponto de ligação à rede para as 8760 horas do ano, apesar de a sua central só produzir em parte do tempo.

Na mesma conferência, João Conceição notou ainda que a REN tem enfrentado “dificuldades na cadeia de fornecimentos”. “Os nossos prestadores de serviços têm menos disponibilidade para dar resposta, porque são cada vez mais chamados para trabalhos lá fora”, notou.

Na conferência da Apren, também o diretor-geral de Energia e Geologia, João Bernardo, assumiu que os desafios de planeamento da rede elétrica “são imensos”, defendendo “uma gestão dinâmica das redes” e a necessidade de “flexibilidade no acesso às redes”.

Do lado do consumo, João Bernardo advogou que no futuro “os serviços de flexibilidade vão ter um papel fundamental numa rede mais digitalizada e distribuída”.

Já José Ferrari Careto, presidente da E-Redes, sustentou a necessidade de o setor energético reforçar a aposta na formação de pessoal especializado. “Neste momento não há recursos humanos para trabalhar nos projetos que nós temos. A necessidade de recursos humanos na Europa e em Portugal vai ser imensa, e a disponibilidade desses recursos no país vai ser curta, se não fizermos nada”, sublinhou.

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