A economia norte-americana está já num processo de desinflação - de abrandamento da subida de preços no consumidor - desde julho. Em junho atingiu 9,1%, o pico do ano até à data, e desceu para 7,7% em outubro, segundo os dados publicados esta quinta-feira pelo Bureau of Labor Statistics. É o nível mais baixo desde janeiro. Trata-se da inflação tecnicamente designada por homóloga, ou seja, em relação ao mesmo mês do ano anterior.
Ainda que correspondendo a uma queda de quase 1,5 pontos percentuais em relação ao pico de junho, este nível de inflação geral abaixo de 8% esconde um peso na carestia de vida na bolsa dos norte-americanos: 68,5% no fuel-oil; 20% gás canalizado; 19,3% na gasolina; 15,2% nos transportes; 14% na eletricidade; e 12% na alimentação em casa.
Também na inflação subjacente - excluindo as componentes mais voláteis, como a alimentação e a energia -, a trajetória descendente se confirma: 6,6% em setembro para 6,3% em outubro. Este nível de inflação, liberto das duas dinâmicas mais fortes na subida de preços (energia que subiu 17,6% e produtos alimentares que aumentaram 10,9%) continua muito elevada, pelo que é um indicador que a Reserva Federal (Fed) segue com particular atenção.
Apesar deste processo de desinflação a partir de níveis elevados de inflação - que, no entanto, nunca chegaram aos dois dígitos como na zona euro ou no Reino Unido -, a Fed, o banco central dos Estados Unidos, continua a lidar com mão forte com o surto inflacionista.
A Fed já subiu em outubro a taxa diretora para 4% e os mercados de futuros apontam uma probabilidade de 52% para uma subida para 4,5% no final do ano. No entanto, 48% projetam um aumento para 4,75%, com nova subida de 75 pontos-base na reunião de dezembro. As projeções da Fed, apresentadas em setembro, apontavam para uma subida dos juros até 4,4% no final do ano e 4,6% no ano seguinte.
Apesar da trajetória de descida do surto inflacionário, Jerome Powell, o presidente da Fed, já garantiu que o objetivo da política monetária é atingir uma taxa terminal no ciclo de subidas que seja positiva em termos reais, ou seja, que esteja acima da inflação média, com um efeito já claramente restritivo na economia. As projeções que serão apresentadas em dezembro, para a última reunião de política monetária do ano, indicarão o sentido efetivo desta estratégia.
Cinco surtos inflacionistas bem mais graves
Apesar do surto inflacionista vivido pelos Estados Unidos desde 2021, os níveis de inflação globais nunca atingiram os dois dígitos.
Na história da inflação norte-americana desde o início do século XX estão registados cinco surtos inflacionista com níveis de dois dígitos prolongados.
O primeiro foi durante a Primeira Guerra Mundial e atravessando a pandemia da época, com um surto de inflação em dois dígitos entre outubro de 1916 e setembro de 2020.
Com a Segunda Guerra Mundial, rebentou um suto inflacionista de dois dígitos durante todo o ano de 1942.
O terceiro surto ocorreu, depois da Guerra, entre julho de 1946 e junho de 1948.
O surto inflacionista voltaria a atacar em 1974 até março de 1975, com o choque petrolífero, uma alteração geopolítica relevante.
Nova vaga, começaria em fevereiro de 1979 até dezembro de 1981. Foi durante este período que Paul Volcker, então presidente da Fed, aplicou uma política monetária ultra apertada (que chegou a uma taxa de 20% em alguns períodos) que baicaria a inflação de um pico de 14,8% em março de 1980 para 2,5% em julho de 1993.
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