A China está a conseguir controlar a inflação num mundo marcado por um surto inflacionista. Em outubro, a inflação nos consumidores chineses desceu para 2,1% depois de um pico do ano em 2,8% em setembro, segundo dados publicados esta quarta-feira em Pequim pelo Gabinete Nacional de Estatísticas. É o nível de inflação mais baixo entre grandes economias, inferior aos 3% registados no Japão e na Suíça. Encontra-se claramente abaixo da meta de estabilidade de preços oficial, que se situa nos 3%, desde 2015.
Nos preços na produção, o controlo foi ainda mais drástico: o índice caiu 1,3% em outubro, pela primeira vez desde dezembro de 2020. Ou seja, os preços na produção estão agora em quebra, a situação é de deflação (o inverso da inflação).
Apesar da política oficial de impulso à procura para incentivar o crescimento (que vai estar abaixo de 5% até 2027), a política monetária é, em termos reais, restritiva, apesar de o Banco Popular da China (PBOC) já ter cortado a taxa diretora este ano por duas vezes.
A taxa diretora está em 3,65%, claramente acima da inflação, pelo que o juro real é positivo. Recorde-se que a taxa diretora do Banco Central Europeu é mais baixa, está em 2%, mas a inflação está em dois dígitos na zona euro. Na Ásia, excluindo o Japão (que tem uma taxa negativa), a taxa do PBOC é superior à da Austrália, Nova Zelândia, Coreia do Sul, Malásia e Tailândia, que lidam com inflações mais altas.
Em contraste com estas boas notícias nos preços, que estão a contracorrente do que se passa no mundo, a crise cambial do yuan (depreciou-se 14% desde início do ano face ao dólar) e a incerteza geopolítica sobre a estratégia efetiva que o Partido Comunista da China vai seguir depois do 20º Congresso em relação à vizinhança na Ásia-Pacífico (Taiwan; Mares da China) e à economia privada local (particularmente em relação aos grupos chineses multinacionais) reforçou a saída de capitais dos mercados chineses.
Segundo dados do Institute of International Finance (IIF, tido como o lóbi mundial dos bancos privados), para outubro, e relativamente à China, saíram 7,6 mil milhões de dólares do mercado de ações e 1,2 mil milhões do mercado da dívida. O equivalente a 8,7 mil milhões de euros de fluxos de saída. Trata-se de uma trajetória contrária à tendência nas economias emergentes: globalmente (excluindo a China), os mercados emergentes atraíram, em outubro, 9,2 mil milhões de dólares (9,1 mil milhões de euros) nos mercados de ações e 8,7 mil milhões de dólares (8,6 mil milhões de euros) nos mercados de dívida, ainda segundo dados do IIF.
O índices das bolsas chinesas (Xangai, Shenzhen e Hong Kong) perderam cerca de 25% desde início do ano, segundo dados do portal investing.com. Até final de setembro, a capitalização acumulada das três bolsas caiu 4,2 biliões de dólares (4,16 biliões de euros), de acordo com os dados mais recentes da World Federation of Exchanges. Os dados de outubro ainda não estão disponíveis neste portal das bolsas de todo o mundo. A bolsa de Xangai é a terceira maior do mundo em capitalização, depois das duas bolsas de Nova Iorque (NYSE e Nasdaq).
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