
Quais os desafios da política monetária face ao disparo da inflação mundial e às críticas dos políticos? Os dois mais poderosos banqueiros centrais do mundo, Christine Lagarde e Jerome Powell, estão a ser postos à prova
Quais os desafios da política monetária face ao disparo da inflação mundial e às críticas dos políticos? Os dois mais poderosos banqueiros centrais do mundo, Christine Lagarde e Jerome Powell, estão a ser postos à prova
Jornalista
As críticas ao Banco Central Europeu (BCE) por parte dos governos da zona euro subiram de tom em outubro. Espanha, França, Itália, Portugal e até a “frugal” Finlândia mostraram abertamente o desagrado com a estratégia de subida das taxas do BCE e o seu impacto deliberado em contrair a procura interna. Leia-se, em forçar as famílias e as empresas a passar um mau bocado, com a carestia de vida a dominar a economia do dia-a-dia e o encarecimento do crédito a asfixiar as contas mensais.
Christine Lagarde na semana passada, no centenário do banco central da Letónia, admoestou mesmo os políticos europeus: “Acabem com qualquer recomendação para estimular a procura”. E, na última conferência de imprensa depois da reunião em que decidiu subir pela segunda vez os juros em 75 pontos-base, respondeu às críticas de um modo direto: “Não estaremos nunca dependentes nem da política orçamental nem dos mercados financeiros”.
Giorgia Meloni, a nova primeira-ministra de Itália, foi a mais contundente contra as intenções do BCE, logo no discurso de tomada de posse em Roma, dois dias antes da última reunião de política monetária do banco do euro. Por cá também ouve alertas: Marcelo Rebelo de Sousa pediu ao BCE para repensar “a subida em galope das taxas de juro” e António Costa recomendou “prudência na normalização da política monetária”. Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, respondeu em entrevista ao Público: "Manter a inflação elevada teria um custo recessivo ainda maior.”
Mas a revolta contra a francesa que manda em Frankfurt está muito longe dos insultos de Donald Trump, quando inquilino da Casa Branca, contra os “malucos” da Reserva Federal (Fed) e não ousa dar o passo que o presidente da Turquia, Tayyp Erdogan, deu há muito: ele é que define a taxa do banco central e as ordens são para cortar.
A independência dos bancos centrais face aos governos, que se tornou regra há mais de três décadas, está a passar por um ‘teste’: apertar a política monetária mesmo que isso leve as economias à beira de uma nova crise passados apenas dois a três anos da maior recessão desde a Grande Depressão. Algo que os governos não vão poder tolerar quietos, ainda para mais num contexto de tensões geopolíticas e de subida do populismo interno.
Em Washington DC, Jerome Powell ainda acredita numa “aterragem suave” da economia norte-americana, e em Frankfurt, Lagarde admite uma “recessão suave” na zona euro. O que acalmaria o ciclo político, assim o desejam os líderes dos dois mais poderosos bancos centrais, esperando que, por 2024 ou 2025, a inflação esteja em trajetória descendente para a meta de 2%.
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