NATO lança fundo de mil milhões para 'startups' e avisa Rússia sobre consequências de ciberataques

David van Weel, assessor do secretariado geral da NATO com a pasta das ameaças emergentes, veio à Web Summit cativar startups para a indústria da defesa, mas pelo meio deixou um aviso a Moscovo, Rússia. “Acreditamos que provavelmente não vai surgir um grande ciberataque. O que vamos ver são várias cibercampanhas que vão tentar bloquear as nossas infraestruturas críticas, como temos visto acontecer na Ucrânia. Basicamente, é uma atualização cibernética de um ataque material. Estamos a tentar mandar esta mensagem para a Rússia: não façam esse tipo de coisas contra a NATO”, avisou o responsável da NATO.
Trabalhar para a indústria da defesa ainda tem o estigma social que se atribui a quem trabalha na indústria petrolífera, ou sectores que não se pautam nem pela sustentabilidade nem pelo respeito dos direitos humanos, mas van Weel recorda que nem todos os receios chegam para uma realidade incontornável: “todos precisamos da Defesa”.
Sendo um dos “nomes sonantes” da recém-estreada linha de conferências de cibersegurança na Web Summit, van Weel admitiu que há um equilíbrio a manter na Internet – mas não forneceu pistas sobre a tipologia ou o grau de severidade que poderiam levar a NATO a ripostar face a um ciberataque.
“Se indicarmos o limiar a partir do qual é desencadeada uma reação coletiva, então passamos a dizer a todas as pessoas que abaixo desse limiar não há problema. E não é esse sinal que queremos passar”, refere o responsável da NATO.
Os ataques de gravidade extrema também não foram esquecidos: “Avisámos o senhor (Vladimir) Putin (presidente da Rússia) que nenhuma guerra nuclear pode ser ganha”, referiu o responsável da NATO, numa alusão aos efeitos nefastos que o uso de bombas nucleares poderá ter na Ucrânia.
A guerra da Ucrânia confirma que as tecnologias têm uma preponderância estratégica cada vez maior – e esse é também o mote usado por van Weel para a apresentação de um plano que também pode ser encarado como uma tentativa de acompanhar o curso dos tempos.
Foi devido à Inteligência Artificial que as forças ucranianas passaram a conseguir analisar as comunicações russas com uma velocidade que dificilmente os espiões de carne e osso conseguiriam providenciar. O recurso à impressão 3D permitiu produzir componentes para armas danificadas; e o reconhecimento oficial foi usado para identificar soldados russos suspeitos de crimes de guerra.
E algumas das maiores marcas tecnológicas já revelaram que apoiam o governo ucraniano na retaguarda com diferentes ferramentas. “Esta é uma das razões que por que a Ucrânia tem tido sucesso a expulsar os russos (de terrenos conquistados)”, sublinha van Weel.
O sistema de localização por GPS veio dos laboratórios militares, e a ARPANET, o embrião ancestral da atual Internet, também. Mas agora é a vez de fazer o caminho inverso – e encontrar soluções nos laboratórios civis que possam fazer a diferença nas operações militares.
Para a NATO, já não faz sentido esperar uma média de 10 anos até que uma inovação criada num qualquer laboratório ganhe as certificações necessárias e se torne operacional a nível militar. Até porque empresas como a Amazon, que disponibilizam drones para entregas de compras, já mostraram que os ciclos de inovação podem ser bem mais curtos.
E por isso a NATO lançou um programa de investimento em startups de mil milhões de euros, para a captação de inovações que possam ser úteis para a indústria da defesa. O plano suportado por 22 países aliados e gerido a partir de Londres poderá implicar uma percentagem de capital das startups. As inovações entretanto criadas vão poder tirar partido de uma rede de nove aceleradoras de negócio e 47 centros de testes na Europa.
“Estamos recetivos ao sector comercial da defesa, que é hoje o principal o motor de inovação e principal modelo de negócio”, recorda David van Weel, dando como exemplo o facto de os orçamentos em investigação e defesa das empresas do sector já terem superado há muito o orçamento aplicado na mesma área pelo governo americano.
“O nosso objetivo é unir pessoas disruptivas para dar forma a um futuro em paz e para nos podermos defender”, acrescentou David van Weel.
O ano de 2023 deverá funcionar como o primeiro do programa de captação de novas ideias e negócios com o carimbo da NATO e o nome “DIANA”.
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