Economia

Revolut estuda empréstimos imobiliários e quer ser "tão importante como o JP Morgan"

Nik Storonsky, na Web Summit em 2019
Nik Storonsky, na Web Summit em 2019
Ricardo Lopes / Revolut

O banco digital Revolut diz ter um milhão de contas em Portugal. Na Web Summit o seu fundador, Nikolay Storonsky, que este ano renunciou à nacionalidade russa, falou da vontade de entrar no crédito imobiliário

Nikolay Storonsky, o fundador da Revolut, sempre foi russo… até há dois dias. “Entre março e abril”, o líder do banco digital Revolut teve de tomar a decisão difícil de abandonar a nacionalidade que lhe foi dada à nascença para manter aquela que foi adquirida quando se mudou para o Reino Unido, aos 20 anos, ainda como estudante. E só agora o processo ficou concluído. “Renunciar à cidadania russa deve-se, obviamente, ao facto de estar contra a guerra (na Ucrânia), e também porque o nosso negócio está na Europa, e tenho vivido no Reino Unido nos últimos 16 anos”, disse esta quarta-feira num encontro com alguns órgãos de comunicação portugueses, durante a Web Summit.

A renúncia de nacionalidade não terá sido especialmente difícil do ponto de vista burocrático – mas seguramente que produziu impacto emocional. Até porque o pai do líder da Revolut é ucraniano e emigrou para a Rússia aos 16 anos de idade. Ser russo ou ucraniano poderia não fazer muita diferença durante a União Soviética, porque era “tudo visto como um único país”, mas em 2022, Storonsky nem hesita em considerar a invasão russa dos territórios orientais da Ucrânia como um “desastre”.

A renúncia à nacionalidade também terá evitado outro tipo de males. E talvez por isso o empresário, que agora é só britânico de nacionalidade, negue ter sido alvo de pressão ou ter estado sequer na mira das autoridades que decidem a aplicação de sanções a oligarcas russos. “Nunca vivi, nem fiz negócios na Rússia”, acrescenta.

Mesmo com a demarcação pessoal face ao governo e aos oligarcas russos, Nik Storonsky tem bem presentes os potenciais efeitos que a guerra pode ter na economia. E se há crise, há também uma potencial oportunidade de negócio.

“Quando a economia encolhe torna-se perigosa para organizações que gerem muitos créditos, porque as pessoas podem falhar nos pagamentos. Geralmente a avaliação dos bancos costuma cair bastante, porque uma parte considerável do portefólio entra em incumprimento de pagamento de dívidas. Em contrapartida, é bom criar um portefólio em tempos de baixa da economia; pode ser uma boa oportunidade, por permitir fazer dinheiro quando chegarem tempos melhores”, explica.

“Quando criamos esse portefólio em alta geralmente acontecem estas crises e perde-se dinheiro”, acrescenta o gestor.

A Revolut ainda não depende dos créditos à habitação, mas poderá aproveitar a lógica dos “altos e baixos” da economia para mudar de estratégia. Storonsky admite que a Revolut está a trabalhar para entrar no segmento dos empréstimos à habitação, mas lembra que “não será rápido”, sem avançar detalhes que permitam apurar se a marca vai ou não aproveitar a possível crise económica que aí vem para criar um negócio que poderá ser rentabilizado depois, em momentos de bonança.

De resto, a diversificação tem vindo a ser explorada também no segmento empresarial, que hoje totaliza mais de 10% do negócio da Revolut.

A banca digital é o meio em que se mexe, e por isso Nik Storonsky descarta rapidamente qualquer evolução que leve aos convencionais balcões bancários. Mas não desiste de ser tão grande como os maiores. “Queremos construir uma empresa que seja tão importante quanto o (banco) JP Morgan”, responde quanto aos objetivos que tem para a Revolut.

Em Portugal, o banco já está em consolidação – ou pelo menos, é essa a imagem que fica depois de a empresa apresentar, na Web Summit, um balanço que aponta para um milhão de clientes já angariados.

A equipa de Storonsky garante que o mercado nacional é importante – e a contratação de profissionais para o hub de tecnologia e inovação que opera no País continua em curso.

No roteiro do crescimento está também a estreia na Índia, que está já em curso, e para o próximo ano prevê-se a ida para o México e ainda Brasil. “A China está muito longe (de acontecer); é um mercado muito complexo”, diz.

Em paralelo, a Revolut iniciou o lançamento de uma plataforma que permite trocar mensagens – e também enviar dinheiro entre pessoas e empresas. O que leva a crer que serviços como o MB Way terão, em breve, mais concorrência.

Sendo um negócio europeu, a Revolut nem sempre se dá por satisfeita com a regulação: “Com uma regulação precisa e fácil de entender não seria possível ter interpretações erradas”, defende Storonsky, assumidamente a medir as palavras quando fala de regulação.

Mas, perante o mosaico legal dos 27 estados-membros da UE, não evita mais um reparo: “As regras deveriam uniformes – e não são atualmente, e vemos exemplos de vários países que aplicam regras que só valem localmente”. A UE tem regras mas “não estão harmonizadas” e “há também casos de discriminação”, reitera. O negócio continua como sempre; no futuro se verá o que muda.

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