O BCP registou um novo aumento nos lucros nos primeiros nove meses do ano. Passaram de 59,5 milhões de euros nos primeiros nove meses de 2021 para 97,2 milhões de euros no mesmo período deste ano.
“Resultados muitíssimo afetados pelos resultados extraordinários relacionados com a Polónia”, lamentou-se Miguel Maya, o presidente executivo do BCP, na conferência de imprensa que teve lugar esta segunda-feira, 31 de outubro, no Tagus Park, em Oeiras.
Há um ano, o grupo tinha atingido lucros de 59,5 milhões de euros, penalizados sobretudo pelos custos com os créditos suíços concedidos na Polónia e com a reestruturação que teve lugar na operação em Portugal.
Entre janeiro e setembro deste ano, tal voltou a acontecer, mas o resultado em Portugal compensou de forma mais significativa. A atividade em Portugal gerou 295,7 milhões de euros, quando o lucro nacional tinha sido de 115 milhões no mesmo período do ano passado. Um crescimento que compensou o agravamento do prejuízo na Polónia (impacto de 198,5 milhões face aos 55,7 milhões homólogos).
O banco da Polónia, de que o BCP tem 50,1% do capital, continua a custar dinheiro, agora com o reconhecimento antecipado de custos relacionados com moratórias de crédito extensíveis a todo o sector bancário polaco. Em causa estão os créditos à habitação que foram concedidos nesta sucursal que estavam indexados ao franco suíço (prática que esteve em vigor até 2008, mas cuja herança se faz sentir).
Foi muito por esta razão que a rubrica de imparidades e provisões passou de 726 milhões de euros, entre janeiro e setembro de 2021, para 1 078 milhões de euros, nos mesmos meses deste ano.
Ainda assim, o BCP alcançou um lucro consolidado que se aproximou dos 100 milhões de euros.
Mais margem, mais comissões
Olhando para os resultados consolidados, o banco comandado por Miguel Maya obteve um crescimento de 33% da margem financeira (mais expressiva na atividade internacional), superando os 1,5 mil milhões de euros. “Naturalmente com forte contributo das operações internacionais, suportado por taxas de mercado muito relevantes na Polónia”, explicou o CEO.
Já as comissões bancárias subiram 7% (graças sobretudo a Portugal, "fruto do aumento da base de clientes e da transacionalidade").
Os custos recuaram 7%, caindo de forma mais expressiva em Portugal. A quebra dos custos com pessoal face ao ano passado ajuda a explicar a evolução. Em setembro, o banco contava em Portugal com 6.257 trabalhadores (menos 254 anos face há um ano), dispersos por 408 agências.
Lucro dispara, mas longe da meta
Na conferência, o CEO quis frisar que sem a situação no polaco Bank Millennium, os lucros disparariam muito mais: “Se tirássemos toda a fatia de impactos extraordinários na Polónia, o resultado ter-se-ia situado nos 536 milhões de euros, com um crescimento na ordem dos 125%”.
De qualquer forma, e num contexto em que a esquerda política aponta para eventuais lucros extraordinários com o contributo das taxas de juro em alta, Miguel Maya ressalvou que “é bom ter sempre muito presente que o ROE [retorno sobre o capital] continua claramente abaixo do que pretendemos alcançar, abaixo do custo de capital do banco”, diz. Ficou em setembro em 2,5%, acima do homólogo 1,4%, mas longe da meta de 10% prevista para 2024.
Capital recua
Os recursos dos clientes (depósitos, fundos, outros) aumentaram 3,5% para 91,1 mil milhões de euros, com crescimentos tanto em Portugal como nas operações internacionais. A nível de crédito, o aumento foi de 1,1% para 58,6 mil milhões de euros, aqui com ajuda da operação nacional (o câmbio prejudicou as atividades fora do país). Houve um recuo de 408 milhões de euros nos ativos tóxicos (como crédito malparado), descendo o rácio de 4,9% para 4,1%.
Relativamente ao capital, os rácios de capital recuaram ligeiramente. O mais exigente, conhecido como CET1, desceu de 11,8% para 11,4%, mas teria ficado ao mesmo nível se o banco já tivesse recebido a autorização regulatória para uma contabilização mais favorável das posições cambiais.
De qualquer forma, está acima do mínimo exigido pelo Banco Central Europeu de 9,16%. Ainda assim, Maya ressalva – como já tinha feito na apresentação de resultados semestrais – que continua a “exigir do BCP uma gestão muitíssimo rigorosa do capital”.
(Notícia atualizada às 17h30)
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