Economia

Venda da Efacec à DST caiu e o Governo está a preparar a reestruturação da empresa

Fernando Veludo/NFactos
Fernando Veludo/NFactos
FERNANDO VELUDO EXCLUSIVO PARA E

Negócio de venda da Efacec à DST, tal como se previa, não vai avançar. E o Executivo começou a trabalhar nos últimos dias em soluções para não deixar cair a empresa

O prazo para prorrogar a venda da Efacec à DST terminou na terça-feira e nessa altura o Governo já sabia que grupo bracarense não podia avançar. Mas, apurou o Expresso, com a votação do Orçamento do Estado marcada para esta quinta-feira preferiu manter a decisão suspensa, para que o debate não fosse perturbado por uma privatização, que continua a falhar. Entretanto, o Eco avançou ao início da tarde que a venda tinha falhado.

Nem o Ministério das Finanças, nem a Parpública quiseram até agora comentar a notícia ou avançar uma confirmação. Desde segunda-feira que o Expresso tem insistentemente questionado as Finanças sobre o ponto de situação do negócio, sem qualquer sucesso.

Limitações impostas por Bruxelas, que considerou que o desenho do negócio configurava um auxílio de Estado, e condições impostas pela DST, acabaram por não permitir que a transação se fizesse.

Já há alguns dias que o Governo sabia que o negócio não avançaria, sabe o Expresso. Os últimos dias têm sido de reuniões ao mais alto nível no Governo, nomeadamente nas Finanças e na Economia, para avançar com uma solução que permitisse que a Efacec, com capitais próprios negativos, não entrasse em rutura.

O Executivo, que nacionalizou a participação de Isabel dos Santos, em meados de 2020, está já trabalhar em soluções que permitam a sobrevivência da empresa, conhecida pelos seus transformadores elétricos e pelos projetos de mobilidade elétrica. A empresa vai ser reestruturada, em moldes que ainda estão em discussão.

Não chegou, sabe o Expresso, a haver uma notificação a Bruxelas. Houve uma pré-notificação da venda da Efacec à DST em maio, mas a Direção Geral da Concorrência Europeia levantou o cartão vermelho, dizendo que o negócio, tal como estava desenhado, configurava um auxílio de Estado. Seria preciso encontrar uma solução criativa para que a operação avançasse.

A empresa tem sido um sorvedouro de dinheiro. Em maio, e já depois de o negócio com a DST ter sido fechado, a Efacec recebeu 50 milhões de euros da Parpública, uma injeção que ficou acordada no âmbito do processo de venda, conforme o Expresso já avançou. Dinheiro que se junta aos empréstimos garantidos pelo Estado e que ascendem a 115 milhões de euros.

Economia a trabalhar numa solução

Esta quinta-feira, no Parlamento, o ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, falou sobre o assunto, dizendo que o Governo está a trabalhar numa solução para a Efacec. E que “brevemente” seria anunciada uma posição pública.

“O Governo está a recolher todos os elementos e brevemente tomaremos uma posição pública”, disse o governante, em resposta ao deputado social-democrata Afonso Oliveira.

António Costa Silva vincou, então, ser “fundamental” encontrar uma “solução para a empresa”, sublinhando: “estamos a aproximar-nos de uma fase de decisões”.

“A minha mensagem é de tranquilidade e de trabalho, que estamos a fazer juntamente com o Ministério das Finanças para chegarmos a uma solução”, vincou.

Contas em acelerada deterioração e falência técnica

Em julho, em entrevista ao “Jornal de Negócios”, António Costa Silva dizia que o risco de a Efacec desistir do negócio, e de a empresa voltar para as mãos do Estado, era “pequeno”. Manter o negócio na órbita do Estado é o que têm pedido os trabalhadores.

José Teixeira, que acordou a compra da Efacec a 25 de março, tinha dito ao Expresso que os problemas, a existirem, não estavam do lado da DST. “No que depender de nós, no estrito cumprimento de todas as regras técnicas, jurídicas, éticas e morais, a transação será feita”, disse o empresário.

O tempo tem sido o pior inimigo de um negócio que o Governo e o ex-ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, esperavam ter concluído no final de 2020, seis meses depois da nacionalização da posição de Isabel dos Santos.

As contas têm piorado de ano para ano e muitos dos seus quadros de topo - uma das mais-valias da empresa - têm saído para a concorrência, ou para fazerem empresas que concorrem com a Efacec. Cumprir contratos tem sido difícil, situação que a pandemia e a disrupção da cadeia logística só vieram piorar.

Em 2021, a empresa teve um prejuízo consolidado de 183,9 milhões de euros, um EBITDA (resultado antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) negativo de 40 milhões de euros e uma dívida líquida de 193 milhões de euros. No primeiro semestre, segundo o “Eco”, a Efacec teve um prejuízo consolidado de 55 milhões de euros, um agravamento face ao prejuízo homólogo de 15 milhões.

Foram muitos os potenciais candidatos à compra da Efacec - chegou a falar-se de três dezenas - mas a dimensão da dívida fez com que apenas dois - a Sodecia e a DST - se mostrassem interessados, ficando depois na reta final um único candidato, o grupo bracarense. Com sinergias e o negócio da mobilidade elétrica em forte crescimento, a DST acreditou que a Efacec lhe acrescentaria valor. Um desejo de José Teixeira que acabou por não se concretizar.


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