Economia

Banco Central Europeu sobe juros em 75 pontos-base

Banco Central Europeu sobe juros em 75 pontos-base
Ralph Orlowski

A equipa de Christine Lagarde subiu, pela segunda vez, as taxas diretoras em 75 pontos-base. Esta quinta-feira, imitou, de novo, a Reserva Federal (Fed) norte-americana. Mas, com juros em 2%, a Zona Euro continua longe dos 3,25% nos EUA

O Banco Central Europeu (BCE), na sua penúltima reunião de política monetária do ano, decidiu esta quinta-feira subir as taxas diretoras em 75 pontos-base (três quartos de ponto percentual). É a segunda vez na história do euro que aumenta os juros com esta dimensão, seguindo o ritmo de aperto monetário aplicado pela Reserva Federal norte-americana (Fed) desde junho. A taxa principal de financiamento subiu para 2% e a taxa de remuneração dos depósitos dos bancos comerciais no BCE aumentou para 1,5%.

Segundo o comunicado, “com este terceiro grande aumento consecutivo das taxas diretoras, o Conselho do BCE avançou consideravelmente com a eliminação da acomodação da política monetária”. Desde o início do ciclo de subidas em julho, os juros já aumentaram 200 pontos-base (2 pontos percentuais), o mesmo que na Coreia do Sul e no Reino Unido, mas abaixo do aperto na Islândia, Canadá, EUA, Nova Zelândia e Austrália.

O BCE reafirma que continuará a subir as taxas, pois "a inflação permanece demasiado elevada e continuará a ser superior ao ao objetivo [2%] do BCE durante um período prolongado".

No entanto, não antecipa a magnitude dos aumentos futuros. Mantém a estratégia de decidir reunião a reunião com base nos dados da conjuntura e olhando em particular para a evolução da inflação, o impacto das medidas de política monetária já tomadas e o atraso temporal na transmissão das medidas.

A próxima reunião realiza-se a 15 de dezembro, e contará com a apresentação de novas projeções macroeconómicas. Nas previsões apresentadas em setembro, o BCE apontava para 2023 para um forte abrandamento do crescimento económico (0,9%) e a manutenção da inflação acima de 5%, bem acima do objetivo da política monetária (2%). Admitia inclusive um cenário alternativo de recessão na zona euro (-0,9%). Na reunião desta quinta-feira, o BCE avança que o crescimento abrandou significativamente no terceiro trimestre de 2022 e que deverá continuar a enfraquecer nos últimos meses do ano. Prevê, ainda, que a tendência continue no início de 2023.

Mesmo com estes riscos claros de enfraquecimento da economia, o BCE reafirma a sua intenção de apertar a política monetária: o objetivo declarado é "reduzir o apoio à procura e prevenir o risco de uma persistente deslocação em sentido ascendente das expectativas de inflação". No próprio discurso oficial, onde as alterações cirúrgicas no uso de palavras têm um significado político, O BCE passou a considerar que “os riscos estão claramente no sentido descendente”, substituindo “principalmente” por “claramente”.

Mesmo admitindo riscos de claro enfraquecimento da economia, o BCE reafirma a sua intenção de apertar a política monetária: o objetivo declarado é "reduzir o apoio à procura e prevenir o risco de uma persistente deslocação em sentido ascendente das expectativas de inflação"

Recorde-se que a equipa liderada por Christine Lagarde decidiu na reunião de 14 de setembro aumentar, pela primeira vez na história do euro, em 75 pontos-base as suas taxas diretoras. Desde janeiro de 1999, as decisões de aumento das taxas foram, na esmagadora maioria dos casos, ‘suaves’, de 25 pontos-base. Apenas três vezes, em novembro de 2004, junho de 2008 e junho de 2021 (quando iniciou o atual ciclo de subidas) os aumentos foram de 50 pontos-base, o máximo até setembro passado.

Mesmo depois desta subida para 2%, a taxa diretora principal do BCE continua muito abaixo dos juros fixados pela Fed (atualmente no intervalo entre 3% e 3,25%) ou pelo Banco do Canadá, que decidiu, esta semana, aumentar a taxa para 3,75%. Oito economias desenvolvidas registam juros dos bancos centrais acima do BCE. Em relação à Fed e ao Banco de Inglaterra, a distância ainda se vai ampliar mais depois das reuniões destes dois bancos centrais no começo de novembro.

O conselho decidiu manter a estratégia de reinvestimentos nos dois programas de compra de ativos já descontinuados.

Duas mudanças na gestão do balanço do BCE

A reunião decidiu ainda dois ajustamentos com implicações na gestão do balanço do BCE.

Em relação às linhas de financiamento de prazo alargado para os bancos (série TLTRO III), o conselho decidiu “ajustar as taxas de juro aplicáveis (…) a partir de 23 de novembro de 2022 e oferecer aos bancos datas adicionais de reembolso antecipado voluntário”. No balanço do BCE, estas linhas financiaram 2.116 mil milhões de euros. Esta recalibração subirá o custo das linhas de financiamento aos bancos. O objetivo é, agora, reduzir a margem extra que os bancos podiam ganhar com estas linhas de refinanciamento e dar incentivos aos seus reembolsos, o que reduzirá os ativos naquela rubrica.

O conselho decidiu ainda, no campo dos depósitos dos bancos no BCE, “alinhar mais estreitamente a remuneração das reservas mínimas obrigatórias detidas pelas instituições de crédito junto do Eurosistema com as condições no mercado monetário”. Nesse sentido, “as reservas mínimas serão remuneradas à taxa de juro da facilidade permanente de depósito do BCE” (que subiu para 1,5%) a partir de 21 de dezembro. Ou seja, a remuneração, neste caso, baixa, pois, era similar à taxa diretora principal (atualmente em 2%). A medida abrange apenas 3% dos depósitos globais dos bancos no Eurosistema que somavam 4,8 biliões de euros a 24 de outubro. Ou seja, abrange pouco mais de 145 mil milhões de euros. O grosso dos depósitos dos bancos no BCE está atualmente na facilidade de depósito, envolvendo 4,6 biliões de euros.

Na reunião de 15 de dezembro iniciar-se-á a discussão dos princípios sobre a estratégia de redução do balanço do BCE - que tem ativos no valor de 8,77 biliões de euros, dos quais quase 5 biliões em títulos comprados ao abrigo dos programas de política monetária desde 2014. A definição destes princípios será anterior a qualquer decisão de dar o tiro de partida da redução dos ativos (o que na linguagem dos banqueiros centrais se designa por “aperto quantitativo”, QT no acrónimo em inglês).

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