“Temos trabalhado os três (Portugal, Espanha e Alemanha) para que a França se possa mostrar de novo aberta a esta solução", afirmou o primeiro-ministro aos jornalistas, em Berlim, no final do encontro com os chefes dos Governos alemão e espanhol. Diz o primeiro-ministro, que esta "não é uma forma de pressão" sobre o Presidente francês, mas, na prática, põe em cima da mesa os argumentos e os aliados para pressioná-lo mudar de posição.
"(França) não vai querer seguramente estar isolada nesta posição que é comum", diz Costa, referindo-se ao apoio que há a nível europeu para a criação de mais interconexões entre a Península Ibérica e os restantes 27, sobretudo numa altura em que é consensual a necessidade de se diversificarem os fornecedores de gás e as fontes de energia.
Há anos que Lisboa e Madrid se batem por deixarem de ser uma ilha energética. E se houve alturas em que Emmanuel Macron - e, antes dele, François Hollande - mostrou abertura a um novo gasoduto, nos últimos tempos o Presidente francês tem sido muito crítico da construção do chamado MidCat através dos Pirenéus. A última vez que dinamitou o projeto foi na semana passada, na cimeira informal de Praga.
França invoca questões ambientais e questiona a necessidade de um novo gasoduto, quando o que existe atualmente com Espanha não é utilizado na máxima capacidade (algo que o Governo espanhol já veio contrariar). Só que por detrás desta posição de força estão também "interesses económicos", que passam pela ambição de Paris para exportar mais eletricidade (e gás) para o resto da Europa, sem a concorrência ibérica.
Costa "compreende" esses interesses, mas espera que, em troca, Macron também perceba que o contexto atual veio mostrar que é preciso "diversificar" e que "a Península Ibérica tem capacidade de produzir energia renovável", e, no futuro, também poderá produzir e exportar hidrogénio verde. É certo que um novo gasoduto levaria 5 a 8 anos a ser construído e, no curto prazo, não resolve o problema urgente de substituição do gás russo. Mas, a médio e longo prazo, poderia ser uma solução para a Europa e um investimento rentável para os dois países do sul.
No jogo de pressão, lembra ainda aos franceses que "se não for possível ligar a França", ainda existe a possibilidade de uma ligação através de Itália. No entanto, também assume que o que "faz sentido" é a "ligação através dos Pirenéus", que é também menos dispendiosa.
Só que sem a bênção de Paris não haverá MidCat e, por isso, resta a Costa e Sánchez insistir nos argumentos. Para isso contam outro socialista, o chanceler alemão. Olaf Scholtz tornou-se um potencial aliado quando a Rússia lhe fechou a torneira do gás, mostrando que a aposta alemã num grande fornecedor tem consequências desastrosas. Porém, não é em Berlim que se decide.
"Aqui em Berlim não se desbloqueou nada que tenha de ser tratado com Paris", assume Costa, que tem já encontro apalavrado com Sánchez e Macron antes da cimeira da próxima semana. "Não sei se em Bruxelas ou Paris", diz, mas tudo aponta para um encontro na capital belga, quarta ou quinta-feira, antes do arranque do Conselho Europeu, marcado por mais uma tentativa para fazer baixar os preços do gás.
Costa com esperança nas compras conjuntas de gás
Costa espera que seja desta que saiam "decisões efetivas" da reunião de líderes e uma solução conjunta para fazer descer os preços da energia. O encontro em Praga, há uma semana, serviu para trocar ideias e aproximar posições, mas há divergências que se mantêm entre os 27.
Portugal é um dos 15 países que defende a fixação de um preço máximo para as importações de gás, juntamente com Espanha, França, Itália ou Bélgica. Mas a Alemanha continua a ser contra, argumentando que "fixar um preço máximo cria um risco no fornecimento", podendo afastar os fornecedores.
O primeiro-ministro acredita que o "ponto de consenso" pode passar pelas compras conjuntas de gás. "Se houver compra conjunta, na prática, podemos todos contribuir para obter um melhor preço na aquisição do gás dos vários fornecedores".
Os chefes de Estado e de Governo dos 27 reunem-se na quinta e sexta-feira. Mas para que haja avanços é também preciso que a Comissão Europeia ponha propostas legislativas concretas em cima da mesa, algo que tem adiado fazer nas últimas semanas. Na terça-feira se saberá se vai ou não propor a aquisição conjunta de gás, ou a imposição de um preço máximo às importações.
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