A Reserva Federal norte-americana (Fed) decidiu-se esta quarta-feira por um novo aumento de 75 pontos-base (três quartos de ponto percentual). É a terceira subida consecutiva desta dimensão desde junho colocando, agora, os juros no intervalo entre 3% e 3,25%.
A decisão foi tomada por unanimidade., apesar da pressão nos mercados para um aumento de 100 pontos-base (1 ponto percentual), o que seria a primeira subida com essa dimensão desde 1988. Ainda esta semana, o Nobel da Economia Robert Shiller tinha avançado à CNN Business que essa dimensão de 100 pontos-base seria “um bom número”.
A pressão para a continuação de uma subida robusta da taxa diretora continua a vir da evolução do surto inflacionista na economia norte-americana - apesar da descida da inflação geral de um pico de 9,1% em junho para 8,3% em agosto, a inflação subjacente (excluindo as componentes mais voláteis da energia e da alimentação) subiu, de novo, acima de 6% em agosto, invertendo a trajetória de descida desde março. Nas previsões da Fed publicadas esta quarta-feira, a inflação média anual deverá atingir 5,4%, para descer para 2,8% e 2,3% nos dois anos seguintes.
Os banqueiros centrais da Fed preveem, agora, que a taxa diretora possa fechar 2022 em 4,4% e chegar a um pico de 4,6% no próximo ano, segundo as projeções publicadas esta quarta-feira.
Em termos de taxa diretora, a diferença em relação à zona euro é, agora, de 1,75 a 2 pontos percentuais, depois do Banco Central Europeu (BCE) ter decidido a 8 de setembro um aumento histórico de 75 pontos-base, subindo os juros para 1,25%..
Em setembro, as maiores subidas de taxas foram protagonizadas pelos bancos centrais da Mongólia, com um aumento de 200 pontos-base (2 pontos percentuais), da Suécia, Costa Rica e Chile que aumentaram os juros em 100 pontos-base. O Banco Central Europeu; Banco do Canadá e Banco Nacional da Dinamarca procederam a aumentos de 75 pontos-base.
Nas economias desenvolvidas, a Fed está, agora, em lugar cimeiro no nível de taxas de juro, no mesmo patamar do Banco do Canadá (3,25%) e do Banco da Reserva da Nova Zelândia (3%). As taxas mais baixas registam-se no Japão e na Suíça, ainda com taxas negativas (de -0,1% e -0,25% respetivamente), e na Dinamarca (0,65%) e Zona Euro (1,25%).
A diferença em relação aos juros na zona euro é, agora, de 1,75 a 2 pontos percentuais
Os futuros apontam para uma probabilidade superior a 70% de uma subida da taxa diretora para o intervalo entre 4,25% a 4,5% no final do ano, segundo os dados da plataforma CME Fed Watch. A agenda da Reserva Federal aponta, este ano, para mais duas reuniões, a 2 de novembro e 14 de dezembro.
Os responsáveis da Fed, a começar pelo seu presidente Jerome Powell, têm insistido na sua determinação em apertar a política monetária, e encarecer o custo do dinheiro, até ao nível que for necessário para consolidar uma trajetória de descida da inflação em direção á meta de estabilidade de preços em 2%. Powell já reconheceu que o atual ciclo de subida dos juros provocará “alguma dor nas famílias e nas empresas”.
Os analistas financeiros chamam a atenção para o comportamento da curva dos juros da dívida pública nos Estados Unidos que está claramente “invertida” com as taxas de curto e médio prazo acima da taxa a 10 anos. Após o anúncio da decisão da Fed, o juro dos títulos do Tesouro a 10 anos estava em 3,57%, enquanto as taxas de 12 meses a 7 anos estavam acima, o que reflete o ‘sentimento’ dos investidores exigindo juros mais elevados para o endividamento do Tesouro no curto e médio prazo. Esta “inversão” da curva é apontada como um presságio de uma contração da economia no horizonte.
A Fed decidiu ainda prosseguir com a estratégia de redução dos seus ativos, nomeadamente da carteira de títulos adquiridos no período de expansão monetária. Desde o pico em abril, a carteira de títulos já emagreceu 96,7 mil milhões de dólares (cerca de 98 mil milhões de uros). A carteira soma, agora, 8,4 biliões de dólares (cerca de 9,5 biliões de euros).
Recessão no horizonte
Os bancos centrais continuam a apertar a política monetária por todo o mundo - com exceção da China, Turquia e Rússia - , apesar do aviso do Banco Mundial de que o risco de recessão mundial em 2023 aumentou.
Aquela organização internacional avançou este mês com dois cenários alternativos mais pessimistas para o próximo ano, um implicando um abrandamento económico mundial severo para 1,7% e outro considerado recessivo com o PIB a crescer apenas 0,5% e o PIB per capita a cair 0,4%. Este horizonte é, contudo, mais suave do que as recessões de 2009 (quebra do PIB de 1,3%) e 2020 (afundamento histórico do PIB em 3,3%) e do que o próprio abrandamento de 1982 (crescimento de 0,4%). Para os economistas do Banco Mundial, uma quebra do PIB per capita é sinalizadora de uma recessão.
O Banco Mundial avançou cum um cenário alternativo muito pessimista de uma quebra do PIB per capita em 2023 indiciando uma situação recessiva
Nas projeções publicadas esta quarta-feira pela Fed, os banqueiros centrais norte-americanos não preveem uma recessão este ano nem no próximo, mas apontam para uma derrapagem em 2022, com o crescimento de apenas 0,2%. Para 2023 apontam para 1,2%. Estas novas previsões representam uma revisão muito significativa em relação à dinâmica de crescimento avançada nas projeções de junho; então, apontava-se para 1,7% de crescimento em 2022 e 2023.
Recorde-se que, nas projeções macroeconómicas avançadas pelo BCE na reunião de setembro, os economistas de Christine Lagarde admitiam um cenário alternativo pessimista em que a zona euro registaria uma recessão de 0,9% em 2023 com uma inflação média anual ainda muito elevada, perto de 7%..
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