Economia

Portugal é o país europeu que menos mulheres chama às administrações bancárias (e Novo Banco insiste nisso na nova equipa)

Luísa Soares da Silva, administradora executiva do Novo Banco
Luísa Soares da Silva, administradora executiva do Novo Banco
NUNO BOTELHO

Análise da DBRS a 43 bancos europeus deixa Portugal na pior posição no que diz respeito à presença feminina em conselhos de administração

O Novo Banco acabou de propor ao Banco Central Europeu (BCE) a nova composição no seu Conselho Geral e de Supervisão, o órgão que acompanha e fiscaliza o trabalho da liderança executiva, em que constam dez nomes, apenas dois deles femininos. É, mesmo assim, uma melhoria, face à anterior estrutura, que contava apenas com um elemento em dez membros (10%).

Na equipa executiva, recentemente aprovada pelo Banco Central Europeu (BCE), a percentagem sobe ligeiramente para 14%: sete membros e apenas uma gestora, Luísa Soares da Silva (na foto).

O Novo Banco é um dos três bancos portugueses, a par da Caixa Geral de Depósitos e do Banco Comercial Português, entre os 43 europeus utilizados pela agência americana DBRS num estudo publicado esta terça-feira, 20 de setembro, sobre "diversidade de género nos conselhos de administração dos bancos europeus”. Foram analisadas entidades de 13 países europeus.

“Notamos que, em média, em 2021, usando a amostra de 43 bancos europeus, as mulheres ocupam apenas 37% dos assentos nas administrações, um número que desce para 26% quando se considera a presença feminina nas equipas de gestão. A representação feminina no cargo de presidente executiva é ainda mais baixa: apenas cinco dos 43 bancos europeus tinham CEO mulheres”, isto é, 12%, assinala a nota da agência de notação financeira canadiana.

Dados da supervisão financeira do ano passado já mostravam que as mulheres ocupam um quarto das equipas executivas (25%) e um terço (33%) das administrações.

Portugal com 23% de média

Em Portugal, nenhum dos bancos – nem outros com posição de relevo no país – conta com uma CEO. A CGD tem desde o fim do ano passado oito membros da comissão executiva, três dos quais são mulheres (38%), sendo que alargando para o conselho de administração, em que se encontram membros sem funções executivas, são 17 elementos e seis mulheres (35%), em linha com a média calculada pela DBRS.

O BCP mudou de equipa este ano, em que reforçou a presença feminina, sendo que a administração em funções no fim de 2021 tinha 23,5% dos membros do género feminino.

No Novo Banco, como referido, as percentagens são bem inferiores - mas o BCE tem aprovado estas composições sem paridade de género, sendo que terá agora de pronunciar-se sobre o novo Conselho Geral e de Supervisão.

“Os países nórdicos estão na liderança da lista, com as maiores representações femininas na Dinamarca, com 55%, seguida da Noruega, com 50%, e da Suécia, com 48%, ao passo que a Alemanha e Portugal apresentam a representação feminina nas administrações mais reduzida, de 29% e 23%, respetivamente”, segundo a DBRS.

Há várias quotas, inclusive em Portugal, para empresas cotadas, mas muitas vezes não são respeitadas; até são os próximos supervisores, selecionados pelo Governo, que estão em incumprimento das próprias regras que lhes são exigidas: só agora com os nomes propostos pelo Ministério das Finanças é que o Banco de Portugal e a CMVM vão passar a cumprir a representação mínima do género sub-representado (que é quase sempre o feminino), já que atualmente nenhum deles cumpre: o supervisor bancário tem apenas uma administradora em cinco; não há nenhuma mulher na cúpula da CMVM agora em funções.

Poucas CEO

Havendo poucas mulheres nas administrações, acaba também por não haver liderança no feminino: “é de sublinhar que se as quotas de género parecem ter feito a diferença, é preciso agir mais para que a paridade de género chegue às presidências”, escreve a agência. DNB, Handelsbanken, NatWest, Nationwide e o Bank of Ireland são os bancos que têm mulheres na presidência executiva.

A DBRS adianta ainda que uma mais forte presença feminina nas administrações bancárias costuma corresponder a bancos com avaliações de rating mais elevadas. Há algumas razões para isso, na ótica da entidade, já que há investigação “indica que a representação feminina mais elevada nas administrações reduz a frequência de coimas por condutas irregulares e melhora a cultura de trabalho”. Também permite uma variedade de abordagens e experiências, acrescenta.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

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