

Chama-se Iberblue Wind e visa juntar os recursos de uma empresa irlandesa e os de duas espanholas para apostar na energia eólica no mar. A nova empresa, que é apresentada esta segunda-feira, já tem na mira o leilão de eólicas offshore que o Governo português está a preparar. “Queremos trazer a nossa experiência em outros países, como Reino Unido e Irlanda, para Portugal”, diz ao Expresso Adrián de Andrés, vice-presidente da Iberblue Wind.
Depois de ter estudado a energia das ondas e de ter trabalhado nessa área, Adrián de Andrés tem-se dedicado ao promissor mercado das eólicas no mar. Fê-lo para o Xodus Group, em Edinburgo, entre junho de 2019 e janeiro de 2022. E desde então continuou a trabalhar na área das eólicas offshore para a Simply Blue, onde é desde o início do ano diretor de desenvolvimento de mercados.
A Simply Blue é um dos vértices do triângulo que agora dá pelo nome Iberblue Wind, e que é composto também pelas empresas espanholas Proes Consultores e FF New Energy Ventures.
A Iberblue Wind tem como objetivo assumido “concorrer ao desenvolvimento de projetos em Portugal” e Adrián de Andrés diz ao Expresso que já manifestou ao Governo português a sua intenção em concorrer ao leilão eólico no mar que Portugal prevê realizar. O desenho desse leilão ainda está a ser trabalhado. A fasquia foi colocada nos 10 gigawatts (GW) de capacidade.
Sabe-se, para já, que a intenção do Governo é colocar em licitação pelo menos três áreas ao largo da costa portuguesa, e que os consórcios que irão disputar o leilão deverão apresentar contrapartidas para o país, como o desenvolvimento de capacidade industrial em terra para construir os equipamentos, ou parte deles, que serão instalados no mar.
“Queremos desenvolver em Portugal pelo menos dois projetos, no Norte e no Centro”, avançou Adrián de Andrés, notando que, devido à preocupação com economias de escala, a Iberblue Wind estará a projetar parques eólicos de pelo menos 500 megawatts (MW) de capacidade.
Admitindo que a Iberblue Wind pretende “maximizar a incorporação nacional”, o gestor nota que, para vir a ser bem sucedida no leilão eólico offshore português, a joint venture precisa primeiro de se relacionar com as administrações portuárias, já que para poder vir a construir parques eólicos em águas portuguesas o consórcio precisa de conseguir áreas relativamente grandes para os estaleiros nos portos, e com alguma profundidade.
Adrián de Andrés nota que a nova geração de parques eólicos flutuantes que a Iberblue Wind quer construir em Portugal terá plataformas triangulares com 80 metros de cada lado, o que obrigará a ter espaço para poder fazer a montagem em terra destas enormes estruturas.
Portugal já teve, de resto, uma experiência neste domínio, com a construção das plataformas para o parque Windfloat, que está em operação ao largo de Viana do Castelo, com três torres com bases triangulares flutuantes, que suportam aerogeradores de 8,4 MW. Cada uma destas bases tem 50 metros de comprimento entre cada uma das três colunas flutuantes.
As estruturas do Windfloat foram desenvolvidas pela empresa norte-americana Principle Power (que tem entre os seus acionistas a EDP e a norueguesa Aker Offshore Wind), que pretende comercializar a sua tecnologia para diversos promotores de parques eólicos flutuantes, embora não esteja sozinha nessa corrida, já que há outras soluções flutuantes para torres eólicas em desenvolvimento por outras empresas.
Adrián de Andrés garante ao Expresso que a Iberblue Wind ainda não selecionou uma tecnologia para os projetos que poderá desenvolver em Portugal. Certo é que terá sempre de ser uma solução flutuante, dada a elevada profundidade de água ao largo da costa portuguesa. Ao contrário de vastas áreas do Norte da Europa, que acolhem parques eólicos marítimos em águas rasas, o leito marinho português apresenta um acentuado declive, que inviabiliza, tecnicamente, o uso de torres eólicas offshore com colunas fixas.
O vice-presidente da Iberblue Wind acredita que o portefólio de projetos em desenvolvimento do consórcio, que ascende a 10 GW, espalhados pela Irlanda, Reino Unido, Estados Unidos e Suécia, é um importante cartão de visita.
A que custo?
Consórcios como a Iberblue Wind terão vários desafios para transformar em realidade o que para já está no plano das intenções. Um desses desafios é o licenciamento. Adrián de Andrés admite que parques eólicos no mar podem levar “oito a dez anos para serem desenvolvidos”. Outro ponto crítico é o preço.
Ainda não se sabe quais serão as regras do leilão eólico offshore do Governo português, mas os leilões solares puseram os concorrentes a competir pelo preço e conseguiram em vários lotes preços historicamente baixos para a energia que será gerada nessas novas centrais.
Adrián de Andrés aponta para os 80 euros por megawatt hora (MWh) como uma referência em termos de custo nivelado da energia eólica offshore, isto é, o preço a que teoricamente estes parques precisarão de vender a sua eletricidade para recuperar o investimento dentro do tempo de vida útil da infraestrutura, garantindo retorno para quem investe. Mas o custo efetivo dependerá de vários fatores, como sejam a dimensão do parque, a sua localização (podendo estar numa área que capte mais ou menos vento), os custos de construção e as economias de escala.
O responsável da Iberblue Wind indicou ao Expresso que o consórcio está a desenvolver “uma abordagem ibérica”. Além de Madrid, a empresa terá um escritório em Portugal, que “provavelmente será no Porto”. A nível ibérico a ambição do consórcio é concorrer a oportunidades de negócio em torno dos 2 GW. Em Espanha a Iberblue Wind está a olhar em especial para a Galiza e para a Andaluzia.
A Simply Blue, uma peça-chave na engrenagem da Iberblue Wind, tem como acionista a gestora de fundos Octopus Renewables, um veículo britânico de investimento em energias limpas lançado em 2010 e que gere atualmente ativos renováveis de mais de 3 GW em sete países.
Além da Iberblue Wind, o leilão eólico português, que deverá ser realizado em 2023, já suscitou interesse da EDP e da Engie, bem como da espanhola Iberdrola, da dinamarquesa Orsted, entre outras empresas ligadas às energias renováveis.
O leilão chegou a ser anunciado em maio deste ano pelo secretário de Estado da Energia, João Galamba, com uma capacidade indicativa a licitar de 6 a 8 GW, mas pouco depois o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, elevou a ambição para os 10 GW.
Recorde-se que Portugal tem atualmente instalada uma capacidade eólica de 5,6 GW, quase toda em terra (a excepção são os 24 MW do parque offshore Windfloat).
Os dois primeiros leilões solares do Governo, realizados em 2019 e 2020, disponibilizaram uma nova capacidade da ordem dos 2 GW, pelo que, a concretizar-se, o leilão eólico offshore será a maior licitação do setor energético já realizada em Portugal.
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