Economia

Centeno defende que não se adoptem medidas pró-cíclicas contra a inflação

Centeno defende que não se adoptem medidas pró-cíclicas contra a inflação
JOSÉ SENA GOULÃO

“Devemos todos ter a consciência da necessidade de ter esta perspetiva mais longa nestes processos”, vincou o responsável do supervisor bancário

O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, defendeu hoje que não se devem implementar medidas pró-cíclicas para responder ao impacto da inflação.

“Aquilo que eu volto a apelar é para que não se promovam políticas pró-cíclicas que depois possam vir a ter que ser corrigidas com outras políticas”, disse Mário Centeno em declarações aos jornalistas à margem das conferências do Estoril, que começaram hoje na Nova School Business & Economics (SBE), em Cascais.

O ex-ministro das Finanças foi questionado sobre o impacto da inflação, numa altura em que o Governo se prepara para aprovar na próxima segunda-feira o pacote de medidas de apoio ao rendimento das famílias.

Para o responsável do supervisor bancário, “não devemos ser exuberantes quando a economia cresce, quando o desemprego está em mínimos históricos, quando os salários crescem mais do que cresceram nos últimos anos, quando a economia está em recuperação”.

Mário Centeno justificou que, posteriormente, quando houver um período de desaceleração essas políticas tendem a ter uma restrição maior sobre si próprias e tendem a ser também nesses momentos pró-cíclicas, que, disse, “é tudo o que devemos evitar”.

“Há uma regra básica das políticas económicas, que é evitar a pró-ciclicidade”, vincou, considerando ser necessária uma “enorme” coordenação de políticas a nível nacional e europeu.

“Devemos olhar para os números, devemos olhar para a realidade, para aquilo que o mercado de trabalho nos diz. Os salários estão a crescer em Portugal, em média, próximo de 4%, o crescimento do emprego nas declarações feitas à segurança social é próximo dos 6%”, disse.

Apesar de admitir que todos devem "ficar preocupados, agir como consumidores, como decisores de política face a números como aquele" que tem sido visto da inflação, Centeno acredita que se deve olhar para a situação com “alguma tranquilidade”.

“Devemos todos ter a consciência da necessidade de ter esta perspetiva mais longa nestes processos”, vincou, exemplificando que os preços em termos anuais de algumas matérias-primas, como o cobre e o alumínio, já começaram a descer.

Centeno reiterou a convicção de que a inflação vai desacelerar e "voltar paulatinamente, provavelmente mais paulatinamente do que desejávamos, para níveis compatíveis com os objetivos do Banco Central Europeu".

O responsável do regulador bancário argumentou ainda que a sustentabilidade precisa de ser ancorada a duas palavras: compromisso e sustentabilidade.

“Compromisso porque temos um plano, temos de o seguir e temos de concretizar. E temos de mostrar a toda a gente que estamos a concretizar. É a única forma de alcançar a cooperação, de evitar a frustração. Cooperação porque precisa de ser inclusivo. Há perdedores, há vencedores, sabemos isso”, disse.

Para Mário Centeno, “a sustentabilidade não será entregue na nossa casa sem esforço”.

Defendeu ainda “paciência” para alcançar os objetivos nesta área.

“Ser paciente é o contrário de inércia. Precisamos de ser pacientes, porque precisamos de permitir que a tecnologia e novas instituições se estabeleçam”, disse.

O governador deixou ainda o apelo: “Não devemos desistir agora desta luta”.

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