Economia

Presidente da TAP "cautelosamente otimista" face ao futuro. 990 milhões devem chegar até ao final do ano

Presidente da TAP "cautelosamente otimista" face ao futuro. 990 milhões devem chegar até ao final do ano
Ricardo Lopes

Christine Ourmières-Widener afirma que os resultados no primeiro semestre são melhores que o previsto no plano de reestruturação, mas admite que há muitas ameaças e incerteza no futuro, como os custos dos combustíveis, a variação cambial e a inflação

Apesar de os resultados da TAP terem melhorado, uma vez que os prejuízos diminuíram no primeiro semestre deste ano de 493,1 milhões de euros para 202,1 milhões de euros, a presidente da TAP, Christine Ourmières-Widener, considera-se "cautelosamente otimista" em relação ao futuro, uma vez que há ainda muita incerteza e muitas ameaças a pairar sobre o sector. Não obstante, a gestora sublinhou, em conferência de imprensa esta terça-feira: "A recuperação das receitas e da rentabilidade está a ter um bom desempenho. E isso deixa-nos satisfeitos"..

A TAP espera receber até ao final deste ano os 990 milhões de euros que falta injetar de dinheiro público na companhia, ao abrigo do plano de reestruturação, assegurou a presidente da TAP. Mas a companhia só deverá voltar ao mercado em 2023, e este ano ainda terá prejuízo. O ministro das Infraestruturas; Pedro Nuno Santos, chegou a apontar para 54 milhões de euros de prejuízo, este ano, mas a gestora prefere não adiantar estimativas.

O administrador financeiro da TAP, Gonçalo Pires, esclareceu que a companhia deverá ir ao mercado apenas no segundo semestre de 2023, ou seja, já não será em 2022, ao contrário do que se chegou a admitir, que a transportadora irá levantar junto de investidores privados o empréstimo de 360 milhões de euros previsto no plano de reestruturação.

Às críticas e manifestações inéditas dos trabalhadores, nomeadamente pilotos, tripulantes e trabalhadores da manutenção, Christine Ourmières-Widener respondeu que uma gestão "só pode ser julgada pelos resultados que apresenta". "Eu penso que estamos a apresentar bons resultados, [...] espero que hoje não haja dúvidas que a gestão da TAP está a fazer um bom trabalho", defendeu. E admitiu que a negociação dos acordos de empresa é um dos grandes desafios que tem pela frente. Vincou mais uma vez que não tem condições para repor as condições que os trabalhadores tinham em 2019, pré-covid, uma vez que tem um compromisso com Bruxelas que tem de cumprir.

Impossível reverter cortes


Christine Ourmières-Widener sublinhou que "é completamente impossível pensar que se pode reverter" os acordos de emergência assinados em dezembro 2020. Acordos que levaram as cortes salariais de 25% para generalidade dos trabalhadores, chegando aos 50% no primeiro para os pilotos. Hoje o corte dos pilotos está nos 35%, mas o SPAC, que tem sido muito crítico desta gestão quer que estes desçam para 25%.
Às críticas e manifestações dos trabalhadores, nomeadamente pilotos, tripulantes e trabalhadores da manutenção, Christine Ourmières-Widener afirmou que uma gestão "só pode ser julgada pelos resultados que apresenta". "Eu penso que estamos a apresentar bons resultados, [...] espero que hoje não haja dúvidas que a gestão da TAP está a fazer um bom trabalho", defendeu.


Também em resposta a uma das críticas dos sindicatos, o recurso da TAP a contratos ACMI (aluguer de aviões com tudo incluído - Aircraft, Crew, Maintenance e Insurance - avião, pessoal, manutenção e seguros), Christine Ourmières-Widener desdramatizou. Defendeu tratar-se de "prática clássica da indústria", sublinhando que a necessita de recorrer aos ACMI resultou também da necessidade de colmatar atrasos na entrega de aviões da Embraer para a Portugalia, que já deveria ter 19 aviões a voar a neste momento, mas tem ainda lhe falta receber quatro das aeronaves pedidas..

Gonçalo Pires, esclareceu que desde o início da aplicação do plano de reestruturação a TAP já poupou 137 milhões de euros em resultado da renegociação de contratos com fornecedores, valor que deverá aumentar ao final do ano.

As ameaças: do combustível aos problemas nos aeroportos

Não obstante, a melhoria das contas, a TAP e todo o sector enfrentam muitos desafios, desde a incerteza geopolítica, à subida dos combustíveis - que se deve manter alta até ao final do ano, passando pela inflação, a valorização do dólar, a flutuação cambial (importante por causa do Brasil) e a disrupção dos aeroportos, nomeadamente do de Lisboa.


No topo das preocupações está o custo do combustível, que ascendeu a 400 milhões de euros, no primeiro semestre. Mais do que face ao mesmo período de 2020. A TAP, estima a presidente, deverá gastar cerca de 1.000 milhões de euros em 'jet fuel' este ano.


A disrupção dos aeroportos é um problema para as companhias, e tem sido este ano uma das grandes responsáveis pelos atraso e cancelamentos, responsáveis pelo desvio de 14 mil passageiros da TAP este ano. Por isso, Christine Ourmières-Widener, defende uma decisão para a localização da nova infraestrutura aeroportuária para a região de Lisboa para breve. "Como é que se planeia para um aeroporto que ainda não está decidido?", perguntou.

A TAP como maior operadora do aeroporto de Lisboa, onde está situado o seu hub, acaba por ser penalizada pelas limitações de expansão do Humberto Delgado.

Sobre o negócio de manutenção e engenharia no Brasil (ME Brasil), que a TAP encerrou este ano, o administrador financeiro esclareceu que a empresa já não é operacional, ou seja, não tem qualquer manutenção em curso, e tem menos de 20 trabalhadores. Está em fase de liquidação de dívidas e não se espera que tenha impacto negativo nas contas futuras.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: ACampos@expresso.impresa.pt

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