Em protesto contra a forma como a TAP está a ser gerida, numa manifestação que juntou pela primeira vez pilotos, tripulantes e técnicos de manutenção, várias centenas de trabalhadores da companhia, convocados pelos sindicatos, manifestaram-se esta terça-feira, em Lisboa, numa marcha silenciosa até ao Ministério das Infraestruturas. O gabinete do ministro Pedro Nuno Santos já emitiu um comunicado onde apela ao "sentido de responsabilidade" dos trabalhadores, e à necessidade de cooperarem para transformarem a companhia "numa empresa rentável e sustentável".
Fora da manifestação desta quarta-feira entre os grandes sindicatos ficou o SITAVA, o maior sindicato da TAP, onde estão representados sobretudo os trabalhadores de terra. Depois da manifestação dos pilotos a 2 agosto, onde estiveram presentes quase 400 pilotos, este é mais um sinal de que os trabalhadores da TAP não vão baixar os braços em luta pela recuperação dos cortes salariais, e em protesto contra os despedimentos feitos desde 2020, cerca de 2500 pessoas.
"Os despedimentos na TAP saem caros a todos", podia ler-se, segundo a Lusa, num dos cartazes na manifestação desta terça-feira.
Pedro Nuno Santos está a par da situação, como assegura em comunicado, mas tem dado sobretudo espaço à gestão da TAP para gerir o dossiê. O Ministério das Infraestruturas e da Habitação salienta que "tem acompanhado de perto as reivindicações e os apelos expressos pelos trabalhadores da TAP ao longo dos últimos meses". E diz compreender "o momento difícil por que passam todos aqueles que, todos os dias, permitem à companhia operar".
"É preciso não esquecer que a companhia aérea atravessa ainda aquele que é o momento mais desafiante da sua história", sublinhou. A TAP, acrescentou, "vive as consequências do ano dramático de 2020, quando o encerramento da empresa foi apenas travado pela injeção de fundos públicos, por parte do Estado português, num valor que vai atingir os 3,2 mil milhões de euros".
O Ministério das Infraestruturas, como tem feito, aliás, a gestão da TAP, salienta que esta situação dos trabalhadores resulta do acordo feito com a Comissão Europeia, uma condição imposta para que fosse permitida a injeção de dinheiro público. O Ministério tutelado por Pedro Nuno Santos recordou que o plano " aprovado há menos de oito meses, só foi autorizado porque contou com um substancial contributo por parte dos trabalhadores, traduzido na redução do número de efetivos na empresa (um processo já encerrado) e na redução dos salários dos trabalhadores que permaneceram na TAP".
O Ministério aponta que "o processo de redução de custos laborais na empresa resultou de acordos assinados com 14 organizações representativas dos trabalhadores, que demonstraram enorme sentido de responsabilidade e de compromisso com a recuperação da empresa".
"Num momento em que o plano de reestruturação está a ser executado com sucesso - mesmo num contexto internacional muito exigente, do ponto de vista económico e operacional, o Ministério das Infraestruturas e da Habitação conta com o mesmo sentido de responsabilidade e de compromisso por parte dos trabalhadores para transformar a TAP numa empresa rentável e sustentável no futuro", frisa o gabinete de Pedro Nuno Santos.
A comissão executiva da TAP, liderada por Christine Ourmières-Widener, também já veio esta terça-feira repudiar o que diz ser "a constante tentativa de ataques à sua credibilidade e competência", feita pelos sindicatos. A gestão assegurou ainda que "está, desde sempre, disponível, para o diálogo com todos os sindicatos" e que "presta toda a informação que é solicitada e procura, de boa fé, esclarecer todas as questões e dúvidas que são suscitadas".
Porém, Christine Ourmières-Widener salientou não estar disponível para dialogar "com os sindicatos através de comunicados de imprensa ou de declarações públicas que possam gerar títulos de notícias".
Uma marcha inédita junta centenas à porta de Pedro Nuno Santos
Num protesto conjunto inédito na história de mais de sete décadas da TAP, centenas de trabalhadores da TAP, entre pilotos, tripulantes de cabine e técnicos de manutenção, manifestam-se esta terça-feira, em Lisboa, deslocando-se até ao Ministério das Infraestruturas, onde entregaram uma carta à tutela.
Pelas 8h30, descreve a agência Lusa, pilotos, tripulantes de cabine e técnicos de manutenção de aeronaves, maioritariamente fardados ou vestidos de preto e branco, começaram a concentrar-se na praça do Campo Pequeno, de onde seguiram em silêncio para o Ministério liderado por Pedro Nuno Santos, que fica próximo do local, onde iriam entregar uma carta ao ministro.
Entre os cartazes levados pelos trabalhadores, explica a Lusa, leem-se frases como "se agora contratam a peso de ouro, porque é que despediram?", ou "os despedimentos na TAP saem caros a todos".
O protesto foi convocado pelo Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), o Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) e o Sindicato dos Técnicos de Manutenção de Aeronaves (SITEMA).
O objetivo desta marcha, sublinham, "é a melhoria contínua da qualidade do serviço que presta aos seus clientes e a sustentabilidade da própria empresa, mantendo os elevados padrões de segurança da operação pelos quais fomos sempre reconhecidos".
"Os trabalhadores e os passageiros estão juntos quando viajam e estão juntos nesta luta pelo alinhamento entre as opções de gestão e aquilo que o país necessita da TAP", dizem os três sindicatos, afirmando ainda que "os aviões [da TAP] não voam sem pilotos, sem pessoal de cabine e sem uma boa manutenção nem chegam a sair do chão".
Após terem entrado no Ministério para a entrega de um manifesto dirigido a Pedro Nuno Santos, ao som de palmas e assobios dos trabalhadores que encheram a Rua Barbosa do Bocage, os líderes dos três sindicatos prestaram declarações à comunicação social, para reiterar as acusações que têm vindo a fazer à gestão.
"Aquilo que nós queremos é que, efetivamente, desta vez seja aproveitada esta reestruturação para fazer da TAP aquilo que ela merece ser: uma empresa competitiva, uma empresa que aporte um valor ao país e à economia nacional e que, basicamente, possamos utilizar a TAP ao longo do tempo, mas que a TAP não seja um peso para os contribuintes", afirmou o dirigente do SITEMA, Paulo Manso, citado pela Lusa. O sindicalista lembrou que já passou por outra reestruturação da companhia aérea, em 1994, "idêntica a esta" e cujos resultados "não foram bons".
Os problemas da TAP, defendeu Paulo Manso, não se resolvem com despedimentos, mas sim com "uma reestruturação feita como deve de ser, envolvendo os trabalhadores" e que, "acima de tudo, na parte da gestão, sejam tomadas medidas racionais".Sublinhou ainda que está a ser desperdiçado dinheiro "todos os dias" e que os passageiros não estão a ser devidamente tratados, o que leva a que os sindicatos não vejam "com bons olhos o rumo que a TAP está a tomar".
Tiago Faria Lopes, presidente do SPAC, apontou o dedo ao que diz ser uma "gestão desastrosa" e reiterou os acordos de emergência assinados no final de 2020, que permitiram a aprovação do plano de reestruturação e que inclui cortes salariais, "já não fazem sentido nenhum neste momento". "Esta gestão não faz um único ato que nós consigamos dizer que ‘sim senhora, foi um bom ato de gestão'. Não o está a fazer, não o fez e temos dúvidas que assim o fará", afirmou o representante dos pilotos.
Sobre a reação da TAP, esta manhã, onde esta acusa os sindicatos de dialogar através de comunicados, o dirigente do SNPVAC, Ricardo Penarroias, sublinhou a ironia das declarações, uma vez que, disse, foi através da comunicação social que os sindicatos souberam da mudança da sede, ou da intenção de denunciar os acordos de empresa.
"Se o SNPVAC e o SPAC não tivessem assinado o acordo de emergência, como teria feito a TAP com menos 750 tripulantes de cabine, num despedimento coletivo? Com menos 500 pilotos? Como é que a companhia teria sobrevivido? Teríamos aquela 'TAPzinha' que o senhor ministro nunca quis, mas afinal é o que temos?", atirou o representante dos tripulantes de cabina.
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