A EDP ganhou a arbitragem que a opunha ao Governo, na qual exigia a devolução da contrapartida paga em 2008 ao Estado para ficar com a concessão da barragem de Fridão, que nunca chegou a avançar
É um revés para o Governo: segundo apurou o Expresso, a EDP ganhou o processo arbitral no qual reclamava ao Estado a devolução da contrapartida paga pela concessão do aproveitamento hidroeléctrico de Fridão, obra que nunca saiu do papel. Os juízes da arbitragem deram razão à elétrica, o que obrigará o Governo a um encargo extra: 218 milhões de euros.
Segundo as informações que o Expresso recolheu, a decisão deu razão à EDP quanto ao montante da contrapartida, mas isentou o Estado de suportar outras despesas adicionais exigidas pela EDP, incluindo juros de mora.
O tribunal arbitral concluiu no sentido de declarar o contrato resolvido por incumprimento definitivo do Estado, embora a decisão não tenha sido unânime. Um dos três árbitros pronunciou-se a favor do Estado.
Assim, a decisão foi a de reconhecer o direito da EDP a ser reembolsada dos 218 milhões de euros pagos em 2008 ao Estado, mas outros pedidos da elétrica, nomeadamente a título de indemnizações e juros, foram julgados improcedentes. No total, entre o prémio pago em 2008 e as indemnizações, a EDP reclamava 352 milhões de euros.
A decisão chega no mesmo dia em que as lideranças da EDP e do Governo estiveram juntas em Alqueva, na inauguração de uma central solar flutuante que teve um investimento de 6 milhões de euros.
Na inauguração estiveram presentes o primeiro-ministro, António Costa, o presidente executivo da EDP, Miguel Stilwell de Andrade, o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, e o secretário de Estado do Ambiente e da Energia, João Galamba.
O ambiente durante a cerimónia foi cordial e descontraído, mas o primeiro-ministro e o ministro do Ambiente abandonaram o local logo após os discursos da cerimónia de inauguração. Do Governo, apenas o secretário de Estado do Ambiente e da Energia permaneceu em Alqueva para uma visita à central fotovoltaica, juntamente com o CEO da EDP e outros convidados.
Embora por norma as decisões arbitrais não sejam passíveis de recurso, tecnicamente, o Estado ainda poderá tentar fundamentar o direito a recorrer desta decisão.
O litígio em torno de Fridão começou em 2019, quando a EDP notificou o Estado da intenção de abrir uma arbitragem para reclamar o direito a ser ressarcida dos 218 milhões de euros.
A empresa argumentou que a construção da barragem não avançou porque o Governo anunciou que este empreendimento já não era necessário no planeamento energético nacional. Mas o Governo, por seu turno, foi argumentando que a EDP é que veio protelando o projeto e se desinteressou da sua construção.
A contrapartida de 218 milhões de euros foi paga ao Estado pela EDP em 2008, depois de a empresa vencer um dos lotes do concurso que o Governo de José Sócrates lançou para aproveitar o potencial hidroeléctrico do país.
Nesse concurso o maior cheque foi pago pela espanhola Iberdrola, entregando ao Estado cerca de 300 milhões de euros pelo direito a construir o complexo hidroeléctrico do Alto Tâmega, obra que vai ser inaugurada na próxima segunda-feira, com a presença do primeiro-ministro, António Costa.
Alguns dos projetos desse plano acabaram por não avançar, como foi o caso de Fridão.
O recurso à arbitragem foi uma decisão da EDP quando a elétrica era ainda liderada por António Mexia, que em junho de 2019 atirava para o Governo a responsabilidade. “A EDP não decidiu nada, quem decidiu foi o Estado, isto é claríssimo”, declarou então o gestor.
Resta saber agora onde irá o Governo buscar o dinheiro para ressarcir a EDP. Recorde-se que as contrapartidas das barragens financiaram diretamente o Orçamento do Estado do governo de José Sócrates, sem que esse encaixe tenha sido canalizado para aliviar as tarifas de eletricidade suportadas pelos consumidores portugueses.
Nota: notícia atualizada às 17h23 com mais informação sobre o montante total que era reclamado pela EDP no processo.
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