Economia

BCP sai do “lixo” para a Moody’s, mas malparado e capital são desafios pela frente

Miguel Maya, presidente executivo do BCP
Miguel Maya, presidente executivo do BCP
Ana Baião
Foi em julho de 2011 que a Moody's colocou o rating da dívida de longo prazo do BCP em "lixo". Quase 11 anos depois, voltou atrás
BCP sai do “lixo” para a Moody’s, mas malparado e capital são desafios pela frente

Diogo Cavaleiro

Jornalista

A Moody’s deixou de considerar que a dívida sénior de longo prazo do Banco Comercial Português é especulativa, e voltou, esta terça-feira, 14 de junho, a classificá-la com uma notação financeira positiva. Saiu, assim, do “lixo”, ainda que sejam deixados vários avisos por parte da agência de rating americana. Desde 2011 que não acontecia.

“O Banco Comercial Português, S.A. informa que a agência de notação financeira Moody's, no âmbito da sua revisão regular, atribuiu notação de Investment Grade ao rating da dívida sénior unsecured do BCP, que passou de Ba1/Prime-2 para Baa3/Prime-2”, explica a instituição financeira no comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

O Baa3 é o último nível de rating em que a Moody’s aconselha investimento, embora veja sinais especulativos, mas é um patamar superior àquele em que o rating do banco liderado por Miguel Maya se encontrava, inserido no "lixo" obrigacionista. Foi em julho de 2011, pouco depois do pedido de ajuda externa de Portugal, que a classificação de risco fora empurrada para a categoria especulativa, à semelhança do que aconteceu com os restantes grandes bancos. Em 2021, a Caixa Geral de Depósitos voltou a terreno positivo, na sequência da melhoria de nota da dívida portuguesa, mas só agora o BCP seguiu esse caminho.

De acordo com o comunicado à CMVM, esta decisão reflete “a redução do stock de non-performing assets [ativos não produtivos, como crédito malparado e imóveis] e a melhoria dos níveis de capitalização nos últimos anos, a melhoria da rendibilidade doméstica, que permite compensar o impacto das provisões para o risco legal na Polónia”.

Também o plano de financiamento do banco em execução é visto com bons olhos pela Moody’s. É por ele que o banco conseguirá captar investidores para o financiarem e aceitarem o risco de enfrentar perdas em caso de dificuldades, o chamado MREL – requisitos mínimos de passivos exegíveis para a absorção de perdas. Até ao fim de 2023, o BCP irá contribuir para a emissão de até 2 mil milhões, segundo o comunicado feito pela Moody’s sobre este tema, sendo que já no ano passado fez emissões de mil milhões.

Inflação pode prejudicar ativos

“Simultaneamente, a agência de rating reafirmou o Baseline Credit Assessment (BCA) do Banco e o BCA Ajustado em ba2; os ratings de depósito em Baa2/Prime-2; o rating da dívida sénior não preferencial em (P)Ba2; o rating da dívida subordinada não perpétua em (P)Ba3; e a notação de rating para as ações preferenciais em B2(hyb)”, conta ainda o BCP no seu comunicado à CMVM, mas sem mencionar os aspetos negativos que são referidos no comunicado emitido pela Moody’s.

Estes ratings foram afirmados e não aumentados porque a Moody’s, embora veja a melhoria dos indicadores da qualidade de risco dos ativos, ainda considera que a sua dimensão (não só crédito malparado mas também imóveis) é “elevada”. Além disso, o ritmo de redução deste indicador, que em dezembro estava em 5,9%, deverá reduzir-se, e as pressões inflacionistas podem também afetar o poder de compra das famílias e as margens das empresas, tendo impacto na qualidade dos ativos.

Além disso, a agência americana refere que os níveis de capital do BCP são “modestos”. Sobre o tema Polónia, refere que os “elevados custos legais” vão continuar a prejudicar a rentabilidade do BCP neste tema. No primeiro trimestre, o banco que tem a Fosun e a Sonangol como principais acionistas apresentou uma quase duplicação de lucros para 113 milhões de euros.

“O outlook dos ratings de longo prazo para os depósitos e para a dívida sénior unsecured mantém-se estável, refletindo a perspetiva da Moody's de que a qualidade de crédito do Banco se mantenha estável ao longo do horizonte de análise”, conclui ainda o BCP sobre o comunicado da Moody’s.

A Moody’s é uma das quatro agências que avalia o BCP, juntamente com S&P, Fitch e DBRS, todas com perspetivas estáveis para a classificação de risco atribuída. Destas, S&P e Fitch atribuem categoria especulativa ao BCP, contando agora com as restantes duas já a avaliá-lo positivamente.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

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