Economia

Sonangol já está a sair de bancos angolanos. BAI é o primeiro a ir para a bolsa

Foto: Getty Images
Foto: Getty Images

O banco angolano BAI, que também está presente em Portugal, vai para a bolsa. Estado angolano arrecada 87 milhões de euros. Sonangol deve sair de mais bancos, e está disponível para reduzir no BCP

Sonangol já está a sair de bancos angolanos. BAI é o primeiro a ir para a bolsa

Diogo Cavaleiro

Jornalista

O Estado angolano, sobretudo através da Sonangol, saiu do capital do maior banco do país. O BAI deixa de ter como acionistas não só a petrolífera – segunda maior acionista do português BCP –, como também a empresa de diamantes Endiama.

Foi por impulso do Fundo Monetário Internacional que este passo foi dado. A entidade impôs em Angola um programa de privatizações e a saída da Sonangol da banca daquela economia africana, exposta aos choques petrolíferos, foi uma das recomendações deixadas. O BAI – Banco Angolano de Investimentos, que se assume como o maior banco do país por ativos e por volume de negócios (crédito e depósitos), foi o primeiro a caminhar para a bolsa.

A forma escolhida para deixar o capital do BAI, que está presente em Portugal através do BAI Europa, foi a colocação de 10% do capital em bolsa, naquilo a que se chama uma oferta pública de venda. A Sonangol colocou à venda a sua participação de 8,5% e a Endiama, a empresa estatal de diamantes, desfez-se da posição de 1,5%, o que perfaz os 10%. A Sonangol era a principal acionista deste banco, sendo a única acionista que tinha uma posição superior a 5%, sendo que depois há na estrutura acionista diversas entidades e outros investidores do país.

Estado angolano arrecada 87 milhões de euros

De acordo com os resultados divulgados pela Bodiva, a bolsa angolana, a procura pelas novas ações disponíveis superou em 1,58 vezes a oferta. Houve 2852 investidores com ofertas válidas, mas só foram aceites 842, que foram aqueles que apresentaram um preço igual ou superior ao valor a que as ações estavam a ser oferecidas.

Com esta operação, a Sonangol e a Endiama conseguiram cerca de 40,1 mil milhões de kwanzas, montante que corresponde a perto de 87,1 milhões de euros. Cada ação foi alienada a 20.640 kwanzas (44,79 euros, ao câmbio atual), que era o intervalo máximo da oferta. Todo o capital do BAI vai ser admitido à negociação no próximo dia 9 de junho, pelo que todos os investidores podem depois comprar ou vender participações no mercado.

Além de Angola, onde conta com 156 canais de distribuição e quase 2 mil funcionários, o grupo BAI está presente no sector financeiro português, contando ainda com atividade em Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Em Portugal, o BAI Europa, que emprega 63 funcionários, tem um ativo de 667 milhões de euros, contando com cerca de mil clientes. Em 2021, obteve um lucro de 2,4 milhões de euros.

No programa de privatizações, a Sonangol deveria sair também do capital de outras instituições financeiras, como o Banco Caixa Geral Angola, o BCI e o Banco Económico, de que é a maior acionista (e onde o Novo Banco tem cerca de 10%), e que foi intervencionado pelo supervisor angolano.

Sonangol disponível para sair do BCP

A necessidade de a Sonangol sair dos vários sectores onde estava, que não ligados diretamente com o petróleo, levanta dúvidas sobre a continuidade no capital do BCP. Aliás, já houve mesmo um comunicado oficial do banco no fim de 2020.

“O BCP confirmou hoje junto da administração da Sonangol que esta embora mantenha a sua estratégia em relação ao Banco está atenta a eventuais movimentos de consolidação bancária na zona euro e em Portugal, e que, como investidor, analisará, sempre em estreita articulação com o Banco e os demais acionistas estratégicos, eventuais oportunidades de criação de valor que possam fazer sentido para a Sonangol, para o Banco e para os seus acionistas”, segundo nota à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

Neste momento, a Fosun tem quase 30% do capital do BCP, não tendo autorização do Banco Central Europeu para superar a fasquia de um terço, e a Sonangol, com 19,44% do capital, está interessada em desinvestir. Os dois têm estado alinhados, nomeadamente na definição de órgãos sociais: ainda recentemente estiveram juntos na proposta para a nova administração.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate