A empresa X contacta a empresa Y e diz que há uma possibilidade de negócio dentro de seis meses. Em boa parte das empresas, o contacto só volta a ser estabelecido se um dos profissionais das duas empresas tiver anotado na agenda. Mas entre as 300 empresas que usam a plataforma da tecnológica Amplemarket o processo é diferente: a abordagem comercial e o momento de contacto com a empresa que pretende contratar o serviço são definidos por ferramentas de inteligência artificial, tendo por base a análise automatizada de e-mails, chamadas telefónicas e videochamadas. Os humanos vendem melhor com a ajuda das máquinas? Há um grupo de investidores que acredita que sim e, para prová-lo, aplicou 12 milhões de dólares (11 milhões de euros) na Amplemarket para expandir o negócio pelo mercado internacional.
“Temos sede em São Francisco (EUA) e uma subsidiária em Portugal. No total, temos 40 profissionais, mas no início do ano éramos 20. Até ao final do ano, deveremos ser 70. Vamos repartir as contratações entre Portugal e EUA”, explica João Batalha, presidente executivo e fundador da Amplemarket.
No grupo de investidores, figuram a americana Comcast Ventures, a portuguesa Armilar e ainda Paulo Marques, responsável da Feedzai que apoia a Amplemarket a título individual.
Além da componente de marketing, a startup liderada por três jovens portugueses tem em vista aprimorar a eficácia das ferramentas de inteligência artificial para a análise de textos ou áudios que indiciam a predisposição de um gestor de uma empresa para contratar um bem ou um serviço.
“Estamos focados em desenvolver soluções que ajudam nas vendas entre empresas. Mais tarde podemos vir a alargar o raio de ação com ferramentas para o segmento de consumo, mas é algo que ainda não decidimos e que não consta ainda na estratégia que definimos para os tempos mais próximos e que apresentámos aos nossos investidores”, explica João Batalha.
João Batalha já não é um novato no que toca ao mercado americano. Depois do curso tirado no MIT, em Boston, seguiu-se, em 2019, a abertura do negócio, em sociedade com o irmão Luís Batalha e Micael Oliveira, que tinham acabado de se formar no Instituto Superior Técnico.
Hoje, a plataforma ada Amplemarket suporta os 20 idiomas mais falados no mundo. O foco nas empresas não só garante um segmento que envolve transações com valores superiores, como, do ponto de vista legal, pode beneficiar do facto de envolver menos dados considerados “sensíveis”, que costumam dizer respeito à privacidade dos diferentes intervenientes.
Para poderem tirar partido das ferramentas de inteligência artificial, as empresas têm de recorrer a uma plataforma baseada na Internet que analisa correio eletrónico processado com clientes, mas também permite efetuar contactos telefónicos e videochamadas. Em ambos os casos, as comunicações são analisadas por inteligência artificial tendo por base tecnologias produzidas pela Amplemarket e por entidades externas (são usadas algumas ferramentas de Amazon e Google, com as devidas adaptações).
Além do significado de frases e palavras expressas pelos potenciais clientes, a plataforma recolhe outros dados que poderão ser especialmente valiosos durante uma negociação. João Batalha recorda que a análise de textos tem concentrado boa parte dos esforços da jovem empresa, mas há também outras vertentes trabalhadas com o objetivo de garantir maior eficácia nas abordagens comerciais.
“Também estamos a apostar na análise de emoções num contexto de vendas. É um fator que pode ser muito importante para se saber qual a probabilidade de alguém vir a fechar um negócio. Sendo que essa informação pode estar presente nos silêncios, nas pausas ou nas inflexões de voz de uma pessoa enquanto fala com outra”, acrescenta o gestor da Amplemarket.
Além do processamento de e-mails e conversas com novos clientes, a plataforma da Amplemarket pode ser aplicada a contactos e interações do passado. À medida que os dados vão sendo processados, pode ser extraída informação útil que ajuda a ilustrar em que ponto é que se encontram os diferentes processos de venda ou de contacto com os clientes. O modelo de negócio tem por base a cobrança de valores que variam consoante o número de vendedores e ferramentas usadas dentro da plataforma, que está alojada na Internet.
“Estamos num mercado grande e claro que temos concorrentes. Mas a nossa plataforma tem tudo aquilo de que um comercial precisa antes e depois de fechar uma venda”, explica João Batalha. “A nossa plataforma consegue substituir mais que uma ferramenta (dos concorrentes). O que evita que o profissional de vendas tenha de usar várias ferramentas que nem sempre facilitam as tarefas do dia-a-dia, ou a partilha de dados”, conclui o gestor.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: senecahugo@gmail.com
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes