O mercado dos non-fungible tokens, ou NFT (ativos não-fungíveis), irrompeu no mundo da arte com estrondo. Em 2021, a venda de NFT – objetos digitais artísticos cuja propriedade é registada na blockchain, uma espécie de livro de registos digital – alcançou 11,1 mil milhões de dólares (cerca de 10 mil milhões de euros ao câmbio atual), de acordo com o Art Market Report da Art Basel e do banco UBS, divulgado esta semana. Uma subida explosiva face aos 4,6 milhões de dólares (4,1 milhões de euros) de 2020.
Portugal, aproveitando a fama internacional de país crypto-friendly, está a receber diversos eventos internacionais relacionados com a blockchain. Na próxima segunda-feira, a "Non-Fungible Conference" reune, no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa, representantes de todo o mundo desta nova classe de ativos virtuais na blockchain. É a primeira conferência num espaço físico com foco em ativos não-fungíveis na Europa.
Curadores, artistas, coleccionadores, plataformas, especialistas, entre outros profissionais e curiosos irão reunir-se e debater estes ativos virtuais, a sua utilidade no metaverso, questões de segurança (já que o roubo de criptoativos é uma questão muito premente na comunidade), o papel nos mercados da arte, entre outros temas, a 4 e 5 de abril.
São cinco palcos (o palco principal, Balcony, Hand ON, Lightning Talks e Playground) com conversas sobre quatro temas – gaming, arte, coleccionáveis, e o metaverso – três galerias de arte digital, um espaço de compra e venda de NFT e uma competição de cosplay. A organização espera receber entre 1500 e 2000 pessoas. Os bilhetes, com preços na ordem dos 750 euros, já estão esgotados.
O português José Ramos, um dos sete curadores desta conferência que selecionou alguns dos artistas presentes – e ele mesmo artista, especializado em fotografia de Natureza –, disse ao Expresso que "existem muitos artistas, eu incluido, que descobriram o mundo 'cripto' quando entraram no mundo dos NFT". José, médico e fotógrafo, começou a cunhar NFT com as suas fotografias no ano passado e faz hoje parte da comunidade crescente de artistas portugueses com obras na blockchain.
Se para os artistas esta é uma nova e excitante forma de criar e vender arte sem intermediários, quem está do outro lado, isto é, a comprar arte na blockchain? Há vários tipos de coleccionadores atualmente, explica José. Uns "estão virados para o investimento e para uma tentativa de venda rápida a um preço mais alto", os chamados flippers.
Outros, um grupo em crescimento, são coleccionadores "mais focados na arte em si, sem objetivo de lucro rápido", que adquirem os NFT "mais na perspetiva de um coleccionador de arte tradicional", diz. Tal como um coleccionador de arte física acompanha o artista e adquire obras consoante critérios de gosto (mas sem esquecer o lado de investimento), os coleccionadores de ativos não-fungíveis fazem-no da mesma maneira, resume José.
Este é um mercado em mutação constante. E prova disso é a miríade de temas em debate no Pavilhão Carlos Lopes, cuja agenda pode consultar aqui.
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