Economia

Pagamento de gás em rublos exigido por Putin não está a assustar os mercados

Foto: Getty Images
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Apesar de nos dois primeiros dias após o anúncio da exigência de pagamento em rublos o preço dos contratos de referência no gás ter subido, esta sexta-feira, o dia de implementação da medida, os mercados seguem sem sobressalto

A Rússia passou a exigir que os compradores de gás o paguem em rublos a partir desta sexta-feira. Caso a exigência não seja cumprida, o presidente russo, Vladimir Putin, ameaça que poderá cortar o fornecimento. Uma medida que tem como alvo os chamados “países hostis”, que têm sancionado o gigante de leste na sequência da invasão à Ucrânia mas, para já, não parece estar a ter efeito nos mercados de capitais.

“O impacto é neutro”, avalia Mário Martins, membro do conselho de administração ActivTrades. “O mercado tem negociado toda a manhã sem considerar seriamente essa exigência de Putin”, acrescenta Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, ao mesmo tempo que assinala que a referência do gás natural na Europa, o holandês TTF, estava a descer cerca de 7% perto das 15 horas desta sexta-feira. um alívio no “dia D”, depois de nos dois dias após a ameaça de Putin estes contratos terem subido de preço.

Os principais índices europeus - o alemão DAX, o espanhol IBEX 35, francês CAC 40, o holandês AEX - estão a valorizar esta sexta-feira, embora as subidas sejam na maioria modestas, abaixo ou em torno dos 0,5%.

Mas então, porque é que a ameaça não parece estar a surtir efeito? “Para aqueles que recebem gás russo, que pagam pelas entregas, de facto não há qualquer alteração”, indica Paulo Rosa. Por um lado, os contratos de fornecimento de gás estipulam geralmente o pagamento em euros e “seria uma quebra contratual exigir o pagamento exclusivamente em rublos”, explica. Esta é a posição oficial das sete maiores economias do mundo, tal como assinala o analista Eduardo Silva, director geral da XTB Portugal.

Por outro lado, os pagamentos da maioria das entregas de abril vencem apenas em maio. “Assim, a Europa está segura para pagar em euros por mais um mês”, conclui. De acordo com a própria Gazprom, o gás russo continua a fluir para a Europa passando pela Ucrânia, avança a Reuters.

“A Europa central e do leste têm todo o interesse em manter o fornecimento até encontrar forma de diversificar a oferta. A Rússia, sob fortes sanções, precisa de dinheiro para alimentar a guerra. Como ainda existe algum tempo para resolver a questão, os níveis de alerta dispararam mas o bom senso ainda terá alguma margem para encontrar uma solução onde ambos salvem a face”, balança Eduardo Silva.

O que muda com a ameaça?

A exigência do Kremlin determina que entidades pagadoras, por exemplo clientes europeus, terão de abrir conta no Gazprombank, um banco que está sob a alçada da energética russa Gazprom - a empresa estatal que fornece o gás. Depois da conta aberta, o pagamento é feito em euros ou dólares norte-americanos dependendo dos contratos existentes, seguindo-se depois uma conversão para rublos ao câmbio determinado pelo banco central russo, indica a ActiveTrades.

Para pagar em rublos é preciso ter essa moeda em carteira ou consegui-la comprar no mercado, nomeadamente a bancos russos, mas é o Banco Central da Rússia que detém o monopólio de emissão de rublos, alerta Paulo Rosa, quando este banco está sob sanções do ocidente. “Pagamentos apenas em rublos forçariam o ocidente a evitar as suas próprias sanções ou efetivamente marcaria o fim do fornecimento de gás russo para a Europa”, afirma o economista.

Apesar de, para já, não se notarem impactos relevantes, o governo alemão está a preparar o racionamento de gás, por forma a prevenir uma possível interrupção nas entregas da Rússia devido a um impasse na forma de pagamento, informou Berlim na quarta-feira. A Alemanha é especialmente sensível dado que, nos últimos anos, cerca de 55% do gás consumido na Alemanha veio da Rússia.

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