10 março 2022 15:53
Pedro Soares dos Santos, presidente da Jerónimo Martins
Grupo Jerónimo Martins está disposto a algum sacrifício nos lucros para mitigar a subida de preços. Os maiores impactos serão sentidos nas massas, pão, óleos, rações, carne, leite e ovos, admite o empresário
10 março 2022 15:53
“Nestas duas semanas todo o negócio foi fortemente impactado pelo que se está a passar na Ucrânia”, afirma Pedro Soares dos Santos, presidente do grupo Jerónimo Martins admitindo que o momento atual é de “total imprevisibilidade nos negócios”.
“Imprevisibilidade”, “inflação” e “incerteza” foram as palavras mais repetidas na conferência de imprensa desta quinta-feira, na sequência da apresentação das contas do grupo, que fechou 2021 com um crescimento de mais de 48% nos lucros, horas depois da dona do Pingo Doce ter negociado um aumento do preço do leite.
“As minhas previsões, tal como estava habituado a ter, estão muito reservadas e vou mantê-las assim”, afirmou o empresário, sublinhando que “nas mercadorias a inflação é muito superior ao que se diz”, havendo já subidas de 60% nos óleos e de 40% nos cereais, por exemplo.
Antes de pedir “bom senso” à produção na subida dos preços – “as negociações vão ser duras, e é fundamental manter uma oferta a preços acessíveis aos clientes” – afirma que o sector tem pela frente “um grande exercício nas próximas semanas: vai haver uma loucura em termos de tentativas de subida de preços e uma luta para travar isso”.
“Há muitos impactos que ainda são desconhecidos”
O grupo está preparado para sacrificar parte dos lucros neste processo, garante, certo de que “há muitos impactos que ainda são desconhecidos e que vão impactar diretamente nas famílias portuguesas”. Assim, assume a intenção de “mitigar a inflação e equilibrar o que pode passar ao consumidor e o que vai ter de absorver, mesmo que isso implique alguma revisão nos lucros”.
“Nem tudo pode passar para o consumidor porque estaríamos a empobrece-lo de forma muito rápida” e estas coisas têm sempre “mais impacto nas famílias com mais baixos rendimentos”, assume, antes de admitir que as negociações com a produção “não serão nada fáceis”. Ainda esta quinta-feira foi preciso aumentar o preço do leite à produção porque, se não houver produtores, não há leite para comprar”
A pressão em termos de inflação é tão acentuada na Europa como na Colômbia, onde o óleo também já subiu 40%, precisa.
E quais os produtos que serão mais afetados pela escalada da inflação? No caso dos cereais, a subida já vinha de trás, por razões a que a invasão da Ucrânia e a Rússia é alheia, decorrentes da reposição de stocks da China e da seca na América do Sul. Mas o conflito entre dois dos maiores produtores mundiais de milho e trigo agrava esta tendência de alta de preços. Sob pressão, diz o grupo, estão também massas, pão, óleos, rações, e tudo o que tem a ver com a produção animal, das rações à carne, ao leite e aos ovos.