Economia

“A inflação é muito superior ao que se diz”, alerta Pedro Soares dos Santos

Pedro Soares dos Santos, presidente da Jerónimo Martins
Pedro Soares dos Santos, presidente da Jerónimo Martins

Grupo Jerónimo Martins está disposto a algum sacrifício nos lucros para mitigar a subida de preços. Os maiores impactos serão sentidos nas massas, pão, óleos, rações, carne, leite e ovos, admite o empresário

“Nestas duas semanas todo o negócio foi fortemente impactado pelo que se está a passar na Ucrânia”, afirma Pedro Soares dos Santos, presidente do grupo Jerónimo Martins admitindo que o momento atual é de “total imprevisibilidade nos negócios”.

“Imprevisibilidade”, “inflação” e “incerteza” foram as palavras mais repetidas na conferência de imprensa desta quinta-feira, na sequência da apresentação das contas do grupo, que fechou 2021 com um crescimento de mais de 48% nos lucros, horas depois da dona do Pingo Doce ter negociado um aumento do preço do leite.

“As minhas previsões, tal como estava habituado a ter, estão muito reservadas e vou mantê-las assim”, afirmou o empresário, sublinhando que “nas mercadorias a inflação é muito superior ao que se diz”, havendo já subidas de 60% nos óleos e de 40% nos cereais, por exemplo.

Antes de pedir “bom senso” à produção na subida dos preços – “as negociações vão ser duras, e é fundamental manter uma oferta a preços acessíveis aos clientes” – afirma que o sector tem pela frente “um grande exercício nas próximas semanas: vai haver uma loucura em termos de tentativas de subida de preços e uma luta para travar isso”.

“Há muitos impactos que ainda são desconhecidos”

O grupo está preparado para sacrificar parte dos lucros neste processo, garante, certo de que “há muitos impactos que ainda são desconhecidos e que vão impactar diretamente nas famílias portuguesas”. Assim, assume a intenção de “mitigar a inflação e equilibrar o que pode passar ao consumidor e o que vai ter de absorver, mesmo que isso implique alguma revisão nos lucros”.

“Nem tudo pode passar para o consumidor porque estaríamos a empobrece-lo de forma muito rápida” e estas coisas têm sempre “mais impacto nas famílias com mais baixos rendimentos”, assume, antes de admitir que as negociações com a produção “não serão nada fáceis”. Ainda esta quinta-feira foi preciso aumentar o preço do leite à produção porque, se não houver produtores, não há leite para comprar”

A pressão em termos de inflação é tão acentuada na Europa como na Colômbia, onde o óleo também já subiu 40%, precisa.

E quais os produtos que serão mais afetados pela escalada da inflação? No caso dos cereais, a subida já vinha de trás, por razões a que a invasão da Ucrânia e a Rússia é alheia, decorrentes da reposição de stocks da China e da seca na América do Sul. Mas o conflito entre dois dos maiores produtores mundiais de milho e trigo agrava esta tendência de alta de preços. Sob pressão, diz o grupo, estão também massas, pão, óleos, rações, e tudo o que tem a ver com a produção animal, das rações à carne, ao leite e aos ovos.

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