22 fevereiro 2022 16:20
Foto: Getty Images
A subida está relacionada com as tensões geopolíticas entre a Ucrânia e a Rússia, e o futuro próximo das cotações dependerá essencialmente dos desenvolvimentos que existam no conflito
22 fevereiro 2022 16:20
O barril de Brent, negociado em Londres, chegou esta terça-feira aos 99,5 dólares por barril, um aperto motivado pelas crescentes tensões entre a Rússia e a Ucrânia, que pode culminar num corte do abastecimento desta matéria-prima por parte dos russos à Europa.
Os preços do petróleo em Londres atingiram esta terça-feira os 99,50 dólares por barril, o nível mais alto desde setembro de 2014, nota a Reuters. Isto aproxima-o da fasquia dos 100 dólares, uma situação que já era vista como hipótese entre os analistas pelo menos desde o início do ano, e que ficou mais acesa recentemente.
A última vez que o petróleo esteve acima dos 100 dólares foi fevereiro de 2014, precisamente aquando da tomada da província da Crimeia, na Ucrânia, pelos separatistas pró-russos. Mas naquela altura não se assistiu à escalada do preço do barril de crude, aponta o Banco Carregosa. Para já, as cotações do Brent acalmaram e às 16h20 (em Portugal Continental), a matéria-prima estava nos 96,5 dólares.
As subidas estão relacionadas com as tensões geopolíticas entre a Ucrânia e a Rússia. Esta segunda-feira, a Rússia reconheceu formalmente a independência de duas repúblicas no leste da Ucrânia, Donetsk e Lugansk, na região do Donbasse. Na visão do economista sénior do Banco Carregosa, Paulo Rosa, agora existem três cenários possíveis, com implicações diferentes na cotação da matéria-prima.
Se a investida da Rússia em território ucraniano se limitar às duas repúblicas separatistas, “a escalada da cotação do petróleo seria limitada e o preço do ‘ouro negro’ tenderia a estabilizar”, defende, em declarações ao Expresso. No caso de uma escalada no conflito através de uma resposta musculada da NATO e da Ucrânia relativamente à Rússia, “o petróleo tenderá a superar os 100 dólares”. Em último caso, se as pretensões da Rússia forem além das duas repúblicas separatistas e o objetivo das tropas russas seja tomar Kiev, “o petróleo ultrapassa sustentadamente os 100 dólares”, conclui.
Esta diferença nas cotações tem consequências fora dos mercados de capitais. “A pressão sobre a inflação aumentará com o petróleo nos 100 dólares e o crescimento económico dos países dependentes desta matéria-prima energética será penalizado”, avisa Paulo Rosa.
“Se o fornecimento russo de petróleo à Europa for cortado, sendo que está nos 3 milhões de barris por dia, poderemos ver os preços do petróleo a aumentar mais 10 a 15 dólares por barril, colocando o Brent nos 110 dólares”, afirma a Lipow Oil Associates, citada pela CNBC.
O analista da XTB Henrique Tomé concorda que “uma quebra na produção russa teria um impacto significativo no preço da matéria-prima, principalmente nesta altura em que os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) permanecem cautelosos em relação a novos aumentos dos níveis de produção”, disse, em declarações à Lusa, salientando que “a oferta de petróleo continua (artificialmente) limitada pela OPEP e uma redução na oferta por parte da Rússia teria um impacto significativo no preço do petróleo, bem como também no preço do gás natural, sobretudo aquele que é vendido na Europa e uma vez que a procura continua elevada”.
Mas há forças que podem contrabalançar. “A perspetiva do regresso do petróleo iraniano ao mercado, no seio dos acordos nucleares, tem sido deflacionista para a cotação do petróleo e contribuído para a sua queda”, indica Paulo Rosa. Caso se chegue a um entendimento entre os Estados Unidos e o Irão na matéria nuclear, poderão aumentar as exportações de petróleo deste país do Médio Oriente, que ajudarão a equilibrar um pouco o mercado. As “pazes” entre estas duas forças podem devolver ao mercado mais de 1 milhão de barris por dia, indica a Lipow Oil Associates.
A Lipow Oil Associates aponta ainda que o mundo se pode socorrer das reservas da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes Unidos e do Kuwait , contabilizadas em 3,5 milhões a 4 milhões de barris por dia.