11 fevereiro 2022 19:36
Foto: Nuno Botelho
Administração da Caixa Geral de Depósitos apresenta novo plano estratégico que tem de ser aprovado pelo (próximo) ministro das Finanças, em que pretende apostar nos cartões de crédito (e não só de débito)
11 fevereiro 2022 19:36
Para os próximos três anos, a gestão da Caixa Geral de Depósitos tem uma “ambição significativa”, como classificou o seu presidente executivo, Paulo Macedo: “Conseguirmos ter não apenas um banco para os depósitos, mas um banco que consiga servir o cliente na integralidade”.
Na conferência de imprensa da apresentação de resultados, que teve lugar em Lisboa esta sexta-feira, 11 de fevereiro, Paulo Macedo disse que é preciso olhar para o crédito, nomeadamente ao consumo, deixando de se centrar apenas no crédito à habitação. Além disso, também incrementar a aposta nos cartões de crédito, onde a CGD não é líder, ao contrário dos cartões de débito.
“Na parte das pequenas e médias empresas (PME), temos uma ambição significativa de crescer nos negócios. Precisamos de crescer mais na parte do crédito à tesouraria”, continuou.
“Os últimos 10 anos de resultados da Caixa foram negativos e os últimos 20 também. O que vemos de diferente neste plano são oportunidades de gerar um novo ciclo. A CGD inicia um novo ciclo. Vai continuar a ser universal, mas não é um banco que se autoexclua de segmentos de negócio. Teremos um banco ainda mais digital, mas continuará a ser universal”, declarou o CEO aos jornalistas, com um resumo: “Precisamos de fazer muitíssimo melhor”.
Esta nova vida consta do plano estratégico que a administração do banco apresentou ao Governo, depois de, no ano passado, ter recebido luz verde da Comissão Europeia relativamente à conclusão do plano estratégico negociado em 2017 e imposto pela capitalização de 3,9 mil milhões de euros recebida naquele ano. Falta receber, agora, a resposta do Ministério das Finanças.
Leão nada disse, Centeno sim
Na conferência de imprensa, tanto Paulo Macedo como Maria João Carioca, responsável do pelouro financeiro, frisaram por várias vezes a conclusão, em 2021, do plano estratégico que foi imposto pela capitalização de 3,9 mil milhões de euros em 2017. Tema sobre o qual João Leão, ministro das Finanças, não deu uma conferência de imprensa – falando apenas através de comunicado.
“Mal-estar aqui gerado? Não houve nenhum”, respondeu Macedo, quando questionado sobre se tinha ficado insatisfeito por Leão não ter dado uma conferência de imprensa para marcar o fim do plano. Mas quis dizer mais, mas apontou para o antecessor, Mário Centeno: “já o senhor governador do Banco de Portugal referiu-se, mais do que uma vez, ao sucesso”.

Paulo Macedo na conferência de apresentação de resultados. Autor: Nuno Botelho
Vendas no estrangeiro à espera do Governo
Para os próximos anos, continua a ambição de alienar operações no estrangeiro, nomeadamente no Brasil e em Cabo Verde, mas que se atrasou com a queda do Governo. “As nossas recomendações foram feitas ao Governo, o Governo há-de pronunciar-se”, disse Macedo. Ou seja, a administração da Caixa já disse qual a posição face aos processos (se há boas ofertas ou se é para abortar), mas tudo depende agora do Executivo – que está agora em processo de formação da nova equipa ministerial.
Em relação a Cabo Verde, a participação no Banco Comercial do Atlântico, que estava para venda, deixou de constar dessa rubrica nos resultados, mas o presidente executivo não quis dar grandes pormenores. Mas a verdade é que, agora, Paulo Macedo disse que continua a ser intenção do banco vender a participação num dos bancos em Cabo Verde (BCA ou Interatlântico), ou seja, abre a porta a que o banco a vender possa ser o Interatlântico e não o BCA. “Vai depender do mercado, da procura, das autoridades de Cabo Verde”.
Tudo dependerá também do (próximo) ministro das Finanças, com quem a CGD irá negociar também qual o montante dos lucros de 583 milhões de euros (442 milhões, no resultado líquido individual) que vai ser distribuído em dividendos. No ano passado, deu 300 milhões em remuneração acionista extraordinária.
CGD arrenda sede, mas pode até sair de lá
Com o próximo Governo, mais propriamente com o primeiro-ministro, Paulo Macedo, o que também terá de ser negociado é o arrendamento de espaços na sede da Caixa Geral de Depósitos, na Avenida João XXI em Lisboa. “É uma vontade da Caixa clara”.
“Como o senhor primeiro-ministro disse, houve conversas sobre interesse. Sobre timings, está tudo em aberto. Houve conversas com outras entidades, quer com grandes empresas portuguesas, quer com reguladores”, anunciou Paulo Macedo na conferência.
Aliás, aos jornalistas, o CEO do banco admitiu que também pode mudar de instalações. Mas não para já: “a Caixa sair deste edifício nunca acontecerá antes de 2026 ou 2027”. Nessa altura, já Paulo Macedo estará fora da gestão do banco público.
Maioria absoluta “positiva”
Quanto à maioria absoluta conseguida pelo Partido Socialista nas legislativas, sobre a qual os banqueiros têm vindo a mostrar satisfação pela via da estabilidade, Paulo Macedo alinhou na mesma ideia.
“Achamos positivo uma maioria absoluta que claramente possa tomar decisões, que possa continuar a tomar decisões sobre distribuição de riqueza, mas também que possa tomar mais medidas para a criação de riqueza. É necessário fazer reformas, e podem mais facilmente ser feitas em maioria absoluta”.
Paulo Macedo
Trabalhadores não são privilegiados, mas fazem greve
Na conferência, o líder do banco do Estado defendeu ainda recusar a ideia de que os trabalhadores da Caixa sejam privilegiados, respondendo à comissão de trabalhadores que argumentou que a gestão quer “fabricar” uma imagem de que são privilegiados no sector.
Contudo, afirmou Paulo Macedo, “o que é preciso dizer é que um banco com estas remunerações não justifica certo tipo de ações como a greve”, atacou – os funcionários fizeram greve no ano passado em discordância com os aumentos salariais propostos pela administração.

Maria João Carioca na apresentação de resultados da CGD Autor: Nuno Botelho
Fim de moratórias com “impacto contido”
No ano passado terminaram, também, as moratórias que foram criadas por conta da pandemia, mas o banco considera que houve um “impacto contido”. “Temos em negociação de 480 milhões de euros para reestruturação”, explicou Maria João Carioca: 330 milhões para famílias e 150 milhões para empresas.
A CFO do banco considera que não há motivos para grandes preocupações, apesar de 9,9% dos créditos que estiveram sob moratórias estarem em incumprimento, classificados no mais arriscado nível (stage 3). Isto porque a nível de toda a carteira, o stage 3 desceu e representa 4,1% dos créditos.