Catalã BNZ “proclama” a independência (na energia). E avança com a sua primeira central solar em Portugal
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Nascida pela mão da Glennmont Partners, a BNZ será um “produtor independente de eletricidade” com parques fotovoltaicos em Portugal, Espanha e Itália. Ao Expresso um dos seus fundadores, Jordi Francesch, explica o que tem em mãos a BNZ no mercado português
Há muito que no setor energético a sigla IPP é conhecida de quem se move no meio. Independent Power Producer, ou produtor independente de eletricidade, designa as empresas dedicadas à geração de energia não integradas nos grandes grupos elétricos já presentes no mercado. E é justamente como produtor independente que a recém-criada BNZ, com a sua base em Barcelona, se quer posicionar. Vai construir uma carteira de centrais solares no Sul da Europa. E Portugal faz parte do pacote.
Jordi Francesch faz parte da ainda curta equipa da BNZ, empresa que, segundo o gestor, “trabalhará de forma autónoma da Glennmont Partners”, a gestora de fundos que Francesch também integra, igualmente com ativos de energias renováveis. Mas qual é então o propósito da BNZ? Segundo o administrador da empresa, a ideia é desenvolver, construir e explorar uma carteira de centrais solares no Sul da Europa, que possa, uns anos mais tarde, ser alienada em bloco.
Em Portugal a BNZ tem em mãos uma carteira de projetos de 400 megawatts (MW) de centrais solares que obtiveram o seu licenciamento ainda antes dos leilões que o Governo português realizou em 2019 e 2020. O primeiro desses projetos é uma central de 50 MW que será instalada na região Norte do país. “Queremos começar a construir no terceiro trimestre deste ano e concluí-la no segundo trimestre de 2023”, explicou ao Expresso Jordi Francesch.
Os 400 MW em desenvolvimento em Portugal, que deverão requerer investimentos superiores a 220 milhões de euros, fazem parte de uma carteira global de 1,5 gigawatts (GW) que a BNZ tem em mãos no Sul da Europa (nomeadamente em Espanha e Itália, além do mercado português). No que respeita a Portugal, Jordi Francesch indicou ao Expresso que os projetos vão dos 40 aos 95 MW de capacidade e concentram-se nas regiões Centro e Norte do país.
O objetivo da BNZ é ter todos os seus projetos em Portugal construídos até 2024. De acordo com Jordi Francesch, 35% dos projetos para o mercado português já têm aprovação da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que é uma das etapas cruciais para as centrais solares de larga escala poderem avançar para a fase de construção.
Todas as centrais fotovoltaicas que a empresa está a desenvolver em território nacional avançam no regime geral de remuneração, isto é, sem tarifas garantidas de venda da eletricidade à rede, mas Jordi Francesch indica que um dos objetivos da BNZ é procurar potenciais tomadores da produção, interessados em firmar contratos de aquisição de energia (CAE ou, em inglês, PPA, de power purchase agreements), que garantam o escoamento da eletricidade solar no longo prazo.
A estratégia da BNZ passa por tentar “agregar PPA para Espanha e Portugal”, tratando o mercado italiano de forma separada.
Jordi Francesch admite que a pandemia e a crise na cadeia logística global penalizaram o andamento de alguns projetos. “Tivemos algumas questões logísticas num projeto em Itália, mas as coisas estão a normalizar”, assegura o gestor. “Este primeiro trimestre de 2022 está muito melhor. O custo do frete está a descer e o preço dos equipamentos também”, observa.
Tendo o suporte de investidores institucionais, oriundos da União Europeia, Estados Unidos da América, Japão, Coreia do Sul, entre outras geografias, a BNZ irá focar-se na construção das centrais fotovoltaicas que tem em carteira, mas está também a analisar a possibilidade de avançar com investimentos em baterias, para ter um máximo de capacidade de armazenamento de 200 MW junto a algumas das centrais solares.
A estrutura da BNZ continuará para já centrada em Barcelona, a que se soma um escritório em Madrid. Em Portugal a empresa pretende “encontrar contrapartes industriais que sintam a necessidade de estabelecer um contrato de longo prazo”.
No que respeita ao mercado dos PPA na Europa, frisa o gestor, “empresas como a Amazon e a Google estiveram muito ativas nos últimos cinco anos”. Hoje “muitas empresas químicas” vão dando igualmente sinais de interesse por estes contratos de aquisição de energia de longo prazo. “O apetite do mercado por estes contratos é enorme”, acrescenta Jordi Francesch. Conseguir convencer a indústria portuguesa a firmar estes PPA, com pouca ou nenhuma tradição no mercado nacional, é o próximo grande desafio.