Economia

CUF vai abrir hospital em Leiria onde investe 50 milhões de euros

Maqueta do futuro Hospital CUF Leiria
Maqueta do futuro Hospital CUF Leiria
D.R.

Grupo hospitalar privado prossegue plano de expansão nacional e chega a mais um município. Para trás fica um período de dois anos marcado pelas perdas com a pandemia de covid 19 e pelo fim da PPP no Hospital de Braga, que tirou escala à CUF

Leiria é a nova paragem do grupo CUF, que mantém o plano de expansão da sua rede de unidades privadas de cuidados de saúde, apesar do desaire financeiro em 2020. A pandemia de Covid-19 causou um rombo importante nas contas da empresa do universo José de Mello, que registou prejuízos, uma situação invulgar numa atividade que começou há 76 anos, com o Hospital Infante Santo, em Lisboa. Os números dos primeiros seis meses do ano são animadores, mas a pandemia confirmou que o tabuleiro do jogo nem sempre está debaixo do nosso controlo.

O investimento totalizará 50 milhões de euros, de acordo com o que foi apresentado pela CUF, esta quarta-feira, no Teatro Miguel Franco, em Leiria. A entrada dos Mello em mais um distrito vai começar por se materializar numa clínica, já em 2022, que dará lugar a um hospital, três anos depois. “O futuro Hospital CUF Leiria vai criar mais de 300 postos de trabalho diretos e indiretos”, indica a empresa em comunicado.

O projeto será feito em parceria com o grupo local Mekkin, do sector da construção, e pretende dar resposta a mais de meio milhão de habitantes da região Centro, isto quando a unidade hospitalar estiver concluída e ocupar cerca de 12 mil metros quadrados na Urbanização da Quinta da Malta. Para o próximo ano, no mesmo local, entrará em funcionamento uma clínica CUF com consultas e exames.

Depois, em 2025, segundo o comunicado da empresa de saúde privada, a população daquela área de influência terá à disposição “equipamento e tecnologia de diagnóstico e tratamento de última geração”, numa unidade hospitalar com mais de 20 especialidades médicas e competência para dar resposta “até aos casos mais complexos”.

A capacidade do novo hospital inclui mais de 30 camas de internamento, uma unidade de cuidados intermédios, três salas de bloco operatório e 34 gabinetes de consulta. Estão igualmente previstos serviços de imagiologia, atendimento médico não programado para adultos e pediátrico, hospital de dia médico e oncológico, entre outras valências.

Investimento em saúde nunca acaba

Recorde-se que, com a abertura do Hospital CUF Tejo (substituiu o histórico Infante Santo), no final de setembro do ano passado, o prestador privado concluiu uma ronda de investimentos de 350 milhões de euros, iniciada em 2015, que incluiu também a expansão do Hospital CUF Descobertas e da unidade de Torres Vedras, bem como a construção de uma unidade hospitalar em Sintra.

Nessa altura, Salvador de Mello, então presidente executivo da CUF (hoje presidente executivo do grupo José de Mello), sinalizava ao Expresso que não gostava da expressão “fim de um ciclo de investimentos” porque “estamos sempre a investir para chegarmos a mais portugueses”.

Foram vinte anos ao leme da José de Mello Saúde, hoje CUF, e a capilaridade da rede faz parte de uma agenda há muito traçada. Sobretudo depois das duas (três se contarmos com o Hospital Fernando da Fonseca, conhecido por Amadora-Sintra) experiências de parceria público-privada (PPP) hospitalar (unidades de Braga e de Vila Franca de Xira) terem terminado sem o grupo privado ter vontade de voltar a embarcar num desafio semelhante.

O foco é, assim, a atividade privada e é nesse sentido que vão as palavras do presidente da comissão executiva da CUF, desde o início do ano, Rui Diniz, decalcadas no comunicado de imprensa divulgado esta quarta-feira: “o Hospital CUF Leiria é a materialização do projeto de expansão da rede CUF. Queremos continuar a chegar a cada vez mais territórios, a chegar a mais pontos do país, consolidando a nossa rede de cuidados de saúde a nível nacional, para continuar a responder às necessidades da população e do país”.

O grupo privado de cuidados de saúde conta com 19 unidades de saúde, em 13 municípios, e mais de 7 mil colaboradores, de norte a sul do país.

Fim da PPP e pandemia. Dupla arrasadora

Em plena pandemia, no ano 2020 as unidades CUF realizaram dois milhões de consultas, 860 mil exames, mais de 320 mil urgências e 55 mil cirurgias.

Nesse mesmo ano, o retrato financeiro da CUF não foi bonito. Mas a Covid-19 não carrega com todas as culpas. O fim da PPP de Braga (um contrato que valeu cerca de 160 milhões de euros em 2018, o último exercício completo) teve um efeito negativo enorme no volume de negócios da empresa e no resultado líquido.

Assim, no ano passado, os rendimentos operacionais consolidados da CUF situaram-se nos 533,5 milhões de euros, menos 24% face ao período homólogo. Excluindo a atividade da PPP de Braga e os seus efeitos extraordinários em 2019 (o contrato terminou a 31 de agosto desse ano), a diminuição homóloga foi de 6,8%, refletindo o impacto da pandemia.

Por arrasto, o grupo hospitalar registou prejuízos de 23,8 milhões de euros, num resultado líquido consolidado inferior em 52,8 milhões de euros ao valor obtido em 2019.

Por sua vez, no primeiro semestre de 2021, os resultados da CUF são animadores. Há um regresso aos lucros, de 9,2 milhões de euros, mais 29,2 milhões de euros face a igual período de 2020. Por sua vez, os rendimentos operacionais consolidados atingiram os 287,4 milhões de euros, mais 45,1% e de 16,8%, por comparação com os primeiros seis meses de 2020 e de 2019, respetivamente.

A dívida líquida financeira somava 528,1 milhões de euros, no final de junho, mais 18,6 milhões do que a 31 de dezembro de 2020. Porém, explica a empresa no relatório e contas disponível no seu site (não auditado) “o rácio de dívida financeira líquida sobre o EBITDA [Lucros antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização] reduziu drasticamente de 11,49x para 6,63x, através da melhoria significativa do (próprio) EBITDA do primeiro semestre de 2021”.

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