Economia

Acabou a produção de eletricidade a partir do carvão em Portugal

No Pego, em Abrantes, estão duas grandes centrais, uma a gás e outra a carvão. Esta última encerrou no final de novembro.
No Pego, em Abrantes, estão duas grandes centrais, uma a gás e outra a carvão. Esta última encerrou no final de novembro.
TIAGO MIRANDA

É um momento histórico no sistema elétrico português: a central a carvão do Pego, em Abrantes, produziu eletricidade pela última vez na manhã de sexta-feira, e, sem mais carvão para queimar, fecha um capítulo na história energética do país

Acabou a produção de eletricidade a partir do carvão em Portugal

Miguel Prado

Editor de Economia

A central termoelétrica da Tejo Energia, no Pego, já não tem mais carvão para queimar. Parou de produzir na manhã de sexta-feira, naquele que é um marco na história do sistema elétrico nacional, que abandona o carvão como forma de gerar energia elétrica.

Segundo dados da REN - Redes Energéticas Nacionais, a central a carvão do Pego ainda funcionou na madrugada de sexta-feira, mas já a baixa carga, com uma potência de 151 megawatts (MW) às 6h15 da manhã. No balanço da REN, às 7h15 de sexta-feira a central do Pego estava já a zero.

A central, que tem uma capacidade de 628 MW, distribuída por dois grupos geradores, tem registados dois avisos de indisponibilidade, datados de 18 de novembro, e relativos a esses dois grupos geradores, e que se estendem até 30 de novembro, o último dia do contrato da central.

Mas de acordo com o site Médio Tejo, as equipas de trabalhadores da central do Pego já foram informadas do esgotamento do carvão na central, indicação que também terá sido transmitida à REN, de acordo com informações recolhidas pelo Expresso.

A central a carvão do Pego operava desde 1993, ao abrigo de um contrato de aquisição de energia, que lhe garantia, até 2021, a venda de toda a sua eletricidade à rede com receitas pré-definidas (anualmente custava ao sistema elétrico nacional, ou seja, aos consumidores, cerca de 100 milhões de euros).

Com o fim da produção na central da Tejo Energia, e depois da desativação, em janeiro deste ano, da central termoelétrica da EDP em Sines, Portugal deixa de ter qualquer produção de eletricidade a partir da queima do carvão.

O sistema elétrico nacional fica assim apenas dependente, para efeitos de segurança de abastecimento e resposta à variabilidade da produção de origem renovável, das centrais de ciclo combinado alimentadas a gás natural (que emitem cerca de metade de dióxido de carbono por cada megawatt hora de eletricidade face às emissões das centrais a carvão).

Uma dessas centrais de ciclo combinado a gás está igualmente situada no Pego.

O fecho da central a carvão do Pego deixa centena e meia de trabalhadores com um futuro incerto.

O Governo lançou já um concurso para a reconversão desta termoelétrica, disponibilizando a capacidade de injeção de energia que hoje pertence à Tejo Energia a novos produtores, sendo requisito que a futura exploração desse ponto de ligação à rede elétrica seja feita com recurso a fontes renováveis.

As propostas para a reconversão serão avaliadas também em função das garantias de emprego que apresentem para os atuais trabalhadores da central a carvão. Entre as empresas que já manifestaram vontade de apresentar propostas para a reconversão estão a Trustenergy (acionista maioritária da Tejo Energia) e a Endesa (acionista minoritária).

As duas empresas entraram em conflito quanto ao futuro da central do Pego, com a Trustenergy a defender a reconversão para a queima de biomassa e a Endesa a optar por um projeto de energia solar e hidrogénio verde.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mprado@expresso.impresa.pt

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