Economia

Fed vai cortar estímulos. Mercados não se assustam

Fed vai cortar estímulos. Mercados não se assustam
Foto Getty

O banco central sinaliza que vai travar as compras de ativos em meados de 2022 e que os juros poderão subir no ano seguinte

As compras de dívida pelo banco central norte-americano poderão começar a emagrecer “em breve” e a taxa diretora, que está no mínimo histórico (entre 0% e 0,25%), começará a subir, o mais tardar, em 2023. Estes sinais foram dados pela decisão unânime do comité de política monetária norte-americano, que se reuniu esta semana em Washington, e pelas projeções das previsões dos seus membros publicadas na quarta-feira. A Reserva Federal (Fed) deu finalmente um sinal de que o processo de “normalização” da política monetária expansionista estará para breve, depois de, em apenas 18 meses, ter duplicado o valor dos seus ativos (ver gráfico).

No entanto, a redução de compras mensais — que está em 120 mil milhões de dólares (€102 mil milhões) — será feita com “moderação”, assegura-se no comunicado oficial, e o pico da carteira de ativos da Fed só deverá ser atingido em meados do próximo ano, admitiu em conferência de imprensa Jerome Powell, o presidente da Fed. Até lá, continuará a engordar, mesmo que a um ritmo menor. Powell não garantiu também que o início do processo de redução de compras seja já anunciado na próxima reunião, a 2 e 3 de novembro, apesar de a maioria dos analistas o esperar. “Poderemos avançar ou não”, disse, deixando a porta aberta para todas as eventualidades. O primeiro tiro de subida da taxa diretora também não reúne ainda consenso. Uma primeira subida já em 2022 divide ao meio o comité. Nove a favor e nove contra. As novas projeções só serão conhecidas na reunião em dezembro, mas Powell admitiu que por ora a esmagadora maioria do comité espera que a subida se inicie em 2023. O mercado gostou do que leu e ouviu. O mercado de ações em Nova Iorque registou ganhos e os juros dos títulos a 10 anos mantiveram-se em torno de 1,3%.

Normalização ‘suave’

Apesar de estar garantido um processo de ‘normalização’, tudo indica que ele será feito de um modo ‘suave’, ao estilo “prudente” de Powell, que este outono deverá saber se o Presidente, Joe Biden, o confirma para um segundo mandato a partir de fevereiro do próximo ano, com a bênção de Janet Yellen, a secretária do Tesouro, que o antecedeu na chefia da Fed até Donald Trump decidir não a confirmar para um segundo mandato.

A pressão da subida da inflação, bem acima do objetivo de 2% da política monetária, faz-se sentir no ‘sentimento’ dos banqueiros centrais norte-americanos no sentido de começar a reduzir os estímulos. Nas novas projeções publicadas esta semana pela Fed a inflação foi revista em alta para o conjunto do ano: de 3,4% nas anteriores previsões avançadas em junho para 4,2% nas atuais. Mas este nível alto será “transitório”, reafirma a Fed, prevendo, nos anos seguintes, uma estabilização ligeiramente acima de 2%, o objetivo da política monetária, indicando que não há risco de inflação baixa exigindo estímulos para a espevitar. A evolução do mercado laboral também vai no sentido do objetivo da Fed. A taxa de desemprego, apesar de poder ser mais elevada do que o previsto este ano, deverá descer em direção ao pleno emprego (3,5% a partir de 2023).

Resta o andamento da maior economia do mundo como teste para a Fed. Os banqueiros centrais arrefeceram o superotimismo em relação a junho, quando previam um crescimento de 7% — uma taxa quase chinesa ou indiana — este ano. Agora apontam para 5,9%, um crescimento assinalável que não se registou nos últimos 20 anos, e um abrandamento para 3,8% no próximo ano, um ritmo que não se regista desde 2004. Apesar do otimismo, a Fed alerta que “os riscos para a economia permanecem”.

A conjuntura neste final de setembro em que se move a política monetária da Fed está marcada ainda por incerteza no andamento da pandemia e até pelo risco de um fecho de muitos serviços federais (shutdown) e de um incumprimento de dívida federal se a decisão da Câmara de Representantes em adiar a suspensão do teto de endividamento até final de 2022 não passar no Senado.

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